terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

"Políticas de Rede e Cultura de Participação” [1]

Por Bruno Bento[2] Foto: VIVA O VALE!<br /> Viva a Rede Jequitinhonha Cultural!

A contemporaneidade contribui para a construção, consolidação e funcionamento de redes, fenômenos tão antigos quanto a própria humanidade. A internet é a principal plataforma/ferramenta para boa parte destas redes, principalmente nas tecidas a partir do setor cultural, funcionando para a criação, circulação e fruição (MOREIRA; JARDIM; ZIVIANI, 2011).

Segundo os estudiosos destes processos, as redes contribuem para a descentralização e maior horizontalidade dos processos de criação, gestão, circulação e fruição. Podem ser centralizadas, descentralizadas e distribuídas.

O trabalho colaborativo é outra característica destas redes, quanto mais colaboração, melhor a horizontalidade. Entretanto há limites, para o pesquisador José Oliveira Júnior (informação verbal), há de se diferenciar os processos colaborativos das redes, uma vez que elas são instáveis, avulsas e não exigem compromisso, ao contrário das ações e processos colaborativos. Ainda segundo o pesquisador, nos processos colaborativos usamos todos os princípios de rede, mas nos é exigido compromisso.

Há alguns exemplos, no setor cultural, de projetos, ações ou programas em rede, como o Programa Cultura Viva que criou a partir de 2005 uma grande rede com milhares de Pontos de Cultura em todas as regiões do Brasil, inclusive no Mucuri e no Jequitinhonha, entretanto ainda não tornou-se política pública. O próprio Plano Nacional de Cultura, criado pela Lei no 12.343, de 2 de dezembro de 2010 estabelece:

Art. 3º Compete ao poder público, nos termos desta Lei: [...] VII - articular as políticas públicas de cultura e promover a organização de redes e consórcios para a sua implantação, de forma integrada com as políticas públicas de educação, comunicação, ciência e tecnologia, direitos humanos, meio ambiente, turismo, planejamento urbano e cidades, desenvolvimento econômico e social, indústria e comércio, relações exteriores, dentre outras.

Como uma estratégia para sua implementação, PNC pretende:

Fortalecer a gestão das políticas públicas para a cultura, por meio da ampliação das capacidades de planejamento e execução de metas, a articulação das esferas dos poderes públicos, o estabelecimento de redes institucionais das três esferas de governo e a articulação com instituições e empresas do setor privado e organizações da sociedade civil.

As redes e consórcios, de acordo com Luana Vilutis, fazem parte da estratégia de planejamento e execução das políticas públicas de cultura “[...] não apenas contribuem para diversificar os mecanismos de financiamento à cultura, como são fundamentais para garantir o monitoramento e a avaliação de suas ações públicas” (VILUTIS, 2013, p.8).

O trabalho em rede e os processos colaborativos nos remetem à participação, na sua falta não há nem uma coisa nem outra, remetendo-nos agora à política e à democracia, já que nestes processos a adesão é livre. Para avançarmos é importante tratar ainda que rapidamente de participação, da democracia e de políticas públicas.

Novamente com contribuição do José Oliveria Júnior “a participação pode ocorrer de diversas formas, todavia só se realiza plenamente pelo compromisso e pela deliberação” (informação verbal).

Não devemos nos cansar de repetir que nossa democracia é recente e o faremos ainda por décadas. Mesmo com todas as suas limitações, que não são o mote desta rápida reflexão, a democracia brasileira nos trouxe, como povo, à cena política de forma institucional e soberana e limitada.

Constitucionalmente temos instrumentos para além do voto nas eleições, podemos exercer a democracia diretamente em alguns casos. A participação cidadã direta, por meio de instrumentos como o plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei:

O plebiscito é uma consulta popular a todos os eleitores sobre alguns assuntos que antecede o processo de elaboração de uma lei.

O referendo também se trata de consulta popular a respeito de uma lei, porém, sobre uma lei já aprovada pelo Legislativo, a fim de rejeitá-la ou mantê-la.

A iniciativa popular de lei representa a possibilidade de o povo apresentar proposta de lei ao Legislativo. Necessita da assinatura de pelo menos 1% dos eleitores de, no mínimo, cinco Estados da Federação (ARAGÂO, 2013p. 7).

