sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Obras do CEU de Teófilo Otoni foram iniciadas

A construção do CEU - Centro de Artes e Esportes de Teófilo Otoni iniciou-se no bairro Viriato.

Ceu das Artes em 21.01 (2)Desde o governo passado o município for a selecionado para receber uma unidade do CEU, projeto do Ministério da Cultura ainda na gestão Ana de Hollanda. Em função da mudança dos governos e certa confusão no que se refere a terrenos, muito “disse-me-disse”, as obras iniciaram-se.

Há dezenas de CEUs inaugurados e já foram lançados editais para sua ocupação em diversas cidades do país. O de Teófilo Otoni, contará com 3 mil m², 2 edifícios multiuso, dispostos numa praça de esportes e lazer, CRAS, salas multiuso, biblioteca, telecentro, cineteatro/auditório com 60 lugares, quadra poliesportiva coberta, pista de skate, equipamentos de ginástica, playground e pista de caminhada. O investimento total é de mais de dois milhões de reais provenientes do PAC2.

3000 - PRAÇA INTEIRA SEM TETO 4Junto da construção, a Secretaria Municipal de Cultura deverá realizar um trabalho de mobilização nas comunidades do entorno para que possam apropriar-se deste empreendimento e contribuir na sua gestão, uma vez que a proposta dos CEUs é funcionarem com sistema de gestão compartilhada entre poder público e sociedade civil.

O objetivo do CEU-Centro de Artes e Esportes Unificados é integrar num mesmo espaço físico, programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e inclusão digital, de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social da cidade.

Confiram algumas imagens, clicando aqui.

Com informações da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Seminário Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural

Entre os dias 21 e 23 de fevereiro próximos acontecerá em Araçuaí o Seminário Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural.

Iniciativa do Valemais – Instituto Sociocultural do Jequitinhonha e pretende:

Articular uma rede cultural no Vale do Jequitinhonha que possa discutir seu movimento cultural, seus eventos, diretrizes, financiamento e outras atividades que englobem o fazer cultural e as diversas políticas públicas nas esferas: municipal, estadual e federal.

Participarão entidades, poder público e agentes culturais da região, numa excelente oportunidade de diálogo e troca em um movimento que ocorre há quase 40 anos e sente a necessidade de reinventar-se:

A Rede Jequitinhonha Cultural já existe desde 1978, ano em que foi lançado o Jornal Geraes. O que estamos propondo é atualizá-la aos novos tempos.

A proposta de articulação em rede é bastante pertinente, na medida em que sua atuação em forma cooperativada é mais consistente e democrática, ela – a rede – não necessita de uma estrutura institucional e burocrática próprias, além de uma baixa hierarquização, democratizando e dando novo corpo a um dos principais movimentos populares e culturais de Minas Gerais e do Brasil.

SERVIÇO

Evento: Seminário Tecendo a Rede Jequitinhonha Cultural

Data: 21 a 23 de fevereiro de 2014

Local: Centro Cultural Luz da Lua

Endereço: Rua dom Serafim, 426, Bairro Esplanada – Araçuaí

Inscrições: clique aqui.

Mais informações: redejequitinhonhacultural@gmail.com | facebook.com/redejequitinhonhacultural
31 3423-1940 | 31 9208-9537 | 33 3731-4432

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Consulta Pública discute a presença de Minas Gerais em feiras e festivais de música no exterior

O Programa Música Minas promove nesta segunda-feira, 27 de janeiro, um encontro com artistas, produtores, técnicos e demais agentes culturais para conversar sobre as oportunidades em feiras e festivais internacionais de 2014.

A consulta pública é aberta a todos os interessados e será realizada às 19h no Conservatório de Música da UFMG (av. Afonso Pena, 1.534, em frente ao Palácio das Artes). A conversa busca mapear demandas e propor ações capazes de atender necessidades de exportação da música feita em Minas Gerais.

Será apresentado, no encontro, um novo edital para produtores participarem da Feira Internacional de Cabo Verde, a AME – Atlantic Music Export, e do Fórum de Festivais de Música da África.

Organizador do encontro, Francisco Cereno da Rede Catitu reconhece que “esses eventos são oportunidades estratégicas para produtores mineiros conseguirem bons negócios com programadores de festivais da Europa e Estados Unidos.” Segundo ele, no entanto, “existe uma necessidade de capacitar os agentes e produtores para conseguirem de fato uma boa atuação nesse mercado em crescimento.”

O Programa Música Minas é uma ação de política pública firmada entre o Governo de Minas (por meio da Secretaria de Estado de Cultura) e o Fórum da Música de Minas Gerais, grupo de entidades organizadas e representativas do setor musical que reúne a AAMUCE (Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina), FEM (Fora do Eixo Minas), Grupo Cultural NUC, Rede Catitu, SIM (Sociedade Independente da Música) e VALEMAIS  - Instituto Sociocultural do Jequitinhonha, AMAES (Associação de Músicos, Artistas e Esportistas) e Mucury Cultural.

