Crowdfunding, capital semente, private equity, investimento-anjo. Se você é um produtor/empreendedor da cultura já deve ter ouvido falar em pelo menos um desses termos. Com a ampliação das discussões sobre Economia Criativa e o desejo de uma parcela do mercado cultural de se emancipar da dependência de editais, novos modelos de financiamento estão surgindo ou sendo adaptados.
Mais do que isso, novas e velhas dinâmicas estão procurando fazer sentido em um momento onde não só o desenvolvimento econômico, mas outros valores como a inclusão social, a proteção da biodiversidade e a diversidade cultural local estão sendo preconizados. É o que aponta Minom Pinho, sócia-diretora da Casa Redonda Cultural e da Casa Redonda Patrocínio Sustentável.
Junto com André Martinez, ela fundou a plataforma Sociocultural em Redee idealizou os conceitos de Sustentabilidade Sociocultural e Patrocínio Sustentável. Em excelenteartigo para este Cultura e Mercado, ela indaga: “os modelos convencionais de empreendedorismo de negócios atendem plenamente às propostas transformadoras da economia criativa?”.
Nos dias 22 e 23 de junho, Minom coordena o curso Fontes de Financiamento, no Cemec (clique aquipara saber sobre o curso). Nesta entrevista, ela fala sobre as mudanças no mercado, a ascensão da economia criativa, as novas ferramentas de financiamento para empreendimentos culturais e criativos e a evolução de métodos já conhecidos. Confira:
Raul Perez - Na descrição do curso, você fala sobre “mudanças recentes no mercado”. O que são essas mudanças e para onde elas apontam?
Minom Pinho - Criada pelo Decreto 7743, de 1º de junho de 2012, a Secretaria da Economia Criativa (SEC) do Ministério da Cultura é apenas um dos vetores que apontam para novos paradigmas de atuação cultural. Outros países e mais recentemente a União Européia têm adotado políticas de desenvolvimento voltadas aos novos paradigmas trazidos pela Economia Criativa. Ainda estamos todos tentando encontrar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, inclusão social, proteção da biodiversidade e da diversidade cultural local, mas sem dúvida há uma nova ordem e precisamos compreender a complexidade e a multiplicidade de fontes de financiamento, modelos de negócios e formas de viabilizar empreendimentos culturais e criativos hoje. Outro fato que merece destaque é o crescimento de investidores interessados em aportar capital semente em novas ideias de empreendimento culturais e criativos que tenham potencial para se configurarem como boas oportunidades de negócios.
Se entendermos que tudo isto não descarta os modelos de patrocínio e investimento público nos setores culturais/criativos daí podemos entender como isto ficou complexo e também divertido. Para completar o quadro, vemos surgir ao mesmo tempo uma compreensão maior do que seriam os ativos criativos locais e os seus potenciais de diálogo com as experiências e os novos paradigmas trazidos pela economia verde e pela economia solidária. Novos modelos de cooperação e coempreendedorismo e novas moedas de troca ajudam a ampliar possibilidades de viabilizar os empreendimentos culturais e criativos. Diria que tudo aponta para multiplicidade e para a diversidade dos modelos de financiamento e cada iniciativa precisa encontrar a solução mais adequada aos seus sentidos e propósitos.
RP - Como essa nova configuração do mercado beneficia os empreendedores culturais e criativos?
MP - Entendo que a partir deste novo cenário o empreendedor pode e deve buscar a diversidade de fontes e modelos de financiamento e isto é extremamente benéfico ao surgimento, crescimento e consolidação de empreendimentos, iniciativas, negócios, projetos e programas culturais e criativos. Precisamos evitar sair às cegas. Ou seja, os empreendedores precisam compreender antes qual ou quais modelos de financiamento atendem plenamente aos sentidos e propósitos do seu empreendimento garantindo que os acordos firmados não desvirtuem os objetivos fundamentais da iniciativa.