Há outros instrumentos de participação e controle social, tais como conselhos, fóruns, câmaras, colegiados e as conferências, que são as instâncias máximas desta dinâmica.

No caso específico da cultura, 2013 foi o ano das conferências. Aconteceram nas três instâncias entre junho e dezembro. E apesar de todas as críticas, muitas bastante acertadas, este modelo parece consolidar-se, temos de avançar na ampliação da participação popular e setorial, no controle e no monitoramento das diretrizes definidas nas conferências, para que não fiquemos “faz de conta”. Aí entram os conselhos, fóruns, etc, é neste momento que a sociedade civil tem de estar articulada, mobilizada.

Em Minas Gerais, por exemplo, há centenas de conselhos de patrimônio cultural, neste 2014, fomos o último Estado a aderir ao Sistema Nacional de Cultura, mas falta muito. Falta muito por parte do poder público, porém a sociedade civil precisa mobilizar-se, continuamente e mais.

Participando deste seminário (e) Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural temos de ouvir, trocar experiências, refletirmos e propormos os rumos, as ferramentas e os processos que desejamos para o desenvolvimento desta nossa terra e de nosso povo igualmente sofrido e prenhe de beleza e força. Já regamos com muito suor e sangue esta terra acre, rezamos para chegar a hora da florada.

Os debates do Seminário Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural podem ser conferidos no canal da Rede clicando aqui.

Referências:

ARAGÃO, Ana. Participação, Consulta e Controle Social. Coleção Política e Gestão Culturais. P55 Edições, Salvador, set 2013. Disponível em <http://conferenciadecultura.files.wordpress.com/2013/11/cartilhas_secult_set13_participac3a7c3a3oconsulta_e_controle_ana_aragc3a3o.pdf>. Acesso em 19 fev. 2014;

BRASIL. Lei 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Institui o Plano Nacional de Cultura - PNC, cria o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais - SNIIC e dá outras providências. Diário Oficial [da] República do Brasil, Brasília, 03 de dez. 2007. Seção 1, p.1. Acesso em 19 fev. 2014;

BRASIL. Ministério da Cultura. As metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília, DF: 2012.

MOREIRA, Fayga;JARDIM, Gustavo; ZIVIANI, Ziviani. Trabalho Colaborativo e em Rede com a Cultura. In: BARROS, José Márcio; JUNIOR José Oliveira (Orgs). Pensar e Agir com a Cultura: desafios da gestão cultural. Observatório da Diversidade Cultural. Belo Horizonte, 2011. Disponível em <http://observatoriodadiversidade.org.br/arquivos/pensar_agir.pdf>. Acesso em 19 fev. 2014;

VILUTIS, Luana. Redes e Consórcios. Coleção Política e Gestão Culturais. P55 Edições, Salvador, set 2013. Disponível em <http://conferenciadecultura.files.wordpress.com/2013/11/cartilhas_secult_set13_redes-e-consc3b3rcios_final.pdf >. Acesso em 19 fev. 2014;


[1] Texto elaborado para a participação no debate “Políticas de Rede e Cultura de Participação” no Seminário Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural realizado em Araçuaí entre 21 e 23 de fevereiro de 2014.

Esta mesa contou com a participação dos seguintes componentes:

Israel do Vale - Jornalista, com passagem nos principais veículos de mídia imprensa do Brasil, já participou de diversas redes de cultura e comunicação no país. Exerce um papel político de acompanhamento e provocação para a efetiva participação popular nos processos políticos. Atualmente, é gestor de comunicação no Programa Música Minas, programa de apoio à divulgação, circulação e exportação da música produzida em Minas Gerais;

José Oliveira Junior - Escritor, Comunicador, especialista em novas tecnologias em comunicação; diretor não remunerado de apoio ao trabalhador associado do SATED Minas; Supervisor de pesquisa do Observatório da Diversidade Cultural; Consultor UNESCO para a implantação do Sistema Nacional de Cultura em Minas Gerais; Coordenador de projetos da Gerência de Ações Culturais do Sesc Minas;