SERVIÇO

Evento: Consulta Pública - Oportunidades Internacionais para a Música Mineira

Data: 27 de Janeiro de 2014

Hora: 19h:00min

Local: Conservatório de Música da UFMG

Endereço: Av. Afonso Pena, 1.534, em frente ao Palácio das Artes

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Lançamento do disco No Brasil Nu, de Vinícius Medina

cartazmedina

No dia 14 de fevereiro, o cantor e compositor Vinícius Medina lançará seu primeiro disco solo em Teófilo Otoni, em um evento que contará com outras atrações e manifestaões. O artista que atualmente mora em Belo Horizonte é vocalista da Banda Raiz de Jequi e vem se destancando nas cenas do Reggae e MPB.

O disco:

"Este novo trabalho de Vinícius Medina representa a evolução da música mineira. Um disco em que emergem influências variadas que se misturam e criam uma singularidade sonora impecável, ouvida na simplicidade do tambor e nas texturas eletrônicas. Nas letras das canções Medina se torna um poeta da contemporaneidade, falando da vida urbana rápida, do aroma das montanhas, e do frescor do mar do sul da Bahia.
'No Brasil Nu' já nasceu sendo uma promessa da música mineira, que saiu de Teófilo Otoni e hoje faz escala em Belo Horizonte para o Brasil (Pedro Guinu)”.

O artista:

Vinícius Medina é músico brasileiro, compositor, e está lançando o seu primeiro disco NO BRASIL NU.
Medina é vocalista da banda Raiz de Jequí, com a banda já tocou nos estados de MG, ES e RJ, passando em sua maioria pelo Vale do Mucuri e Jequitinhonha. Em 2013 se apresentou em Juiz de Fora juntamente com a banda "The Wailers", banda que acompanhou Bob Marley na sua carreira musical. Em 2012, se apresentou com a banda no FAN - Festival de Arte Negra no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, com a participação de José Rodrigues (Unidade Punho Forte).
Ainda na mesma edição do FAN, Medina também se apresentou com o grupo LealSoundSystem, parceria esta que levou o músico à participar de uma apresentação única, no palco do Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, juntamente com Dj. Renatito, Lorenza Junqueira, Nathy Faria, Sérgio Pererê, Tânia Azze, Wagner Bagão e Zaika dos Santos.
Ainda em 2012 gravou a música ‘Sabedoria’ no primeiro álbum da banda Kabalions e em 2011 gravou com a banda Djambê, na bonustrack "Cativeiro". Participou também da abertura do show do grupo Teatro Mágico, na VI Semana de Artes da UFOP, e no Espaço Vila Verde em Nova Lima com a banda Tribo de Jah. Em 2009 apresentou-se no FestiVelhas - Projeto Manuelzão(UFMG).
Medina aprendeu e pôs em prática os seus estudos na Manufaturada Orquestra que é uma orquestra de improviso dirigido em tempo real, através de uma linguagem corporal na metamorfose da construção coletiva (Soundpainting).

SERVIÇO:

Evento: Espetáculo da Vida, de Rodrigo Ferrari

Data: 14 de Fevereiro de 2014

Hora: 20h:30min

Evento: Lançamento do disco Brasil Nu, de Vinícius Medina

Data: 14 de Fevereiro de 2014

Hora: 21h:00min

Evento: DJ Cubanito

Data: 14 de Fevereiro de 2014

Hora: 23h:00min

Local: Espaço Cultural Casarão do SESC – SESC Teófilo Otoni

Endereço: Rua Rui Barbosa, S/N - São Diogo - Teófilo Otoni

Preço: R$40,00 (com direito ao CD No Brasil Nu) e R$20,00 e 1 Kg de alimento não perecível (só entrada)

Venda de ingressos: Portaria e http://www.sympla.com.br/ingressos-evento?id=17026 (via internet)

Endereço: Av. Francisco Sá, 129, Centro – Teófilo Otoni

Contatos: (31) 9258-8278 / medinamusic7@gmail.com

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Produção audiovisual indígena–entrevista com Vincent Carelli

Do Blog Acesso

Por Bernardo Vianna

O trabalho do Vídeo nas Aldeias teve início em 1986, a princípio como uma experiência de apropriação, pelos indígenas, da construção de sua própria imagem por meio da linguagem audiovisual. Seu idealizador, o antropólogo Vincent Carelli, conta que, ao longo desses 27 anos, o projeto tomou várias direções, “formação de cineastas indígenas, produção de autores indígenas, programas na TV. O Vídeo nas Aldeias tenta se encaixar para ver qual a contribuição que pode dar em determinado momento do país”.

Hoje, o momento ao qual o projeto precisa se adaptar envolve a precarização de políticas públicas voltadas à diversidade cultural, como o Cultura Viva, que impulsionou inúmeras ações culturais durante a última década. Outro elemento desse cenário são as mídias e redes sociais, das quais muitos indígenas já fazem uso desde que tais tecnologias começaram a se popularizar no Brasil.

Além de comercializar os vídeos em seu catálogo, o Vídeo nas Aldeias disponibiliza, na internet, séries e materiais pedagógicos voltados ao ensino fundamental. Confira o livro-vídeo Cineastas Indígenas para Jovens e Crianças e o Guia para professores e alunos do Kit “Cineastas Indígenas: Um outro olhar”. Os vídeos também podem ser acessados nos canais do projeto no YouTube e no Vimeo.