RP - No curso, você irá falar sobre financiamento colaborativo e modalidades que supõem um engajamento maior dos colaboradores/investidores. Como eles mudam a dinâmica da relação investidor/investido?
MP - A proposta de introduzir modelos colaborativos como estratégia de financiamento de iniciativas culturais e criativas no curso, parte de uma motivação específica: entendo que precisamos ampliar as noções e os conceitos de recurso e de riqueza. Quando falamos em recursos, o senso comum lê imediatamente “dinheiro”. Quando falamos de riqueza, o senso comum também entende automaticamente “riqueza material” e “dinheiro”. Os modelos de financiamento colaborativo e o surgimento de novas moedas solidárias e criativas exigem uma mudança paradigmática e a ampliação dos conceitos “riqueza” e “recursos”. Trata-se de um novo modo de olhar e ver o mundo e os seus potenciais. Trata-se de um novo modo de compreender o que de fato precisamos para viabilizar um empreendimento, um projeto ou um negócio e quais as moedas disponíveis entre os parceiros envolvidos. Saber fazer algo é um ativo. Ter um espaço cultural é um ativo. Ter uma rede de contatos é um ativo. Ao compartilhar estes ativos e tentar encontrar novos modelos de troca de conhecimentos, produtos, serviços em rede, fazemos emergir novas possibilidades. O livro The Mesh: Why the Future of Business Is Sharing, da autora Lisa Gansky, é um bom começo para entendermos cooperação, colaboração e compartilhamento neste novo paradigma.
RP - Existem tipos de projetos que são mais propícios a serem bem-sucedidos nesse tipo de financiamento?
MP - Com a diversidade de modelos de financiamento disponíveis, penso que os empreendedores precisam entender quem são de fato os parceiros com os quais pretendem dialogar para viabilizar os seus empreendimentos, negócios, iniciativas, projetos. Não há um modelo. Há vários e híbridos. Entendo como propício, o modelo de financiamento que garante convergência de sentidos e propósitos entre as pessoas e organizações envolvidas no processo: investidores, criadores, empreendedores, públicos, clientes, colaboradores e assim por diante. Compreensão das motivações dos parceiros envolvidos e alinhamento de propósitos é fundamental na escolha do modelo de financiamento ideal em cada caso.
RP - Modalidades como o Investimento-Anjo e o Private Equity sempre fizeram parte do financiamento de empreendimentos culturais e criativos ou estão sendo assimiladas agora? O que elas agregam a esses tipos de empreendimentos?
MP - De algum modo, isto não é novo… Podemos elencar historicamente um conjunto de empreendimentos culturais e criativos no Brasil e no mundo que contam com investidores de mercado, sócios financiadores com expectativas de retorno econômico-financeiro como contrapartida do seu investimento. O que há de novo é o crescimento de investidores de mercado interessados em novos negócios criativos e principalmente em aportar recursos em startups (negócios em estágio inicial). Outra novidade é que hoje existem mais investidores dispostos a aportar recursos, não exclusivamente financeiros, em negócios menores e este fato funciona como um ativador natural de pequenos e médios empreendimentos.
“Nova” é a compreensão de que os empreendimentos culturais e criativos de um país, de uma cidade, de um território ou de uma comunidade podem representar oportunidades reais e concretas de geração de riquezas. No modelo investimento-anjo, os investidores aportam recursos aos novos negócios, mas também oferecem apoio no desenvolvimento do negócio dedicando tempo, know-how, experiência de mercado e de gestão, redes de contatos, etc. Ou seja, são chamados de anjos pois embora estejam sim interessados no retorno financeiro do investimento, se envolvem com o processo de viabilização e consolidação dos novos negócios no mercado.
Retirado do Cultura e Mercado em 16/05/13 do endereço:
http://www.culturaemercado.com.br/entrevistas/pluralidade-no-financiamento-a-criatividade/
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