No último dia 20 de novembro comemorou-se o Dia Nacional da Consciência Negra fizemos uma expedição à comunidade de Água Limpa no município de Ouro Verde de Minas, reconhecida como reminiscente de quilombos. Anualmente as cinco comunidades quilombolas de Ouro Verde se reúnem em uma grande e aberta festa, onde há muita música e muito que comer.
Vamos falar um pouco mais do que vimos daqui a pouco, vamos ter de contar a história para chegarmos lá...
Bem, estamos discutindo há certo tempo sobre o levantamento e registro das manifestações culturais deste nosso Mucuri, o que não é fácil, pois não só é difícil arrumarmos tempo, já que somos tão poucos, transporte, estas e outras coisas que são pequenas, mas nos limitam muitas vezes.
Entre tantos desencontros finalmente conseguimos deixar uma série de compromissos de lado, combinamos quem disponibilizaria o carro, fechamos a equipe e a hora da saída, já que a programação iniciaria às 13h:00min.
Encontramo-nos todos quase pontualmente, F. G. Júnior, Leonardo Cambuí, Moana Gomide, Michelle O. Freitas e Bruno Bento. Almoçamos e entramos no Wolverine, o carro de Moana. A distância é relativamente pequena, só uns 60 quilômetros nos separavam do destino, mas havia um aviso de superaquecimento no caminho, aquela luzinha vermelha.
Logo achamos, no Cedro, o pessoal da Pastoral da Criança que nos conduziu e introduziu na comunidade, a Jussiana, a Neide e o Rubens, além do Wilmar, o motorista, logo depois começou a aventura...
Poucos quilômetros depois iniciou nossa novela, a temperatura do Wolverine só subia. Começamos a parar, esperar, procurar água e tentar acalmar o motor... fomos assim até a quase Frei Gaspar, quando de tanto pelejarmos, do reservatório de água surge um grande buraco, achamos o problema! E então, como resolve-lo? Domingo à tarde, longe das oficinas, o jeito foi parar para pedir um banheiro emprestado para Michelle, uma água para beber, pois já estávamos com sede, ganhamos um café e a dona da casa, a Teucla, irmã da Karine Ramos, tinha uma caixa de DUREPOX!
Um viva à gambiarra! Depois de emergencialmente resolvermos nosso problema, conseguimos finalmente ir para a comunidade de Água Limpa.
Tínhamos levado algumas câmeras, umas analógicas, as de Bruno e outras digitais, as dos Cambuís, Leonardo e F.G., durante o caminho, e as paradas fizemos umas fotografias, que estão por este texto. Mas logo a limitação do filme utilizado deu lugar à facilidade do mundo digital no que se refere às condições de luminosidade.
O caminho é salpicado de inselbergs, as grandes pedras que são famosas e maravilhosas nestes cantos das minas, e bem no meio destas formações magníficas está nossa comunidade, cravada.
Curvas, pedras, subidas e descidas, riachos e lajedos... chegamos à longa fila de carros de todo o tipo estacionados entre a estrada estreitíssima e as cercas. Descemos e logo nos deparamos, num dia nublado e quase frio, com o aglomerado de pessoas estava a dançar, comer e beber ao som de um batuque.
Em seguida fomos tomados pela curiosidade e pelo som, claro. O batuque puxado pelos representantes de outra comunidade, a de Santa Cruz, estavam no galpão por causa da garoa, mas rapidamente o ritmo ganhou o terreiro em meio ao cheiro de chuva, da mata e o de carne assada.
Formou-se então uma grande roda, as mulheres rodando suas saias compridas num sincrônico movimento quase imemorial, os homens também acompanhavam e todos em volta se não dançavam, observavam atentamente aquele simples, intrigante e lindo espetáculo, ao fundo uma imensa montanha, contrastava com as cores, das nuvens baixíssimas e de todos nós embaixo.
De repente, enquanto observávamos e fazíamos fotos e umas imagens, uns gritos de “debaixo da saia não”... em uma cena engraçadíssima, na qual um de nós (o Bruno) fotografava as dançarinas girando suas saias e os que acompanhavam começaram o coro. Felizmente com a tecnologia do nosso lado, ele mais que depressa mostrou as imagens e o possível mal-entendido fora logo resolvido.
Por providência, chegamos exatamente no ponto máximo do festejo à libertação de séculos de cativeiro, à luta pela opressão ainda vivida neste mundo longe da igualdade.
A imagem do Navio Negreiro produzida por Rugendas não saia de nossa mente, junto de tudo aquilo nos vem a reflexão sobre a luta, a resistência e sofrimento naquelas matas antes repletas de Capitães do Mato, os caçadores de escravos fugidos. É claro que lembrávamos também de Zumbi, morto num dia 20 de novembro, o líder de Palmares, e é neste dia que todos o reverenciamos.