Pereira da Viola - O músico e articulador (desde sempre) teve sua figura vinculada à resistência cultural, evidenciando ritmos e tradições, que vão além do território mineiro. Um dos fundadores da Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, do Encontro Nacional dos Violeiros; ativista de movimentos sociais como o MST; membro-fundador da Associação Quilombola Vaz Pereira;

Talles Lopes - Cientista Social, produtor e gestor cultural. Um dos gestores nacionais do Fora do Eixo, rede de cultura, comunicação e comportamento presente em todos os estados brasileiros e compartilha as experiências do movimento em processos colaborativos e impulsionados pela dinâmica de rede;

Titane - Faz parte da geração que renovou a MPB nos anos 80, em Minas Gerais. Além de cantora, também representa a Associação Campo das Vertentes que atua na pesquisa e experimentação no campo musical, além das interfaces com o corpo, as artes cênicas, a ecologia e a integração cultural da região.

[2] Cientista Social e especialista em Gestão Cultural convidado para participar como mediador no debate “Políticas de Rede e Cultura de Participação” em 22 de fevereiro de 2014.

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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Fórum de Políticas Culturais de Minas Gerais debate novas possibilidades do Programa Cultura Viva

Enviado pela Representação MG do MinC

O Fórum de Políticas Culturais de Minas Gerais convida para reunião no próximo dia25 de fevereiro de 2014 (terça-feira), às14h, na Funarte MG (Rua Januária, 68 - Belo Horizonte/MG), que contará com a presença do diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Pedro Vasconcelos. O diretor irá ministrar palestra com o tema Programa Cultura Viva - Novas possibilidades de parcerias a partir da Portaria 118 , de 30 de dezembro de 2013.

A Portaria 118 implementou mudanças no Programa Cultura Viva, dentre elas o reconhecimento, como Pontos de Cultura, de grupos e coletivos sem personalidade jurídica, que desenvolvam atividades culturais em suas comunidades. Além disso, a Portaria ampliou as formas de fomento aos projetos culturais, incluindo o lançamento de editais de Prêmios de Reconhecimentos e concessão de Bolsas de Apoio de iniciativas dos governos federal, estadual e municipal/distrital, dentre vários outros pontos que serão apresentados e debatidos na reunião.

Contamos com a sua presença!

Para confirmar presença, gentileza preencher o formulário disponível  aqui.

SERVIÇO

Evento: Debate Programa Cultura Viva - Novas possibilidades de parcerias a partir da Portaria 118 , de 30 de dezembro de 2013

Data: 25 de fevereiro de 2014

Local: Funarte MG

Endereço: Rua Januária, 68 - Belo Horizonte/MG

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4º Festival de Animação e Arte

Sugerido por Reginaldo Rodrigues

logomarca 4º Festival de Animação e Arte

A 4ª edição do Festival de Animação e Arte, acontece em Capelinha no Vale do Jequitinhonha, teve início no dia 15 de fevereiro com oficinas de teatro e durante os meses de março e abril serão realizadas montagens de diversos espetáculos tendo o público estudantil como alvo.

Segundo a assessoria do festival, alunos de 08 escolas de Capelinha participaram das oficinas, as próximas oficinas ocorrerão no domingo (23).

Confira as fotos das oficinas.

Com informações daqui.

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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Curso de Desenvolvimento e Gestão Cultural

Do Observatório da Diversidade Cultural.

Como a Cultura pode ser ferramenta efetiva de desenvolvimento econômico e social? Quais as estratégias para potencializar ações culturais visando a consolidação de uma política pública? Considerando-se o atual estágio de possibilidades e desafios colocados pelo Sistema Nacional de Cultura e pelo Plano Nacional de Cultura – iniciativas em curso no país – é importante reconhecer o caráter processual e participativo de pactuação entre diferentes atores sociais, institucionais e políticos, para a construção de políticas, programas e projetos.

Voltado a gestores e agentes culturais, artistas, educadores e interessados na área, a abordagem envolve teoria e prática, a fim de oportunizar um processo efetivo de capacitação para a construção de programas e políticas culturais para cidades e microrregiões.

O curso tem propiciado resultados efetivos em âmbito regional, ao capacitar gestores culturais locais com visão ampla, para a construção de parcerias e viabilização de propostas. A qualificação de gestores culturais, para além das questões de ordem operacional, faz-se urgente se levarmos em conta o quanto as indústrias criativas podem representar para o crescimento sustentado e em longo prazo, em países como o Brasil.

