A melodia vem do chão, da musicalidade, da poesia. Deste encontro telúrico nasce o “Pote”, um CD independente e inédito, criado em parceria com violeiros e os cantadores, Pereira da Viola e Wilson Dias, e o poeta e jornalista João Evangelista Rodrigues. Três mineiros de águas fortes e confluentes, vindos respectivamente, dos Vales, do Mucuri, do Jequitinhonha e do São Francisco. Três vertentes com raízes comuns no que diz respeito à cultura popular, ao sentimento de religiosidade e às convicções políticas, fundados na amizade e na defesa da cidadania. O show de lançamento do CD “Pote” será dia 14 de outubro, quinta-feira, às 21 horas, no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte.
O CD “Pote” pode ser definido como contemporâneo e primitivo. Rústico e refinado. Feito a mão. Modelado pela sensibilidade da palavra e conduzido pelo fio mágico dos acordes da viola. O “Pote” emerge da imaginação, dá asas ao sentimento, vivifica as coisas e objetos perdidos e/ou esquecidos no sertão. O mesmo infinito e indefinido sertão de João Guimarães Rosa, ao mesmo tempo íntimo, concreto e transcendental. Um sertão que todos somos ainda apesar das urbanidades e desurbanidades contemporâneas.
Em todas suas dimensões de utensílio, de arte, o pote é sagrado pelos segredos que contém e revela, por suas qualidades pictóricas. Um pote pode servir ainda de sepultura, de túmulo, e isto só aumenta e valoriza seu potencial significativo, sua transcendência. Em nada diminui, portanto, a magia de sua beleza. Quando animado pela poesia e pela música cria asas, canta e voa feito pássaro entre montanhas mineiramente latinas. No CD, faixas como Sem Desatino, Mulheres de Argila, Sagarana Ana, Pacha Mama, Fim de Tarde, Latina e Tributo; sem nenhum prejuízo crítico para as ouras canções que integram o disco, atingem alto grau de expressividade poético-musical. Seja pelo lirismo ou pelo comprometimento com a vida e o desatino do ser humano em um planeta ameaçado.
O CD é uma homenagem à palavra poética pela valorização da letra no processo de composição musical. É também um reconhecimento do trabalho de criação do poeta João Evangelista que, além da música, utiliza-se de várias linguagens e campos de conhecimento para expressão como filosofia, jornalismo, literatura e fotografia. Foi a intenção de destacar o papel da letra na construção da canção que orientou todas as etapas de produção do CD, desde a composição, passando pelos arranjos, processo de gravação, interpretação, mixagem e concepção gráfica do encarte. É por isso que ao manusear e ouvir o CD pode-se perceber com todos os sentidos a intensidade e o sabor de cada palavra, de cada imagem, sua textura e visualidade. Um verdadeiro cinema sonoro onde a música feita na viola revela as tonalidades de cada história. A palavra cantada torna-se palavra encantada. Música necessária e mágica, fruto de um encontro espiritual e artístico ente os três compositores. Uma trindade que só vem enriquecer a música feita na viola caipira, em Minas. Por isso mesmo, a viola, cada vez mais valorizada no complexo cenário musical brasileiro da atualidade, ganha uma nova aliada, a poesia que se mistura, de maneira equilibrada e harmônica, com o timbre e com a autêntica sonoridade do instrumento. Assim, tanto do ponto de vista temático, quanto musical e poético, pode-se dizer que há uma verdadeira sintonia criativa e estética.
Os Compositores
De certa forma, O Cd “Pote”, o sexto da carreira artística de Pereira da Viola e o quarto da de Wilson Dias, é um desdobramento natural do trabalho que estes violeiros vem desenvolvendo juntos nos últimos anos. Neste contexto situam-se os espetáculos “Dois Rios” e “Bate Pilão”, ambos muito bem recebidos pelo público e cuja base do repertório são composições feitas em parceria com João Evangelista. Tanto nestes espetáculos, quanto no Cd “Pote” os dois amigos violeiros primam pelo domínio na execução do instrumento, pela sensibilidade e força interpretativa em um ambiente de admiração e de respeito mutuo.
