Por Mônica Herculano
Cultura é negócio? Deve ser responsabilidade apenas do Poder Público? Devemos abolir a participação das empresas no desenvolvimento da nossa identidade cultural?
Essas questões sempre estiveram presentes nos debates sobre o setor e parecem entrar em uma discussão ainda mais acalorada neste momento de reivindicações por direitos e ideias como há décadas não se via.
Refletir sobre o histórico brasileiro para analisar o ponto em que chegamos na gestão das nossas políticas culturais, tanto no setor público quanto no privado, faz-se fundamental. Bem como trazer propostas concretas não apenas para um fim, mas também para os processos, para como chegar nos resultados esperados.
Do lado da gestão pública, segundo André Sturm, diretor executivo do MIS (Museu da Imagem e do Som – São Paulo) e presidente do programa Cinema do Brasil, um dos principais desafios hoje é conseguir manter as atividades com dinamismo. “Muitas vezes os equipamentos recebem recursos para custeio mas não para programação, restauro, enfim, as atividades fim”, explica.
Outro desafio é aliar qualidade e alcance. “Ou seja, atingir a população, formar público, mas não com o que já é consumido. Isso não quer dizer programação elitista, mas ampliar o conhecimento e a circulação da produção cultural.”
Do lado empresarial, é preciso pensar em patrocínios com uma política cultural planejada, preferencialmente de longo prazo – construída a partir de sua visão, missão, valores, atributos desejados, etc -, afirma Marcos Barreto, diretor executivo do Instituto Pensarte, que atuou na criação de políticas culturais de empresas como Telemig Celular, Amazônia Celular e Vivo durante 13 anos. “É um erro não entender como as dinâmicas culturais se dão, como os resultados são construídos – tanto sob o ponto de vista do público beneficiado quando sob o da construção da imagem da empresa –, quais são perfis e comportamentos dos agentes atuantes nesse processo.”
Para ele, é estranho, apesar de muito comum, empresas marcarem suas atuações comerciais por um alto grau de profissionalismo e pela execução de planejamentos e estratégias altamente sólidos em todos as suas ações mas demonstrarem um “amadorismo” e descuidos altamente contrastantes com sua própria postura empresarial quando o assunto é institucional. “É um grande erro esperar resultados comerciais por meio de ações que poderiam ser vistas como meios de construção de imagem e posicionamento empresarial”, completa.
As instituições públicas, de maneira geral, também são muito criticadas sobre a forma como conduzem a gestão de seus equipamentos culturais. Para Sturm, a sociedade pode estar mais presente e participar das decisões que definem os rumos dessa gestão. “Hoje é muito fácil manifestar sua opinião através de diversos mecanismos”, afirma.
Barreto acredita que existe uma demanda por parcerias, mais do que patrocínio a uma ação específica, também do lado das empresas. “Há demanda por um parceiro que não enxergue a empresa ou como uma entidade que tem obrigações de repassar recursos já que está, por exemplo, utilizando incentivos ficais, ou mesmo que atua em um ‘outro mundo’ (o dos negócios), desconectado do ‘mundo da cultura’ ou algo assim.”
Ele diz que é importante ambas as partes entenderem que, embora sejam representantes de universos diferentes, todos dialogam com a mesma sociedade, e que as pessoas não são só consumidoras de produtos ou só beneficiárias de atividades culturais. “As pessoas são as duas coisas e quanto mais saudável for a sociedade em que vivemos, melhor para os negócios e para a produção e acesso às atividades culturais”, defende, atribuindo o distanciamento ao fato das pessoas, na maioria das vezes, “se fecharem em seus mundos e nos inúmeros problemas que os envolvem” e não se abrirem à percepção das possibilidades de somas e parcerias, numa relação ganha-ganha que pode vir de todos os lados.
Retirado do Cultura e Mercado em 20/08/13 do endereço:
http://www.culturaemercado.com.br/gestao/politicas-culturais-publicas-e-privadas/
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