Retirado do Cultura e Mercado em 18/10/12 do endereço:
Por Raul Perez
Inserir pessoas, elementos e processos do mundo da arte e da cultura na dinâmica de empresas e organizações, buscando auxiliar no desenvolvimento da criatividade e de novas soluções. Resumidamente, este é o trabalho do Conexões Improváveis, programa europeu dirigido por Roberto Gómez de la Iglesia.
Trabalhando em um cenário de incertezas – como é o da Europa neste momento -, o espanhol dedica-se a promover o intercâmbio para fomentar transformações baseadas na responsabilidade social e na inovação.
Em entrevista ao Cemec – que recebe o especialista nos próximos dias 27 e 28 de outubro, para o curso Inovação Cultural e Cultura da Inovação– Roberto falou sobre o trabalho de “hibridizar” diferentes áreas de conhecimento e como uma transformação nos modelos organizacionais e valores do mundo corporativo é necessária. Além disso, ele analisa o momento turbulento da Europa, que está mais aberta à importância dos setores cultural e criativo para o desenvolvimento econômico e social, mas com investimentos e políticas frágeis nessas áreas. “A situação é complexa e os gestores culturais estão perdidos em meio a um nevoeiro”, declara.
Raul Perez - Você utiliza o conceito de hibridização nas relações entre Arte, Cultura e Empresa. O que isso significa?
Roberto Gómez de la Iglesia - Hibridizar significa combinar visões, conhecimentos, sentimentos, perfis diferentes, com o objetivo de buscar novos resultados, novos caminhos, novos métodos. Hibridizar, mesclar, interligar… fazer da diversidade um fator de impulso da criatividade e da inovação. No Conexões Improváveis, impulsionamos a hibridização entre arte e empresa para promover transformações organizativas e uma inovação socialmente responsável.
RP - Que grandes fatos nos fizeram chegar a esse “entorno turbulento” que você descreve?
RGI - Tudo muda em grande velocidade. Mudam as tecnologias, mudam os valores, mudam as instituições de referência. Hoje, a única constante é permanente transformação. E a incerteza. Isso nos obriga a trabalhar com novas perspectivas, novas formas organizativas, com novos modelos e valores. Temos que nos transformar em gestores de um equilíbrio instável em meio ao caos.
RP - Você considera que os produtores e gestores culturais estejam perdidos em meio a esse caos?
RGI - Realmente, os gestores culturais, pelo menos na Europa, estão vivendo um momento de confusão e desassossego. Até agora, nunca se havia insistido publicamente na importância da cultura e da criatividade para construir um novo futuro. Contudo, a situação das organizações dos setores cultural e criativo – majoritariamente microempresas ou pequenas organizações sociais – é cada vez mais precária. Vivemos um importante retrocesso do investimento público em cultura, um tímido desenvolvimento do patrocínio privado, uma escassa fidelização de públicos (com pouca predisposição a pagar por algo), a mudança de hábitos culturais das novas gerações, pouca prática na geração de recursos através do desenvolvimento de produtos próprios viáveis…. A situação é complexa e os gestores culturais estão perdidos em meio a um nevoeiro.
RP - Em linhas gerais, que novas dinâmicas e ferramentas estão sendo incorporadas à gestão cultural?
RGI - Neste momento, faz-se necessário repensar muitas das máximas da profissão relativas às infraestruturas, aos modelos organizativos, à relação público-privado, aos gostos, desejos e envolvimento cidadão. Emergem novas práticas culturais que colocam o espectador em um papel mais ativo; práticas como o Conexões Improváveis, que repensam a relação entre artes e empresas, novos modelos em rede que desenvolvem de estruturas muita pequenas a uma grande quantidade de atividades e movem uma grande quantidade de recurso. As coisas estão mudando. Ou participamos da mudança, ou desaparecemos. O futuro é incerto por definição. A inovação é exploratória e imprevisível, mas é apaixonante.
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