Acesso – Você poderia sintetizar para o leitor como surgiu e qual a proposta do Vídeo nas Aldeias?

Vincent Carelli – Há mais de 40 anos trabalho com índios. Em 1986, resolvi fazer esse projeto mais como uma experiência de apropriação da imagem pelos índios, da imagem deles. De lá para cá, passados 27 anos, o projeto tomou várias formas, primeiro uma coisa mais interna, depois a formação de cineastas indígenas, a produção de autores indígenas, os programas na TV; o Vídeo nas Aldeias tenta se encaixar para ver qual a contribuição que pode dar em determinado momento do país. Fizemos uma série para a TV Escola [a série Índios no Brasil] que durante uma década foi exibida nas TVs públicas. Hoje, a gente investe muito em fazer a produção indígena chegar às escolas. Há essa nova lei que torna obrigatório abordar a temática das culturas indígenas e afrodescendentes de maneira transversal, o que abriu uma possibilidade para a gente dialogar com o público estudantil. Em 2013, fizemos uma série de filmes infantis com guias didáticos para o ensino fundamental, com recursos da Unesco. Estamos agora fazendo um filme sobre a tragédia do povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul e vamos iniciar, este ano, um processo de formação de cineastas entre os Guarani Kaiowá. Temos trabalhado não só a apropriação da própria imagem pelos índios como a produção de uma nova imagem e o diálogo com a sociedade nacional. Existe uma ignorância sobre a questão indígena muito grande, um fosso de invisibilidade nacional.

Acesso – O discurso sobre os povos indígenas, quando por eles construído, serve como contraponto à imagem estereotipada vigente?

V. C. – É um contraponto no sentido de que o olhar é diferenciado, não é um olhar exotizante, é um olhar intimista. Até pela própria linha de ensino que a gente adota, o cinema direto, que é um cinema observacional, na contramão do clipe televisivo. A produção indígena, o olhar indígena, desconstrói esse estranhamento. Os índios, quando falam deles mesmo, falam, muitas vezes com muito humor, do seu cotidiano, da sua vida, de tudo o que nos aproxima deles, a humanidade. É um contraponto sim, a produção indígena revela, transporta você para a intimidade de um mundo que poderia parecer estranho, mas não, o que transparece é humanidade. Isso é uma coisa que marca, que atrai, que ganha o público de uma maneira geral.

Acesso – E qual o impacto das novas tecnologias digitais e das mídias e redes sociais sobre o trabalho do Vídeo nas Aldeias?

V. C. – Você está falando de várias coisas ao mesmo tempo. Quanto à questão tecnológica, saímos do analógico e fomos para o digital. Claro que facilitou muito, até na finalização. Antigamente, no analógico, uma ilha de edição custava 250 mil dólares. De repente, passou a custar quatro mil, fora a agilidade que isso permitiu. Mas há também uma armadilha nesse processo. Acabou a fita e isso quer dizer que os índios têm que ter acesso a toda uma parafernália nova. Ninguém trabalha mais sem computador, sem internet. Aquele gravadorzinho K7 que eles tanto gostavam para gravar e ficar ouvindo já não existe mais. Eles agora têm um gravador digital, mas não têm um computador para baixar, enfim, existem algumas dificuldades.

Quanto à circulação da informação nas redes sociais, realmente eles aderiram muito rapidamente. Eu confesso que passei batido pelo Orkut, mas os indígenas caíram de boca logo quando essa rede apareceu. O perfil do Vídeo nas Aldeias tem quatro mil e tantos amigos no Facebook e, entre eles, provavelmente 40% são jovens e adolescentes indígenas. Você vê que há uma necessidade de abertura para o mundo, de criar laços de amizade, laços de aliança. Já sobre a questão Guarani Kaiowá, eu não costumo buscar informação no jornal, os índios têm um blog, uma página, e postam diariamente o que acontece em toda a região. Eles têm uma articulação para a circulação de informação, as redes sociais viraram, realmente, um novo espaço de circulação de informação livre. Tem do melhor e do pior, mas você pode criar a sua rede de informação e por aí se cria uma nova perspectiva. O genocídio Guarani Kaiowá acontece há pelo menos três décadas, mas ele conseguiu chegar ao público brasileiro, de fato, agora nessa nova era.

Acesso – Qual sua avaliação das políticas públicas para o fomento do audiovisual indígena?

V. C. – A gente teve um programa na TV que foi de suma importância, que mostrava a necessidade de um espaço indígena na TV pública. Mas houve um retrocesso tão grande na política cultural brasileira... O Vídeo nas Aldeias, por exemplo, ganhou um grande impulso na era Gil [período em que Gilberto Gil foi ministro da Cultura], com o Cultura Viva, para financiar oficinas, equipar comunidades indígenas. Todo esse investimento na diversidade, em dar voz a quem nuca teve voz, tudo isso acabou, foi desmantelado, burocratizado.

Acesso – No ano passado foi encaminhada, à Secretaria do Audiovisual, a Carta de Diamantina, demandando uma política específica para o audiovisual indígena.Qual foi a resposta?