Em 2013, contou com a parceria do Museu Mineiro, vinculado à Superintendência de Museus e Artes Visuais de Minas Gerais, e do Centro de Arte Popular Cemig, que integram o Circuito Cultural da Praça da Liberdade.

Para saber mais clique aqui.

Retirado em 17/02/2014 daqui.

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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

V Seminário Internacional de Políticas Culturais

Da Fundação Casa de Rui Barbosa

Clique na foto para ampliarO setor de pesquisa de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) estará recebendo, entre 10 de fevereiro e 10 de março de 2014, propostas para apresentação de trabalhos no V Seminário Internacional de Políticas Culturais. Serão aceitos trabalhos que tenham como foco a área de políticas culturais. O objetivo é apresentação e discussão de estudos que promovam a reflexão e o debate entre estudantes, pesquisadores, professores e demais profissionais que atuem ou tenham interesse na área de políticas culturais.

Inscrições:

Poderão submeter trabalhos estudantes de mestrado e doutorado, mestres, doutores, gestores e professores.

As inscrições serão feitas mediante o envio do texto completo, que deverá ter entre 10 e 15 laudas (incluindo as referências bibliográficas) tamanho A-4. Os textos deverão ser em Times New Roman 12, espaço 1,5 e estar em formato Word.

Devem constar na primeira página do trabalho os seguintes itens: título do artigo centralizado, em caixa alta e em negrito, nome completo do(s) autor(es) alinhado(s) à direita, indicando em nota de rodapé o grau de formação, vínculo institucional e e-mail; resumo de 5 (cinco) a 10 (dez) linhas, com espaçamento simples; e 3 (três) a 5 (cinco) palavras-chave.

O arquivo deverá ter o nome do autor (ou do 1º, quando houver mais de um). O envio do trabalho deverá ser feito exclusivamente por e-mail, para o endereço politica.cultural@rb.gov.br, constando em assunto “submissão de artigo”.

Mais informações: (21) 3289-8608, 3289-8609 e (21) 3289-8610 / politica.cultural@rb.gov.br.

Cronograma:

Chamada de trabalhos para o V Seminário Internacional de Políticas Culturais de 10 de fevereiro a 10 de março de 2014. .

V Seminário Internacional de Políticas Culturais: 7, 8 e 9 de maio de 2014.

Retirado em 10/02/14, daqui.

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Conheça e participe do Mapa da Cultura do Vale do Mucuri

Mapa da Cultura do Vale do Mucuri_thumb[5]

Precisamos, nos conhecer, há diversas iniciativas, projetos, ações e trabalhadores da cultura espalhados em toda a região, e nos mapearmos é o primeiro passo para nos articularmos e trabalharmos ainda mais fortemente para o desenvolvimento do setor cultural de nossa região. Esta é a proposta desta iniciativa.

Nós da Associação Mucury Cultural atuamos na pesquisa, produção cultural e promoção do patrimônio material e imaterial do Vale do Mucuri, potencializando nosso trabalho, estabelecemos uma parceria com a Artéria Cultura e Cidadania para o mapeamento da dinâmica cultural, manifestações, agentes, produtores, gestores, equipamentos e locais de fruição cultural no nordeste de Minas Gerais.

Com as informações deste Mapa da Cultura do Vale do Mucuri, teremos maior visibilidade às ações desenvolvidas, às instituições e aos trabalhaores da cultura, o que contribuirá muito na obtenção de informações e indicadores culturais que subsidiarão nossos projetos e propostas, assim como facilitar trabalho do poder público no fomento de programas culturais e ações estruturadoras no âmbito das políticas públicas de cultura.

O Mapa da Cultura é um Software Livre sobre a licença GPLv3, desenvolvido em Ruby on Rails 3.2.13 com base de dados em PostgreSQL, utilizando o OpenLayers (Open Street Map).

E como fazer?

1. Clique aqui para fazer seu cadastro. Crie seu login e senha.

2. Clique aqui para cadastrar sua atividade, empreendimento, projeto, ação, grupo, entidade ou coletivo.

3. E pronto!

Dúvidas? contato@mucurycultural.org.

