retirado do blog cultura e pensamento em 27/04/2010:
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por: culturaepensamento
Seção: Destaque
Foto/C&P
“Quasi todos os lutos conjugados/ Como uma associação de monopólio/Lançavam pinceladas pretas de óleo/
Na architectura archaica dos sobrados.”
Por Paulo Franchetti*
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) nasceu na Paraíba e faleceu em Minas Gerais. Formado em Direito pela Faculdade do Recife, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde seguiu a carreira de professor, e, algum tempo depois, para Leopoldina, em Minas Gerais, onde faleceu aos trinta anos de idade.
Um dos mais originais poetas brasileiros, é também um dos mais populares, sendo seu único livro de poemas, acrescido de textos que não figuraram na primeira edição, um dos poucos sucessos de público e de crítica no Brasil.
Sua poesia lembra, pelo gosto do prosaísmo e da notação objetiva, a do poeta português Cesário Verde. Já do ponto de vista da linguagem e do tratamento dos temas, é uma continuação da poesia científica do romantismo recifense, exacerbada pela herança da linhagem realista brasileira, cuja leitura de Baudelaire enfatizou o seu comprazimento no horrível e no repulsivo.
Anatol Rosenfeld, num estudo que se destaca na bibliografia do poeta, sublinha o ar de família que a poesia de Augusto mantém com a dos seus contemporâneos alemães, os expressionistas Georg Trakl, Georg Heym e, principalmente, Gottfried Benn. Acentua especialmente, embora descartando desde logo a possibilidade de que o brasileiro conhecesse a obra do alemão, a semelhança entre a poesia do Eu e a do volume de versos de Benn, publicado no mesmo ano de 1912, Morgue. O título desse livro, na seqüência do ensaio, dá ensejo à caracterização precisa de todo esse veio poético, do qual participaria Augusto dos Anjos – por mera sincronia e origem comum em Baudelaire e no cientificismo do século, e não de derivação – como “poesia de necrotério”.
*Paulo Franchetti é professor titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp.
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