V. C. – Nem sequer responderam. A gente pediu uma audiência para conversar, trocar ideias juntos, mas enfim. Hoje em dia, a área em que o Vídeo nas Aldeias tem um know-how, em que produz coisas interessantes, é na formação. Mas não tem mais, no Brasil, verba para formação. E formação gera produção. Estamos, inclusive, fechando uma parceria com o Mídia Ninja para equipar os índios do Mato Grosso do Sul. A gente vai fazer uma divulgação em streaming ao vivo da audiência pública marcada para fevereiro, dos depoimentos, das atrocidades que foram cometidas. Eu acho que está mais fácil trabalhar por esses canais do que voltar a ter um programa na TV Brasil.

Retirado daqui em 22/01/2014.

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Inscrições para o FESTTO 2014 estão abertas

Do Grupo In-Cena de Teatro

O Grupo In-Cena de Teatro lança o edital de seleção dos espetáculos para o FESTTO 2014 - Festival Nacional de Teatro de Teófilo Otoni.

Este ano será realizado entre os dias 19 e 22 de junho. Serão selecionados 08 espetáculos, sendo 04 na modalidade palco e 04 rua.

As inscrições serão do dia 13 de janeiro até 15 de março. Poderá se inscrever grupos de todo país e do exterior.

O grupo com maior numero de prêmios ganhará R$ 2.000,00 (dois mil reais). Confira o edital e participe.

Baixe o edital e os documentos necessários para inscrição no link abaixo, é só clicar em arquivo e depois fazer o Download:

Edital e anexos - http://migre.me/hpYeK

Retirado em 17/01/14, daqui.

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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rouanet em queda?

Mais um artigo para pensarmos sobre o financiamento ao setor cultural.

Do Cultura e Mercado

Por Patrícia Lima

Foto: FutUndBeidlO valor total captado via Lei Rouanet em 2013 não fugiu à regra dos últimos dois anos. O número de projetos apresentados e aprovados aumentou, mas o patrocínio diminuiu. Importantes captadores de recursos já previam essa redução do valor em relação aos anos anteriores e creditam a queda principalmente à diminuição dos investimentos da Petrobras, principal empresa patrocinadora e que, em 2013, encontrou um dos seus piores anos, perdendo cerca de R$ 40 bilhões em valor de mercado.

“Todas as outras empresas patrocinadoras também tiveram um resultado pior em relação ao ano passado”, afirma Sérgio Ajzenberg, da Divina Comédia. Para ele, isso gera insegurança por parte das empresas neste tipo de investimento. Além disso, ele acredita que a competição com as Copas das Confederações e do Mundo atrapalharam os investimentos em cultura no geral. De acordo com Ajzenberg, em 2013, a Divina Comédia diminuiu os resultados da Rouanet em 40%.

O responsável pelo projeto Fronteiras do Pensamento, Pedro Longhi, diz que está curioso para ver a captação final. “Para mim esse ano foi o mais difícil. Tive de trabalhar mais para captar menos”, relata. Ele afirma que o Fronteiras do Pensamento captou cerca de 15% a menos em 2013. As empresas que Longhi visitou tiveram uma margem lucro menor no ano. “A Petrobras é um grande exemplo. Acredito que por causa dela muitos projetos devem estar em situações trágicas”.

Renata Rödel, da Base 7, diz que apesar de sentir um “apertar do cinto”, era difícil afirmar se a captação foi menor porque a estratégia em relação à Rouanet, tanto por parte dos captadores como dos patrocinadores, é diferente hoje. “As empresas vieram nos dizer que preferem aportar a verba no começo de 2014, porque a maioria dos nossos projetos está marcada para o segundo semestre. E nós também temos que segurar um pouco os projetos aprovados. Antes era possível escrever um grande número de projetos e depois ir atrás de patrocinadores. Hoje não é mais assim. Temos que encontrar local e patrocinador primeiro.”

Perspectivas – Para Ajzenberg, 2014 será um ano melhor para a cultura devido ao esgotamento do investimento em esporte e ao fechamento de empresas como a GEO. Ele prevê um aumento de 10% a 12% no investimento cultural, com ou sem Rouanet.

Já Longui está preocupado. “Se a captação diminuir na mesma proporção em 2014, os produtores vão ter que repensar seus produtos. Parece haver uma nova realidade no mercado cultural – ou o foco das empresas está em projetos diferentes do meu, ou é uma mudança de quantidade de verba disponível no mercado mesmo”, afirma.

Para ele, a Copa do Mundo vai influenciar negativamente a cultura. “Tirei quatro eventos do calendário para não concorrer com os jogos, por exemplo. E tive uma reunião recentemente com um banco que me explicou que só vai investir em projetos que tenham alguma relação com a Copa”.

Renata Rödel confirma as impressões de Longui: “ A gente tem tido muita procura de mostras voltadas para a Copa.

Veja a comparação anual dos números da Rouanet abaixo:

tabela rouanet

*Matéria atualizada em 14/1, após informação de que a IMX não teve suas atividades encerradas, conforme havia sido dito por um de nossos entrevistados.

Retirado em 14/01, daqui.