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Seminário articula ações em rede no Vale do Jequitinhonha

Enviado por Valemais

SEMINÁRIO RENOVA VOCAÇÃO DO VALE DO JEQUITINHONHA PARA A COOPERAÇÃO CULTURAL E ARTICULA AÇÕES EM REDE

Encontro pretende reunir agentes culturais de 40 cidades para discutir fortalecimento do trabalho colaborativo e construção compartilhada de políticas públicas

O Vale do Jequitinhonha se posiciona novamente como um importante pólo de cooperação cultural no estado de Minas Gerais, na segunda quinzena de fevereiro. Um dos mais ricos, diversos e pulsantes centros de produção e reflexão da cultura mineira, a região acolhe entre os dias 21 e 23 de fevereiro o encontro Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural - Seminário de Políticas Culturais do Vale do Jequitinhonha, que espera reunir artistas, agentes culturais, profissionais do setor e gestores públicos e privados de pelo menos 40 cidades. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pela internet, até 10 de fevereiro.

O objetivo é rearticular o expressivo movimento de valorização cultural da região iniciado em torno do Jornal Geraes, em 1978. Desde então, inúmeras outras ações e entidades se constituíram com finalidade parecida, mas sem uma atuação coordenada, em bloco, que permitisse fortalecer o conjunto dos envolvidos, ajudar a sedimentar o trabalho em rede e fomentar a construção compartilhada de políticas públicas para a área, em conjunto com o poder público municipal, estadual e federal.

A iniciativa é do Valemais - Instituto Sociocultural do Jequitinhonha, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Araçuaí. O patrocínio é da Petrobras. A intenção é estruturar uma rede colaborativa a partir de ações de impacto regional, que gere trabalho, renda e permita estruturar um núcleo de articulação, capacitação e promoção permanente do Jequitinhonha.

O seminário integra as comemorações dos 30 anos do show Onhas do Jequi, ação coletiva que daria corpo e visibilidade à produção musical da região, posicionando nacionalmente músicos e autores hoje conhecidos e reconhecidos, como Paulinho Pedra Azul, Saulo Laranjeiras, Rubinho do Vale, Tadeu Martins, Gonzaga Medeiros, Lira e Frei Chico. O evento culmina em março com um show que recompõe esse encontro histórico, em Belo Horizonte.

Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural - Seminário de Políticas Culturais do Vale do Jequitinhonha terá debates, palestras, shows e exposições, distribuídos ao longo dos três dias. A abertura, às 19h do dia 21, no Centro Cultural Luz da Lua, receberá autoridades locais, representantes das universidades federais e de associações de municípios do Baixo, Médio, Alto e da Margem Esquerda do Jequitinhonha.

Em seguida, às 20h, Guilardo Veloso e Vilmar Oliveira, do Valemais, recompõem o histórico de ações colaborativas e participativas da região e apresentam uma proposta preliminar de construção da Rede Jequitinhonha Cultural, em torno de programas como o Viva o Vale.

O evento prevê a participação de representantes do Ministério da Cultura, Funarte, Petrobras, Secretaria de Estado de Cultura, deputados estaduais, prefeitos, vereadores e de secretários e diretores de cultura de cidades da região.

Entre os debatedores, há convidados de instituições culturais respeitadas no estado como a ONG Cresertão, Associação Campo das Vertentes, Associação Quilombola Vaz Pereira, Observatório da Diversidade Cultural, Rede Fora do Eixo e Sociedade Independente da Música. Estarão presentes também algumas das entidades de atuação mais destacada na região, como Fecaje, Casa de Cultura de Capelinha, Centro Cultural Nagô de Araçuaí e Ponto de Cultura do Rubim.

As mesas de discussão estão concentradas no sábado, dia 22. E giram em torno dos seguintes temas: "Políticas de Rede e Cultura de Participação" (8h30), “Relato de Experiências” (11h), "Política Nacional de Cultura e Desenvolvimento Cultural Local" (14h), "Manutenção e Financiamento de Redes" (17h30).

