Retirado do Overblog em 20/07/12 do endereço:
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Por Makely Ka · Belo Horizonte, MG
Estou na estrada percorrendo de bicicleta os caminhos do personagem Riobaldo Tatarana no Grande Sertão: Veredas, do escritor mineiro João Guimarães Rosa. Saí de Sete Lagoas e vou passar em alguns dos pontos cruciais do livro, como o córrego do Batistério, onde o personagem se reencontra com Diadorim e entra para o bando de jagunços; o Liso do Sussuarão, na divisa com a Bahia; o Chapadão do Urucúia até a batalha fatal com o Hermógenes no Paredão de Minas.
Durante a viagem estou produzindo textos (relatos, poemas e transcrição de falas), gravações de audio, video e fotos das paisagens sonoras e visuais que serão posteriormente trabalhadas no meu próximo disco e no show Cavalo Motor.
Adaptei na minha bicicleta um sistema que gera a partir das pedaladas a energia necessária para carregar os equipamentos eletrônicos para o registro e a transmissão das informações durante o percurso.
A partir do “Grande Sertão: Veredas” identifiquei o percurso do jagunço Riobaldo Tatarana pelo sertão mineiro, atento aos saltos e reviravoltas da narrativa não-linear. Com efeito Riobaldo, o narrador personagem, vai e volta no tempo acompanhando o fluxo natural de sua memória, o que torna o traçado de seu percurso uma tarefa meticulosa, uma espécie de quebra-cabeças cartográfico. Uma grande contribuição nesse sentido foi o livro “Itinerário de Riobaldo Tatarana” do pesquisador Alan Vigiano, que nos anos 60 fez um levantamento e identificou centenas de topônimos encontrados no romance; outro livro fundamental foi o “Boiada”, edição fac-similar da caderneta de anotações do próprio João Guimarães Rosa, escrita durante sua viagem com a comitiva de Manoel Nardy em maio de 1952 conduzindo uma boiada pelos campos gerais.
Com essas referências estabeleci um roteiro junto com dois colaboradores ( um designer e um geógrafo) transpondo para o sertão real o que foi possível transpor, ou ainda, o que restou do sertão imaginário do romance. É certo que localidades mudaram de nome dos anos 50 para cá, alguns lugarejos, fazendas e veredas desapareceram. Não há dúvidas também que muitos nomes foram trocados ou criados pelo escritor. Muitos dos locais por onde Riobaldo andou, todavia, puderam ser identificados, e é por essas trilhas que resistem no sertão que estou passando. Para me orientar nos descaminhos estou usando um GPS que transmite as informações do percurso. Esse trajeto está sendo atualizado no site periodicamente: www.makelyka.com.br
O conceito
Cavalo Motor é uma imagem-conceito que representa a simbiose do homem e da máquina. Durante a viagem a força humana vai produzir na interface com a máquina a energia necessária para a comunicação virtual; um veículo de tração animal e um computador com conexão à internet representam pontas de tecnologias separadas por séculos. No projeto elas se completam com o homem promovendo uma integração eficiente e de baixo impacto ambiental, ou seja, o ciclista se torna a própria interface entre essas tecnologias.
Com a viagem pretendo promover um embate entre o sertão existente e o imaginário, retratando e confrontando descrições, imagens e relatos antigos com situações atuais.
A comunicação em tempo quase-real propõe a inserção de um ambiente que ainda guarda traços arcaicos e medievais no universo da cultura digital, numa relação orgânica e metabólica que rejeita o discurso do progresso fácil e a qualquer custo.
Percorrer de bicicleta as veredas do Grande Sertão, paisagem e tema do livro brasileiro mais importante do século XX, é também uma forma de provocação, um protesto contra o discurso anacrônico do nacional-desenvolvimentismo que assola a região como também à supremacia dos automóveis nas grandes cidades geradora da violência e do caos no trânsito.
Contrastar o sertão mítico com as lavras de minério, as estradas asfaltadas, as plantações de soja e eucalipto, as chaminés dos auto-fornos é também uma forma de denunciar e escancarar os descaminhos de uma civilização que ignora conhecimentos ancestrais, transmitidos oralmente através de gerações e segue indiferente em sua arrogância rumo à barbárie.