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Como os museus podem contribuir com a educação e ampliar o repertório cultural

Do Blog Centro de Referências em Educação Integral/Jornal GGN

Por Ana Basílio e Jéssica Moreira

Os museus são espaços de memória e possibilitam o encontro da educação com a cultura. Além de serem locais de grande contribuição histórica, podem estabelecer diálogos diferenciados entre alunos e professores e diversificar as fontes de aprendizagem, já que contam com a interação de diversos atores, como especialistas, moradores, colecionadores, enfim, pessoas e obras que tenham a dizer sobre uma determinada cultura ou período histórico. Essas características também fazem dos museus locais de pesquisa e de cidadania.

A educação museal valoriza uma aprendizagem que extrapola os muros da escola e interage com a cidade em suas múltiplas dimensões. A ideia converge para o conceito de educação integral que prevê, entre outras coisas, a construção do conhecimento a partir da integração da escola com outros equipamentos públicos, como ONGs e instituições de outras naturezas, que estimulem a aproximação de alunos com atividades extracurriculares.

Nesse contexto, se evidencia o papel formador dos museus e também a demanda de que se estabeleça nesses locais áreas educativas que possibilitem uma maior interação com o público professores e alunos. As visitas e passeios a esses endereços podem render boas reflexões e debates; no entanto, a navegação pelos sites dos museus e a possibilidade de tours virtuais nos estabelecimentos também são uma oportunidade de pesquisa e desenvolvimento.

Aproveite a lista do Mundial de Educação e trabalhe os museus virtuais como ferramenta de aprendizagem entre seus alunos.

No Museu Virtual de Brasilia, em Brasília (DF), é possível ter acesso ao histórico do museu, bem como à sua midiateca, que reúne quatro vídeos da construção de Brasília; é possível planejar a exibição de um filme por aula e fazer um trabalho de pesquisa mais aprofundado sobre cada período a partir de questões: Qual o cenário brasileiro na época da construção de Brasília? Quem foram as primeiras pessoas a morar em Brasília (de quais classes sociais?). Para apoiar o trabalho, utilize os documentos disponíveis para download – é possível baixar documentos do Plano Piloto – e consultar a linha do tempo da cidade. Em um tour virtual, é possível visitar a Catedral, o Catetinho, o Congresso Nacional, o Pontão do Lago Sul, a Ponte JK e a Torre de TV

O Museu Casa de Portinari fica localizado na casa onde Cândido Portinari residiu durante sua infância e juventude, na cidade de Brodowski, interior de São Paulo (SP). O local é um convite ao conhecimento sobre a obra do artista, sua vida e questões ligadas ao seu tempo. Além de inspirar um trabalho de pesquisa, a obra de Portinari pode ser pano de fundo para um trabalho artístico junto aos alunos. A sugestão é que cada aluno identifique um traço marcante de sua obra e a reproduza em uma criação própria – é possível utilizar cartolina, canson ou outro material de sua preferência. No site ainda é possível realizar uma visita virtual, e visualizar algumas dependências do estabelecimento como fachada, entrada, quarto do artista, ateliê, cozinha, entre outras.

O Museu da República, que ocupa o antigo Palácio do Catete, que durante 63 anos foi o coração do Poder Executivo no Brasil, é um convite à retomada histórica no Rio de Janeiro (RJ). Os professores podem explorar o contexto da inauguração do museu, pedindo que os alunos identifiquem pontos econômicos, políticos e sociais do Rio de Janeiro no período. Outra possibilidade é avaliar a arquitetura local, seus traços marcantes, e estabelecer comparativos com as formas arquitetônicas modernas, de forma a explorar as características de cada sociedade. Por meio de um tour virtual, é possível conhecer algumas dependências do museu e colher informações épicas.

É no Museu de Artes e Ofícios – MAO, localizado na Estação central de Belo Horizonte (BH), que está representado o acervo do universo do trabalho, das artes e dos ofícios no Brasil, No espaço é possível encontrar objetos, instrumentos de trabalho e utensílios do período pré-industrial brasileiro. Professor, é possível convidar os alunos a conhecer mais sobre a vida pré indústria para que entendam como era a relação do homem com o trabalho antes da chegada das máquinas; como eram as produções; os custos; a demanda pelos produtos. O acervo do museu foi doado por uma colecionadora e empreendedora cultural Angela Gutierrez; a partir dessa informação, é possível pedir que os alunos pesquisem sobre outros colecionadores da região – o que pesquisam, há quanto tempo, quantas peças têm e qual a contribuição dessas pessoas com a memória e com a história de um território.

Em 2013, a capital do estado do Mato Grosso, Cuiabá, comemorou 294 anos. Em homenagem à cidade, o Núcleo de Documentação e Informação Histórico Regional da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com o Museu da Imagem e do Som (MISC), organizou uma exposição virtual  reunindo 35 imagens históricas sobre o cotidiano da população capital mato-grossense e suas manifestações culturais. Os destaques  foram para as transformações que a cidade sofreu ao longo do tempo, como obras de pavimentação; festa de São Benedito; ou o carnaval cuiabano. A exposição virtual é uma boa pedida para professores que desejam mostrar aos alunos que a história de uma cidade se dá além de monumentos oficiais; que ela se constitui também por meio de manifestações artísticas e urbanas, que ditam o modo de viver de determinada população. Os professores podem pedir aos estudantes que procurem em casa ou bibliotecas de seus bairros ou cidades imagens que demonstrem essa história “não contada” das ruas e moradores locais.