Dentre as diversas observações, estão a generosidade e o acolhimento que de pronto tivemos, o que rapidamente nos possibilitou a imersão naquele episódio festivo de tantos motivos e tantas lutas. As cores também. Todas as cores, as das roupas, do ambiente e das pessoas, um ambiente diverso, onde todos estavam despreocupados com senhores ou capitães, só queriam a fugacidade da alegria do encontro, da música, da comida e dos motivos.
Entretanto, logo após a roda e o batuque, tivemos de ir, e rápido. A chuva presente começou a ameaçar nosso retorno. Fomos aconselhados a voltar, pois a estrada de terra é muito sinuosa e com a chuva que chegara mais brava, era o sinal de que se não nos adiantássemos, ficaríamos por lá, afinal um quilombo é marcado tradicionalmente pelo difícil acesso. Obedecemos a experiência e os sinais do tempo, retornamos comendo cocada e nos deliciando novamente com a paisagem.
Agora, com o carro sob controle, retornamos bem mais rápido e à noite chegamos muito cansados e satisfeitos pela visita e início de um contato que cremos será muito frutuoso recompensador.
Viva a luta pela igualdade de cor e raça!
E viva tolerância!
Viva as Comunidades Quilombolas de Ouro Verde de Minas e do Mucuri! Este texto e estas imagens são uma singela homenagem do Grupo Criativa e da Mucury Cultural nesta data tão importante para o Brasil.
Aproveitamos e agradecemos à Comunidade Quilombola e à equipe da Pastoral da Criança pela recepção e carinho.
Confiram as fotos de Leonardo Cambuí e Bruno Bento:
As fotos e o texto lindos!!! Amei!!! Parabéns!!
ResponderExcluirAna Beatriz Nogueira
Obrigado Ana Beatriz!
ResponderExcluirEste é o nosso Mucuri!
Fique à vontade!
Grande abraço.
Texto primoroso, fotos lindíssimas, a equipe está de parabéns.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirKarina, agradecemos muito e ficamos lisonjeados demais!
ResponderExcluirObrigado e grande abraço, estamos por aqui mesmo para mostrarmos este nosso Mucuri!
Grande abraço.
Realmente o texto está primoroso. As fotografias resgatam toda a poesia, o colorido negro dessa cultura primitiva, aguerrida e terna dos quilombolas. Parabéns pela matéria!!
ResponderExcluirRenato, ficamos honrados pela visita e comentário, um grande fotógrafo com você gostando deste nosso trabalho, ficamos muito felizes!!!
ResponderExcluirAno que vem estaremos juntos!
Grande abraço!
Bacana demais este passeio! As fotos estão ótimas... O nosso Vale, nossa cultura e o nosso povo estão, a cada dia que passa, mais lindos. Grande abraço!
ResponderExcluirHumberto, é isso aí! Este nosso Mucuri é riquíssimo!
ResponderExcluirObrigado!
Bruno ficou incrível todo o trabalho,a formatação do texto com a ilustração das fotos está perfeito..Grupo Criativa com um trabalho impecável, que dispensa até os melhores comentários!!!!
ResponderExcluirParabéns pra todos...
Nós é que agradecemos Mariama!
ResponderExcluirFizemos com muito carinho e é este nosso trabalho, valorizar o Mucuri.
E esta parceria com a Criativa está muito bacana!
Estamos esperando vocês!
Grande abraço.
Admiro muito o trabalho e esforço de vocês!!!
ResponderExcluirMichele já lecionou aula pra mim =)
Muito Bom!!!
ResponderExcluirDércio, obrigado! Estamos juntos!
ResponderExcluirBilora, agradecemos muito!
Estamos por aqui para mostrarmos este nosso Mucuri! Assim como você!
Grande honra ter-lhe por aqui.
Grande abraço a vocês!
Fiquei emocionada!!!
ResponderExcluirQueria ter ido com vcs!!!
Clara, vamos da próxima! rsrs
ResponderExcluirGrande abraço! E obrigado pelo carinho, sempre.
Parabéns Guerreiros!!!
ResponderExcluirValeu André!
ResponderExcluirEstamos juntos nessa! Obrigado por todo o apoio!
Grande abraço.
Mis saludos desde Santiago de Chile, gracias por compartir este interesante artículo y su cultura fascinante,
ResponderExcluirLeo Lobos
Leo Lobos, como sempre "gracias".
ResponderExcluirGrande abraço.
Muito bom!!! Também quero!!!
ResponderExcluirVanessa, muito obrigado! E combinemos!
ResponderExcluirTem Mucuri pra todo mundo! rsrs
Grande abraço.
Parabéns a toda a equipe e colaboradores pelo excelência no trabalho realizado. Precisamos resgatar o passado para vivermos com intensidade e responsabilidade o presente.
ResponderExcluirKristiane Quintino Teixeira
Kristiane, é isso mesmo!
ResponderExcluirSó conscientes de quem fomos, saberemos que somos!
Obrigado, ficamos muito lisonjeados.
Grande abraço!
Muito linda a materia...ameiiiii..pena que não deu para eu ir...parabéns...
ResponderExcluirMary, agradecemos e vamos da próxima!
ResponderExcluirQue bom que tenha gostado.
Grande abraço.