Na manhã de domingo, a mesa "Amassando o Barro e Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural" se desdobra em três tópicos: Projetos de Curto, Médio e Longo Prazos, Comunicação da e na Rede e, por fim, Formas de Composição e Coordenação da Rede.

A programação inclui também duas noites de apresentações musicais. As atrações incluem atrações locais e um recital com a cantora Titane e o violeiro Pereira da Viola.

Ao final, os organizadores apresentam publicamente a Carta de Araçuaí, escrita colaborativamente ao longo do evento pelos participantes, com as diretrizes do pacto que está sendo proposto entre os diferentes agentes culturais que atuam na região.

Contexto cultural

Com cerca de 1,2 milhões de habitantes distribuídos por 86 municípios e a estimativa de que haja outras 1 milhão de pessoas de lá sediadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Vale do Jequitinhonha ocupa um espaço de enorme relevância no contexto geopolítico do estado, que ainda não se traduz em benefícios proporcionais para a região.

SERVIÇO

O QUÊ?: Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural - Seminário de Políticas Culturais do Vale do Jequitinhonha

QUANDO?: 21 a 23 de fevereiro de 2014

ONDE?: Centro Cultural Luz da Lua (Rua Dom Serafim, 426 - Bairro Esplanada - Araçuaí - Minas Gerais).

QUANTO?: Inscrições gratuitas limitadas a 150 participantes, até 10 de fevereiro, por meio de formulário disponível no evento Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural, no Facebook. Dois terços dos inscritos terão direito a alimentação e hospedagem, mediante seleção.

INFORMAÇÕES AO PÚBLICO:

redejequitinhonhacultural@gmail.com | facebook.com/redejequitinhonhacultural

31 3423-1940 | 31 9208-9537 | 33 3731-4432

INFORMAÇÕES ADICIONAIS À IMPRENSA

Israel do Vale |israeldovale@uol.com.br |31 3309-6558

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O cliente tem sempre razão

Do Cultura e Mercado

Por Marcelo Gruman

O escritor mineiro Fernando Sabino descreveu magistralmente, na crônica Cem cruzeiros a mais, o périplo de um indivíduo que, tendo recebido certa quantia a mais de um Ministério, queria devolvê-la aos cofres públicos.

Primeiro, depois de esperar pacientemente na fila, viu o guichê ser fechado justamente na sua vez porque estava na hora do cafezinho do funcionário. No dia seguinte, ao conseguir, finalmente, ser atendido, ouviu do funcionário que estava no lugar errado, pois ali era a “pagadoria”, devendo o incauto individuo encaminhar-se à “recebedoria”. Na “recebedoria”, o funcionário informou que apenas o chefe poderia resolver o caso, mas o chefe já havia ido embora, portanto, a resolução do caso foi novamente adiada para o dia seguinte. No terceiro dia, após meia hora de espera, nosso personagem ouviu do chefe da seção que seria necessário redigir um ofício “historiando o fato e devolvendo o dinheiro” e dar entrada na solicitação no setor de protocolo. Eis o desfecho do caso, para desgosto do protagonista e prejuízo ao erário público:

Saindo dali, em vez de ir ao protocolo (…) o honesto cidadão dirigiu-se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por4cima do vidro e foi-se embora. 

A crônica de Sabino fala, de forma caricatural, dos empecilhos que a burocracia impõe ao cidadão comum em seu cotidiano, até mesmo quando este cidadão quer fazer um favor ao Estado e, consequentemente, ao funcionário que lhe atendeu, seu representante, a autoridade formalmente nomeada para tratar daquele assunto específico. O desfecho tragicômico de Cem cruzeiros a mais pode ser explicado pela falência do modelo preconizado pela administração pública burocrática no Brasil, alvo de inúmeras críticas por parte de estudiosos, políticos e, talvez a parte mais interessada, a sociedade civil, obrigada a lidar quase que diariamente com as exigências do aparelho estatal. Dentre as principais críticas estão o impacto da prescrição estrita de tarefas sobre a motivação dos empregados; resistência às mudanças; desvirtuamento dos objetivos provocado pela obediência acrítica às normas e corporativismo entre os funcionários, causando destacamento dos interesses dos destinatários/clientes dos serviços da organização. A impessoalidade levada ao pé da letra pode levar a organização a não dar atenção a peculiaridades das necessidades individuais. Será que o funcionário da “pagadoria” não seria capaz de intervir junto à “recebedoria” de forma a acelerar o processo? Esta é a questão: o foco é no processo, não nos resultados.

