Por Bruno Bento
Nunca gostei de Carnaval. Achava um saco – com exceção das mulheres quase ou nuas mesmo, este era o tempo que podíamos ver sem ninguém encher a paciência. Quando de meu tempo de menino de igreja, piorou. Entretanto a experiência que tinha era de um lado as transmissões que antes não só da Globo, havia também transmissões de bailes. Durante infância e adolescência tinha-se a romaria para o carnaval no extremo sul da Bahia, e aquele axé – e não o axé – me irritava também. Nunca fiquei confortável com os excessos do carnaval.
Bem, passaram os tempos acima. Ainda não sou apaixonado pelo carnaval, ainda não participei efetivamente, o faria este ano, mas não deu. E não estou aqui para falar de minha experiência carnavalesca ou a falta dela. Só consegui entender o Carnaval como fenômeno cultural, social e político graças aos quase cinco anos de Ciências Sociais e mais precisamente graças a Roberto DaMatta com sua eterna ode ao Carnaval.
Pois bem, Teófilo Otoni, terra mucuriana de onde escrevo já teve seus brios momescos. Desde suntuosos bailes regados a apartheid, onde negros podiam se convidados – mesmo assim para entreter a elite aristocrata –, bailes do Sete de Setembro/Caninha Verde, onde os negros promoviam seu carnaval, e em vários outros clubes em que BAHIMINAS ou não, germânico ou não, estavam todos. Temos até um cordão de Frevo fundado nos idos das décadas de 30 e 40, o Caninha Verde. Para além destes havia o carnaval das famigeradas escolas de samba que desfilavam pelas ruas centrais, uma das mais famosas era a do bairro Palmeiras, e finalmente o carnaval de rua, com seus cordões e blocos. Até as moças da vida da Francisco Sá estavam representadas nesta festa da carne. Pela Estrada de Ferro Bahia e Minas vinham escolas de samba e blocos da Bahia, a coisa era grande e bem damattiana mesmo, ao menos nos relatos dos que disso tudo participaram. Bem, tudo acabou. Até o Sete de Setembro tem uma casa em Mucuri-BA onde a turma vai passar o carnaval que já está na decadência.
E daí? Eu cá estou acompanhando pelas redes sociais, sites e blogs algo muito interessante. Não me lembro de ver tanta gente, ao menos do meu círculo de convivência física e virtual, falar e participar do Carnaval, esse mesmo de letra maiúscula.
Em Belo Horizonte há uma retomada de inúmeros blocos, de vários lugares, e as Escolas de Samba de lá ainda resistem, por mais que não tenham cobertura da grande imprensa. Podemos ver também em São Paulo e mesmo no Rio de Janeiro, uma retomada (a palavra repete mesmo) deste Carnaval, e na rua.
Por mais que haja discussões, como a do João Jorge denunciando o caráter discriminatório do Carnaval soteropolitano (clique aqui para ver a matéria da Folha), há mais gente falando de uma retomada das ruas e um desfoco dos sambódromos e mesmo dos carnavais litorâneos da Bahia, quem se mantém incólume, ao menos no que se refere às notícias que recebemos é Recife e Olinda que têm o Carnaval popular mesmo, na rua, com muito frevo, samba e tudo quanto há naquelas bandas.
É perceptível, até para mim que sou um alienado carnavalesco, de um reaquecimento desta festa identitária brasileira. Não sei ainda se dentro dos parâmetros de nosso antropólogo acima. Talvez bem diferente, já que aquela opressão da miséria parece dar uma trégua no Brasil, mas tomara que o carnaval não seja tomado pela hipocrisia conservadora. Vou tentar estudar um pouco mais sobre este novo Carnaval que está se despontando. Novo, na medida em que há uma retomada em locais onde ele estava meio abandonado, um fortalecimento em alguns locais, como Ouro Preto e Belo Horizonte, e suspiros por aqui tão perto do litoral baiano. Posso estar também enganado, afinal é Carnaval, e a sobriedade só volta com as cinzas.
O certo é que estou ainda mais curioso. Eu não gosto de muita festa, sou um chato mesmo. Então, como disse a uma amiga, tenho de trabalhar, aí consigo me driblar e estar nas manifestações culturais, nas festas, talvez por isso também que entrei para esta coisa da produção cultural. É uma das minhas lutas pessoais.
Aproveito para fazer a louvação à turma de Sérgio Abdulah pelo anárquico Grêmio Recreativo Pindura a Língua no Varal e seu encontro pré-carnavalesco já pelo 2º ano consecutivo e o pessoal do Botiquim Cultura Bar e Espaço Cultural In-Cena que este ano promoveram uma releitura de um baile de carnaval com concurso de fantasia e tudo. Será que conseguiremos refazer o Carnaval de Teófilo Otoni? Estamos falando nisso já há uns três ou quatro anos, e ao contrário do que acontecia, as ruas não andam mais tão vazias, os restaurantes continuam abertos e há desde algum tempo um reboliço no setor cultural desta cidade.
Será que conseguiremos um Carnaval em 2014? Quem topa?
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