terça-feira, 29 de novembro de 2011

Eduardo Escorel analisa a relação entre documentarista e realidade

Retirado do site do Hoje em Dia em 29/11/2011 do endereço:

http://www.hojeemdia.com.br/entretenimento/eduardo-escorel-analisa-a-relac-o-entre-documentarista-e-realidade-1.375616

Diretor, montador e crítico misnistra curso que começa quinta-feira (1º) no Cine Humberto Mauro

Paulo Henrique Silva

FORUMDOC

Eduardo Escorel

O diretor, montador e crítico Escorel: equilíbrio em busca do melhor caminho

Veredito: presunção. Mesmo com as fronteiras entre documentário e ficção reduzidas a pó, demolidas nos principais pressupostos, alguns realizadores insistem em ser os donos da verdade. O que as câmeras captam em filmes documentais reproduziriam fielmente a realidade – ideia que ganha seu auge na década de 1960, com o Cinema Direto.

O diretor, montador e crítico Eduardo Escorel é mais polido na crítica a esse pensamento ultrapassado. Prefere definir como “dilemas da observação”, título do curso que ministra no Cine Humberto Mauro a partir desta quinta-feira (1º), dentro da programação do 15º Festival do Filme Documentário e Etnográfico.

“Não vou adotar a postura do contra. Não acho que não seja possível fazer um cinema baseado na observação estrita, mas esta proposta tem limites muito claros. É preciso entender que há uma diferença entre ver e observar. E uma das saídas é compreender que fazemos parte de nossa própria observação. O diretor é personagem de seu próprio filme”, destaca ele.

Escorel pontuará a evolução da relação entre documentarista e realidade a partir dos primórdios da fotografia.

O curso tem duração de três dias, tomando a forma de “intensivão” devido à amplitude do tema, como mesmo admite o palestrante.

Principal montador do Cinema Novo (por suas mãos e olhos passaram clássicos como “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, e “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade), Escorel joga por terra a ideia de um cinema a serviço da verdade propondo uma discussão a partir da exibição de filmes de René Clair (“Paris Adormecida”), Werner Herzog (“La Soufrière”), Krzysztof Kieslowski (“Não Amarás”) e da leitura de textos de Jean Epstein, E. T. A. Hoffmann e Edgar Allan Poe.

Não Amarás"Não amarás": exemplo para que o realizador discorra sobre respostas ao dilema da observação (Foto: Fotos Divulgação)

“Faço uma volta de mais de 100 anos, mediada por três textos que, claramente, evidenciam a transformação da posição do observador”, resume.

O primeiro texto, de 1822, carrega um título autoexplicativo: “A Janela da Esquina do meu Primo”, conto de Hoffmann em que a observação da realidade passa pelo distanciamento.

No cinema, o conceito está estampado no filme francês “Paris Adormecida” (1923), de René Clair, elogiado pelo diretor russo Dziga Vertov, em seu diário, por conta da concretização de um cinema que sempre perseguiu.

“A ideia de captar a realidade em estado bruto prevaleceu na década de 1960 devido à revolução tecnológica, mas no plano teórico está presente desde os filmes panfletários de Vertov, que defendia a observação da realidade sem que se percebesse que está sendo captada”, registra Escorel.

O texto seguinte significa um avanço nesta maneira de lidar com o documentário. Se “A Janela do meu Primo” explicita uma não-interação com o objeto, em “O Homem da Multidão”, escrito por Edgar Allan Poe em 1840, o observador é movido por certa curiosidade, “saindo de uma posição protegida, atrás de uma janela, para seguir o homem na multidão”.

O referencial literário se fecha com “O Cinematógrafo Visto do Etna”, de Jean Epstein, de 1926, que discorre sobre a filmagem de “A Montanha Infiel”, usado como exemplo da transformação que se dá mais de um século depois ao texto de Hoffmann, quando o realizado.

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