O site do Museu da Bacia do Paraná é uma possibilidade para entrar em contato com a história da região norte do Paraná. O espaço funciona na primeira casa de Maringá, imóvel onde residiu Alfredo Werner Nyffeler e sua família, o primeiro morador da região. No endereço é possível encontrar uma exposição virtual com fotos de personalidades e espaços públicos da cidade. Professor, visite as fotos juntos com os alunos e extraia o máximo de informações da cidade. Você pode pedir que os alunos contem a história de suas vidas, por exemplo, para que eles entendam como as fotografias podem construir uma narrativa ou resgatar memórias.

Em uma linha do tempo de 1920 a 1960, o Museu Virtual do Transporte conta a história de Fortaleza (CE) por meio do transporte urbano. Imagens remontam ao tempo que o transporte ainda era feito por tração animal, inaugurado em 1880, dando início ao transporte de passageiros por bondes em Fortaleza. Depois, esse tipo de transporte deu espaço aos bondes elétricos e, mais tarde, aos ônibus movidos a gasolina, como se conhece nos dias de hoje. São diversas fotos, com as quais os professores podem trabalhar diversas disciplinas, como física e química, para falar sobre a manutenção desses modelos e formas de combustão. Além disso, os professores podem utilizar o museu virtual para explicar a importância do transporte nos espaços urbanos, como ele foi se transformando e fazer também um link com as recentes manifestações acerca do transporte público, que ocorreram em 2013.

A cultura indígena é bastante presente em Manaus (AM). Para evidenciar os hábitos e costumes indígenas e mesmo a contribuição desse povo no território, a sugestão é o site do Museu do Índio (Funai). O site permite pesquisa a partir de um acervo online de documentos. Professor, incentive os alunos a descobrirem quais tribos se encontram em Manaus e em quais regiões especificamente; ajude-os também a verificar o que a cidade modificou na vida dos indígenas; que tipo de adaptação teve de ser feita; quais são as principais necessidades desses povos.

O Museu do Ex-Voto- Casa dos Milagres, localizado no centro histórico da capital do Rio Grande do Norte, Natal, pode ser visualizado também pela internet, em uma página que permite ao usuário visualizar as principais obras de um total de 2.552. São diversas imagens sacras e objetos de santuários do Rio Grande do Norte, com destaque para a religiosidade das populações nordestinas. A mostra serve de resgate, valorização e preservação da cultura brasileira por meio de obras religiosas. O professor pode utilizar o tour para mostrar aos estudantes as peculiaridades da região nordestina, assim como trazer o artesanato e arte regional para dentro da sala de aula. É uma boa pedida também para fazer uma linha do tempo da história brasileira e das diversas manifestações religiosas existentes no país. Os professores podem pedir aos estudantes que façam desenhos sobre as principais formas de fé em suas cidades.

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) é uma referência em Porto Alegre (RS) no que diz respeito ao estudo, conservação e divulgação da arte, compondo um panorama abrangente de quase todos os movimentos artísticos que se desenvolveram na região desde meados do século XIX até a contemporaneidade. O endereço reúne obras e expressões de artistas gaúchos essencialmente na pintura, como Maristany de Trias, Leopoldo Gotuzzo, Libindo Ferras, João Fahrion, Edgar Koetz, Carlos Petrucci, e outros representantes de diversas gerações. Professor, é possível organizar os alunos para que pesquisem sobre a arte predominante na região, as diversas gerações da pintura e suas características marcantes e seus principais representantes. É possível organizar uma mostra no colégio sobre cada um dos artistas pesquisados, para que os alunos saibam da contribuição estética de cada um deles. Em paralelo, é possível estudar quais movimentos compunham a cena artística da Europa, América, explorando os nomes mais importantes.

Para quem ainda não conhece a capital pernambucana Recife (PE), vale a pena visitar o site Recife Virtual, do Governo Estadual Pernambucano, que possui uma página onde o internauta pode realizar um tour virtual pelos principais pontos turísticos do local: museus, teatros, parques, praças, entre outros. Aos professores, o site pode facilitar a localização de pontos históricos da cidade e também inspirá-los a realizar atividades que também resgatem os principais teatros, museus, praças e parques que estão em volta de cada unidade escolar.

Em Salvador (BA) a sugestão é o site da Fundação Casa de Jorge Amado. No endereço é possível encontrar a biografia do escritor e conhecer grande parte de suas publicações, além dos diversos prêmios que elas renderam. No mesmo endereço também está disponível a biografia de sua mulher e também escritora Zélia Gattai e algumas de suas publicações. Na área acervo estão disponíveis vídeos, fotografias e trabalhos acadêmicos realizados sobre Jorge Amado e suas principais características. Professor, o material pode servir de base para um trabalho de pesquisa sobre o escritor para que os alunos entendam as características marcantes de sua literatura; procure levantar as temáticas mais conduzidas por Jorge Amado e também explorar com os alunos como Salvador era retratado pelo escritor em suas obras.

Retirado em 14/01/14, daqui.

