eduardo escorel*
O “baita filme”, segundo meu amigo Nilton, recebeu nove indicações ao Oscar, inclusive a de melhor filme. Com o lançamento marcado para a próxima sexta-feira, o distribuidor brasileiro deve estar em festa.
Desde maio de 2009, seis mil cópias em DVD estão disponíveis para locação no Brasil. Estima-se que possam ter rendido entre R$ 270 mil e R$ 450 mil ao distribuidor e R$ 600 mil às locadoras. Cifras pouco expressivas. O lançamento em cinema só acontece agora, em decorrência dos prêmios recebidos e da expectativa, agora confirmada, de que viesse a concorrer ao Oscar. Fatores que permitiram acesso do distribuidor a um internegativo do filme, sem o qual não poderia ser lançado. Fica patente a subordinação do mercado exibidor brasileiro ao sucesso no exterior. A qualidade do filme é uma consideração secundária.
A jornalista americana Alissa Quart indica como novidade a diluição que há em “Guerra ao terror” da fronteira rígida entre ficção e o que não é ficcional. Só mesmo numa sociedade tão autocentrada quanto a dos Estados Unidos, é possível ignorar que esse limite entre ficção e documentário vem sendo rompido, pelo menos desde "Eu, um negro", de Jean Rouch, feito em 1958; "Bandido Giuliano", de Francesco Rosi, em 1962; "Batalha de Argel", de Gillo Pontecorvo, e "Jôgo de guerra", de Peter Watkins, ambos em 1965.
O ascendente direto do sargento William James, personagem principal de “Guerra ao terror”, é identificado pela crítica americana Amy Taubin, na “Filmcomment”, como sendo Ethan, “ícone da masculinidade” de "Rastros de ódio", dirigido por John Ford, em 1956. Segundo Amy Taubin, “é em parte por isso que o último plano de Guerra ao terror, um eco de Ethan dando as costas para lar e família, e cavalgando sozinho deserto a dentro, parte o coração.”
No filme, um pequeno robô, usado para detectar e transportar bombas, parece um brinquedo sofisticado, por oposição às armadilhas explosivas, emaranhados mortais escondidos no lixo, largados à beira do caminho ou na mala de um carro. Mas a alta tecnologia revela sua precariedade, e o preço da contradição é a perda de uma vida.
No próximo número da piauí, comento “Guerra ao terror”.
Eduardo Escorel é cineasta e ensaísta, dirigiu “O Tempo e o Lugar”, escreve sobre cinema para a Revista Piauí. O texto foi retirado no dia 04/02/2010 do blog questões cinematográficas:
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