Por sua vez, a administração pública gerencial, pensada a partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, sob a orientação do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE, em 1995, funda-se na ideia de que o controle deve ser exercido sobre os resultados, não mais nos processos, tornando a administração pública mais eficiente e voltada para a cidadania. Há uma mudança na compreensão da expressão “interesse público”, inicialmente identificado com a afirmação do poder do Estado, relegando ao segundo plano os conteúdos das políticas públicas. Na administração pública gerencial, interesse público relaciona-se ao interesse da coletividade e não com o aparato do Estado. Aqui, o cidadão é contribuinte de impostos e cliente dos seus serviços.

É a partir as premissas da administração pública gerencial, sobretudo a tríade planejamento-resultado-avaliação sistemática, que as ações do Ministério da Cultura devem ser pensadas.

O planejamento da Cultura   

Os resultados positivos de determinada política pública só podem ser alcançados a partir de um planejamento estratégico, e este planejamento estratégico só pode ser elaborado a partir de diagnósticos e estudos prospectivos. O programa ou ação governamental devem ser avaliados sistematicamente com vistas à determinação de sua eficiência (menor relação custo/benefício), eficácia (grau em que o programa atinge seus objetivos e metas), efetividade (efeitos positivos no ambiente externo em que interveio), sustentabilidade (capacidade de continuidade dos efeitos benéficos alcançados pelo programa) e relevância de seus objetivos. A avaliação é realizada por meio de indicadores, que quantificam os resultados obtidos na aplicação de critérios previamente selecionados, confirmando ou não o alcance das metas pré-determinadas.

O planejamento implica um plano. Em 2010, foram publicadas as metas do Plano Nacional de Cultura para os dez anos seguintes. Na sua apresentação, a ex-ministra Ana de Hollanda deixou claro qual a visão de longo para a Cultura.

Sustentabilidade e, portanto, planejamento, são algumas palavras-chave da atual gestão do Ministério da Cultura. Significa pensar lá na frente, no futuro, a partir das bases do presente. Foi com esse intuito que colocamos em discussão as metas do Plano Nacional de Cultura (PNC), que hoje apresentamos. São propostas para a próxima década. (…) As metas que nascem agora começaram a ser geradas no Seminário Nacional Cultura para Todos, em 2003, primeiro passo para o envolvimento dos cidadãos na avaliação e direcionamento das políticas culturais. Portanto, se temos 53 metas a nos guiar para a próxima década, é porque um dia abrimos espaço e ouvimos a sociedade na formulação da política pública para a cultura. (grifos meus)

O alcance das metas previstas no Plano Nacional de Cultura depende, paralelamente à infraestrutura tecnológica adequada, de uma cultura organizacional que enfatize a produção, armazenamento e avaliação de informações das ações institucionais. Apenas desta forma é possível elaborar um planejamento estratégico. Valores como eficiência e eficácia devem informar os processos rotineiros de trabalho, e as ações não podem ser interpretadas como um fim em si mesmo, mas um meio a partir do qual a avaliação é feita. Caso contrário, estaremos diante de dados, números sem significado social.

Muito mais cômoda para os gestores seria a organização de suas ações sem olhar para o futuro, apenas para o presente, porque estariam dentro de uma zona de conforto. Contudo, se isto ocorresse, reproduziríamos o estigma do funcionário público que pendura o paletó na cadeira pela manhã e só volta no final do expediente, o estigma da bur(r)ocracia que não arregaça as mangas e não põe a mão na massa, que apenas cumpre as formalidades administrativas necessárias para a elaboração do relatório de atividades a ser entregue no final do ano.

A administração pública federal deve atender às demandas do cidadão, afinal, o cliente sempre tem razão.

Referências bibliográficas

MINISTÉRIO DA CULTURA. Metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília: Ministério da Cultura. 2011.

SABINO, Fernando. Cem cruzeiros a mais. In: ANDRADE, Carlos Drummond de & outros. Para gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática. 1979.

Retirado em 04/02/14 daqui.

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