É também uma forma de renovar a esperança por outras veredas para a civilização humana, buscando uma síntese de culturas díspares, que aqui se encontraram e se sobrepuseram em camadas profundas de contradições e tensionamentos. Talvez uma demonstração da capacidade de adaptação, da habilidade para cruzar referências própria do brasileiro, o conceito que guia o projeto recusa a ideia de incompatibilidade entre evolução e conservação, entre desenvolvimento e sustentabilidade.
O Cavalo Motor evoca portanto uma relação mais harmoniosa entre o homem e a máquina e aponta esse espaço de convívio possível, sugerindo inter-relações mais saudáveis e menos predatórias entre sistemas orgânicos e sintéticos, ou ainda entre a tecnologia e o estado de natureza.
Suscita ainda a possibilidade de um outro olhar sobre a própria urbe a partir da discussão sobre os meios de transporte alternativos, o trânsito (homem-máquina-meio), a humanização das relações, a eficácia de grandes projetos urbanos que desconsideram as relações humanas, ao mesmo tempo em que aponta para a possibilidade de soluções simples, baratas e eficientes para vencer problemas que hoje afetam todas as grandes cidades do mundo.
Cavalo Motor é uma imagem-conceito que representa a simbiose do homem e da máquina. Durante a viagem a força humana vai produzir na interface com a máquina a energia necessária para a comunicação virtual; um veículo de tração animal e um computador com conexão à internet representam pontas de tecnologias separadas por séculos. No projeto elas se completam com o homem promovendo uma integração eficiente e de baixo impacto ambiental, ou seja, o ciclista se torna a própria interface entre essas tecnologias.
Com a viagem pretendemos promover um embate entre o sertão existente e o imaginário, retratando e confrontando descrições, imagens e relatos antigos com situações atuais.
A comunicação em tempo quase-real propõe a inserção de um ambiente que ainda guarda traços arcaicos e medievais no universo da cultura digital, numa relação orgânica e metabólica que rejeita o discurso do progresso fácil e a qualquer custo.
Percorrer de bicicleta as veredas do Grande Sertão, paisagem e tema do livro brasileiro mais importante do século XX, é também uma forma de provocação, um protesto contra o discurso anacrônico do nacional-desenvolvimentismo que assola a região como também à supremacia dos automóveis nas grandes cidades geradora da violência e do caos no trânsito.
Contrastar o sertão mítico com as lavras de minério, as estradas asfaltadas, as plantações de soja e eucalipto, as chaminés dos auto-fornos é também uma forma de denunciar e escancarar os descaminhos de uma civilização que ignora conhecimentos ancestrais, transmitidos oralmente através de gerações e segue indiferente em sua arrogância rumo à barbárie.
É também uma forma de renovar a esperança por outras veredas para a civilização humana, buscando uma síntese de culturas díspares, que aqui se encontraram e se sobrepuseram em camadas profundas de contradições e tensionamentos. Talvez uma demonstração da capacidade de adaptação, da habilidade para cruzar referências própria do brasileiro, o conceito que guia o projeto recusa a ideia de incompatibilidade entre evolução e conservação, entre desenvolvimento e sustentabilidade.
O Cavalo Motor evoca portanto uma relação mais harmoniosa entre o homem e a máquina e aponta esse espaço de convívio possível, sugerindo inter-relações mais saudáveis e menos predatórias entre sistemas orgânicos e sintéticos, ou ainda entre a tecnologia e o estado de natureza.
Suscita ainda a possibilidade de um outro olhar sobre a própria urbe a partir da discussão sobre os meios de transporte alternativos, o trânsito (homem-máquina-meio), a humanização das relações, a eficácia de grandes projetos urbanos que desconsideram as relações humanas, ao mesmo tempo em que aponta para a possibilidade de soluções simples, baratas e eficientes para vencer problemas que hoje afetam todas as grandes cidades do mundo.
Buscando sustentabilidade lancei uma campanha de colaboração coletiva para arrecadar recursos que vão contribuir para a realização dessa iniciativa. A viagem portanto é somente uma das etapas. O projeto terá ao todo quatro etapas a serem cumpridas: a viagem pelo Grande Sertão; a finalização do CD Cavalo Motor; o show de lançamento; a publicação do livro com relatos e fotos da viagem.
Quem quiser colaborar com o projeto encontra as informações detalhadas no meu site. Criei uma plataforma diferente, um modelo muito simples de colaboração coletiva: http://makelyka.com.br/?page_id=420#campanha
No site dá para acompanhar também os relatos da viagem!
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