Pereira e Wilson participam também do projeto Vivaviola, criado em 2008; juntamente com Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães e Joaci Ornelas. O Vivaviola já rendeu um Cd, com o mesmo nome e, este ano, foi escolhido pela Natura Musical para realizar o Roteiro Vivaviola Estrada Real, com apresentações nas cidades de São João Del Rei, Diamantina, Paraty, Ouro Preto e Congonhas.
O poeta João Evangelista Rodrigues é parceiro de Pereira da Viola desde o lançamento do primeiro Cd do compositor, “Terra Boa”, do qual participa com a música Veio Caipira. De lá para cá os dois artistas vêm trabalhando regularmente, criando canções como Aboiador de Viola, Misturas Mistérios, Violeiro Trovador, Viola in Blues entre outras. A parceria com Wilson Dias é mais recente, mas já rendeu inúmeras composições como as que integram este novo CD e tantas outras músicas, ainda inéditas, com estilos e temas diversificados.
O trabalho de composição de João Evangelista Rodrigues, apesar de discreto, é forte e reconhecido. Teve início nos anos 70, quando se mudou para a Capital Mineira, onde cursava Jornalismo e já atuava como militante político e nos movimentos de cultura popular. Vem dessa época sua primeira música, Sinetes de minas, composta com Cristiano Guedes, o Bain. Depois fez parcerias com Zé Neto, Rubinho do Vale, Enzo Merino, Paulinho Pedra Azul, Gilvan de Oliveira, Cid Ormelas, Téo Azevedo, Zé Baliza, Carlos Maia, Dadi do Norte, Arlindo Maciel, Nelson Ângelo, Marcos Carvalho. Também é parceiro de Joaci Ornelas, Gustavo Guimarães e Chico Lobo. Hoje, dedica a maior parte de seu tempo à literatura, música e fotografia. Atualmente coordena o projeto Vivaviola e está preparando um novo livro de poemas, fotos e prosa poética, “Visões de João Manoel”, diálogo com o poeta Manoel de Barros, projeto aprovado na Lei Estadual de Incentivo e que deverá ser lançado no início do próximo ano. Como poeta, é autor dos livros “O Avesso da Pedra”, “Mutação dos Barcos”, “A oeste das Letras” e “Transversias”, além de livretos de cordel e de participar de várias antologias impressas e eletrônicas.
A melodia do chão
O CD “Pote” é marcante. Pode ser entendido como uma metáfora da condição do homem no mundo contemporâneo. Uma evocação do ambiente do mineiro a partir de uma visão crítica. Cercado de simbologia, um objeto real e mítico, que reflete a arte, a cultura, os valores, a religiosidade e as contradições da mineiridade. O pote, objeto que deu origem ao nome do CD, guarda a água, símbolo da vida, ecoa a essência, marca o lugar e a passagem para o imaginário. Para um mundo real, a poesia e a música, o sorriso e o diálogo, a prosa e a viola, ainda são possíveis.
As 14 composições do CD são todas assinadas por João Evangelista Rodrigues, autor das letras, e por Pereira da Viola e Wilson Dias, responsáveis pelas melodias e interpretação. Participam da gravação os músicos: Pereira da Viola e Wilson Dias (voz e viola), Pedro Gomes (contrabaixo), André Siqueira (guitarra e violão), Carlinhos Ferreira (Percussão), tem ainda a participação especial do cantador e compositor Dércio Marques. A arte gráfica é da designer e jornalista Doris Sanabio.
Serviço:
Lançamento do CD “Pote” .
Local: Teatro Sesiminas - na Rua Padre Marinho, 60
Bairro Santa Efigênia –Belo Horizonte –MG.
Data: 14 de outubro, quinta-feira.
Horário: às 21h00.
Ingressos 20,00-inteira e 10,00-meia.
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