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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Os donos da cultura

Comecemos oficialmente 2014 com algumas reflexões, já que estamos em um ano eleitoral, nada como discutirmos um bocadinho sobre a política cultural. Iniciemos com o panorama nacional:

Do Observatótio da Imprensa

Por Paulo Vasconcellos *

Reproduzido do suplemento “Eu & Fim de Semana” do Valor Econômico, 27/12/2013; intertítulos do OI

No ano em que brasileiros protestaram nas ruas e condenados pelo mensalão foram para a prisão, a cultura do país gritou. Cantores do primeiro time da MPB elevaram a voz para defender seus interesses; artistas plásticos, galeristas e colecionadores criticaram supostas intervenções estatais no mercado e um coro diverso voltou a questionar as engrenagens da Lei Rouanet, principal mecanismo de financiamento à cultura. Ficam para 2014 possíveis regulamentações sobre questões que embaralham o privado e o público.

O debate sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) dos artigos 20 e 21 do Código Civil no Supremo Tribunal Federal (STF), que pede o fim da autorização prévia para as biografias, estigmatizou meia dúzia de medalhões da MPB como inimigos da liberdade de expressão. De um lado, contrários à autorização prévia, estão nomes como Fernando Morais (autor de “Olga”); Ruy Castro (“Carmen – Uma Biografia”) e Lira Neto (“Getúlio – Uma Biografia”). Do outro, estão cantores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos, que, em 2007, proibiu, por meio de ação na Justiça, a circulação do livro “Roberto Carlos em Detalhes”, de Paulo Cesar de Araújo.

Inicialmente unidos no grupo Procure Saber, Roberto Carlos e os músicos tomaram rumos diferentes após divergências públicas sobre o tema. Procurada pelo Valor, a porta-voz do grupo, a produtora Paula Lavigne, preferiu não se pronunciar. O processo vai entrar na pauta de julgamentos do STF no primeiro semestre de 2014.

Pelo mundo, são vários os exemplos de legislações mais liberais em relação a biografias não autorizadas. “Nem na França, que protege a privacidade das pessoas, existe o mecanismo de consentimento prévio”, afirma Gustavo Binenbojm, advogado da Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel), que entrou com a ação direta de inconstitucionalidade no Supremo. A cantora Carla Bruni-Sarkozy, mulher do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, teve que engolir em seco recentemente o lançamento de uma biografia sobre ela. Nos EUA, onde as biografias representam um segmento importante do mercado editorial e movimentam por ano US$ 15 bilhões, poucos artistas ainda tentam barrar obras que expõem suas vidas.

Em “Oprah”, escrito em 2010 por Kitty Kelley, a célebre autora de biografias não autorizadas diz que a apresentadora Oprah Winfrey, uma das personalidades mais influentes dos EUA, teve romances secretos com mulheres e se prostituiu na adolescência. Frank Sinatra (1915-1998) acionou advogados, esperneou contra a invasão de privacidade, mas após um ano retirou a ação em que pedia a proibição de “His Way”, lançada por Kitty em 1986. O protesto do cantor só ajudou a alavancar as vendas do livro, que ficou 22 semanas na lista de mais vendidos.

Algumas das informações mais reveladoras sobre personalidades da história são conhecidas por meio de biografias não oficiais. Se dependesse de autorização, talvez o inglês Ian Kershaw não tivesse revelado nos dois volumes (1998 e 2000) da biografia de Adolf Hitler (1889-1945) que o ditador alemão tinha controle direto dos crimes perpetrados por seu regime, nem o americano Joseph Lelyveld poderia ter publicado em “Mahatma Gandhi e Sua Luta com a Índia” (2011) que o herói indiano nem sempre foi um pacifista anticolonialista.

Direito autoral

No Brasil, a necessidade de autorização dos biografados também tem impactos no cinema. “Outro Sertão” (2013), documentário de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela sobre Guimarães Rosa (1908-1967), só é exibido fora dos circuitos comerciais porque a família do escritor não autorizou a obra. Um dos vetos mais famosos por parte de familiares é relativo a “Di Glauber” (1977), curta-metragem de Glauber Rocha (1939- 1981) sobre Di Cavalcanti (1897- 1976), que traz imagens do velório e funeral do pintor.

O diretor Antônio Carlos da Fontoura nem cogitou fazer “Somos Tão Jovens” (2013) sem a permissão da família de Renato Russo (1960-1996) e de todos os músicos retratados no longa-metragem. “Biografias literárias tomam muito tempo, mas têm menor custo. Um filme custa R$ 6 milhões, R$ 7 milhões, R$ 8 milhões. Seria uma loucura não poder estrear depois.”

No mercado editorial, a lei tem provocado pelo menos três efeitos nocivos. O primeiro é o efeito silenciador: 25 livros já foram recolhidos pelas editoras por decisão judicial. O segundo efeito é uma distorção, em que a autorização, quando concedida, é condicional. O biografado ou os familiares sempre querem ver antes o que foi escrito e costumam fazer alterações na obra. Por fim há o efeito balcão de negócios em que as autorizações dependem de pagamento da licença.

