O vale do Mucuri é uma importante região para a cultura popular negra e quilombola em Minas Gerais, segundo o Centro de Documentação Elóy Ferreira da Silva – CEDEFES (2008, apud SILVA, 2010), [i] a maior concentração de comunidades quilombolas se dá no Norte de Minas e nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, somando cerca de 277 ou 64% do total. Para Domingues (2011, p.17): [ii]
Já no que concerne à noção de “cultura popular negra”, trata-se das experiências e tradições específicas dos negros, transplantadas da África e reinventadas pelo novo repertório cultural (de práticas, artefatos e símbolos) dos afrodescendentes espargidos pelo mundo, o que encerra a contribuição da diáspora, a estética negra e as contranarrativas. Longe dos essencialismos, essa cultura é ambivalente, impura e híbrida, devendo ser inquirida conforme a sua plasticidade, diversidade e multiplicidade. Ela é luta e resistência, mas também invenção e reinvenção, apropriação e expropriação nas fronteiras da cultura popular.
O batuque e o reisado são algumas das expressões fundamentais ao processo de empoderamento e construção da identidade quilombola que marcam profundamente as comunidades quilombolas. Segundo Silva (2010), no que se refere ao processo de construção de identidades quilombolas no Vale do Mucuri:
O processo de construção da identidade remanescente de quilombo nas comunidades de São Julião, Cama Alta e Córrego Novo ocorre num tempo e espaço próprios. No entanto, percebe-se que as experiências de uma se cruzam com as das outras, em especial as da São Julião e Cama Alta, próximas geograficamente e, ambas, referenciadas pelas experiências da comunidade Marques, localizada no município de Carlos Chagas/MG, atualmente com pleito de titulação de suas terras em trâmite, requerido após se ver ameaçada pela construção da hidrelétrica PCH-Mucuri.
[...]
Segundo “Zorra”, e seu irmão “Rangelito”, as histórias contadas pela “Mãe Augusta” acerca da situação de discriminação a qual foram submetidos seus bisavós e avôs ganham significado, embora apenas entre alguns membros da São Julião, ao indicar serem eles “descendentes de negros” ou de “ex-escravos”. Rememorar essas histórias, neste contexto, parece significar para estes sujeitos a busca por elementos de identidade que permitam acionar a construção como remanescente de quilombo.
Atualmente o Mucuri passa por um processo de valorização e consequente promoção de tradições e manifestações, seja nas comunidades de Ouro Verde de Minas e Vaz Pereira (São Julião), mas é muito o que ser feito:
Embora a musicalidade e a religiosidade ainda sejam muito fortes e compõem um dos elementos caracterizadores das comunidades em seu diferencial étnico quilombola, nas últimas décadas, muitas vêm perdendo essa forte herança cultural. Segundo Miguelina, moradora do quilombo de Cama Alta, em Teófilo Otoni, algumas expressões como o batuque de caboclo e a roda de encontro não são mais realizadas pela sua comunidade. Durante essas festas, eram tocados cavaquinho, sanfona, pandeiro, caixa de percussão e pratos com talheres. Esse prato e faca, expressão musical muito antiga, ainda hoje é tocado na região do Recôncavo Baiano (CEDEFES).[iii]
Neste dia da Consciência Negra a Associação Mucury Cultural festeja a contribuição afrodescendente para a cultura brasileira e especialmente este caldo mucuriano, estas são algumas imagens da Comunidade de São Julião e da festa realizada sempre no dia 20 de novembro pelas comunidades quilombolas do município de Ouro Verde de Minas, e agora o batuque lá está a todo vapor.
[i] SILVA, Eva Aparecida da. Ser Remanescente de Quilombo em Comunidades Do Vale Do Mucuri: Reflexões Preliminares de Pesquisa. Revista IDENTIDADE!, São Leopoldo, v.15, n. 1, jan./jun. 2010. Disponível em <http://periodicos.est.edu.br/index.php/identidade/article/viewFile/21/36>. Acesso em 14 jul. 2013.
[ii] DOMINGUES, Petrônio. Cultura popular: as construções de um conceito na produção historiográfica. História [online]. 2011, vol.30, n.2, pp. 401-419. ISSN 1980-4369. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/his/v30n2/a19v30n2.pdf>. Acesso em 14 jul.2013.
IBGE. Censo 2010.
[iii] QUILOMBOS de Minas Gerais no século XXI. Portal CEDEFES, Belo Horizonte, s/d. Disponível em <http://www.cedefes.org.br/index.php?p=colunistas_detalhe&id_pro=2>. Acesso em 14 jul. 2013.
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