A lei dá margens para diferentes interpretações. O artigo 20 do Código Civil brasileiro estabelece que “a divulgação de escritos, a transmissão da palavra ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas”. Já o artigo 21 diz que “a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”. O inciso X, do artigo 5 da Constituição Brasileira, afirma que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Os defensores da inconstitucionalidade rebatem com o inciso anterior, o IX, que afirma: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. A favor dos defensores da liberdade de expressão há precedentes recentes do STF. Em 2009, com sete votos dos 11 ministros da corte, a Lei de Imprensa, um dos últimos resquícios legais da ditadura (1964-1985), foi derrubada. O Supremo também arquivou, no mês passado, a tentativa do cantor e compositor João Gilberto de proibir o livro “João Gilberto” (ed. Cosac Naify), uma biografia não autorizada escrita por Walter Garcia.

Em outra “briga” antes da divisão, Roberto, Caetano e Erasmo Carlos chegaram a posar unidos nas sessões da Câmara dos Deputados e Senado que aprovaram em julho as mudanças na Lei dos Direitos Autorais. A nova regra destina 85% da arrecadação a compositores e intérpretes – 10% mais do que recebem atualmente. O Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais (Ecad) e as seis associações que o integram, que antes ficavam com 25%, agora vão receber 15%. No ano passado, o Ecad arrecadou R$ 624,6 milhões em direitos autorais, distribuiu R$ 470,2 milhões e ficou com R$ 172,4 milhões. A lei 12.853 também procura dar maior transparência à gestão dos valores pagos pela execução de obras protegidas por direitos autorais, inclusive em produções audiovisuais.

O Ecad e as seis associações que compõem o escritório terão que se habilitar junto ao Ministério da Cultura para comprovar que têm condições de administrar os direitos de forma eficaz. As regras estão em vigor desde o dia 13, mas na prática os donos dos direitos autorais talvez tenham que esperar mais até perceberem a diferença na conta bancária. O Ecad recorreu ao STF contestando a constitucionalidade da lei com base no argumento de que ela dá ao Estado poder para interferir na gestão de uma atividade de direito privado.

Antes já era assim, mas desde a extinção do Conselho Nacional do Direito Autoral, no governo Fernando Collor (1990-1992), o escritório estava livre de controle. O resultado foi um aumento tão grande no volume de denúncias contra a entidade que o Senado criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as irregularidades.

Uma mudança mais completa da Lei dos Direitos Autorais (lei nº 9.610), que é de 1998, deve esquentar ainda mais o ambiente. Em estudo desde que Gilberto Gil assumiu o Ministério da Cultura, no primeiro governo Lula (2003-2006), ela tramita com lentidão. A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados realizou audiências públicas com 15 representantes de diversos setores ligados ao direito autoral, mas não avançou muito além disso à espera de um anteprojeto de revisão que o governo ficou de mandar neste ano. A proposta não chegou ao Congresso. Uma parte da discussão deve ser desviada para o debate em torno do Marco Civil da Internet, mas nada que tire o foco do MinC.

Direito de preferência

Um debate intenso, mas de menor apelo público, uma vez que seus personagens não são tão populares quanto Roberto Carlos e Chico Buarque, foi levantado pelo setor das artes plásticas. O decreto presidencial publicado em outubro para regulamentar o Estatuto dos Museus, determinando a criação de um inventário nacional de obras de arte, deixou artistas, galeristas, colecionadores e marchands em pé de guerra contra uma suposta tentativa de intervenção estatal no mercado.

“O Estado é incapaz de fazer o inventário das obras de arte que estão nos palácios da Alvorada e do Itamaraty ou nos acervos da Caixa Econômica Federal e do Banco Central, mas se arroga o direito de policiar as obras de arte privadas. Essa lei veio para policiar um mercado que não precisa de polícia”, diz o presidente da Bolsa de Artes do Rio de Janeiro, Jones Bergamin, dono de uma coleção que inclui obras de Iberê Camargo (1914-1994) e Volpi (1896-1988). Durante dez dias, a reportagem solicitou entrevista à ministra da Cultura, Marta Suplicy, sobre questões como o Estatuto dos Museus, biografias e as mudanças na Lei Rouanet. A assessoria de imprensa do ministério disse que Marta não poderia atender.

“Há um fogo cruzado de versões, mas o espírito da legislação não está em choque com o mercado. O decreto não defende o interesse estatal, mas o interesse público”, afirma Ângelo Oswaldo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vinculado ao Ministério da Cultura.

Oswaldo foi o primeiro integrante do governo que sentou com representantes do setor desgostosos com o decreto 8.124, de 17 de outubro de 2013, regulamentando a lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto dos Museus. Há ao menos dois pontos polêmicos no decreto. Um prevê que uma obra de arte pode ser declarada de interesse público, o que daria ao Estado preferência de compra. O outro determina que o colecionador será notificado, fiscalizado e até punido pelo Ibram se a obra não estiver sendo bem conservada. Num encontro em São Paulo no mês passado que durou três horas, com Oswaldo, artistas plásticos, galeristas, colecionadores e marchands, ficou decidido que eles vão encaminhar sugestões por escrito. O trabalho está a cargo de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. O diálogo aparou algumas arestas.

“A intenção do decreto é boa, porque cuida do patrimônio histórico, mas deixa muitas dúvidas. O importante foi que a gente ouviu e foi ouvida”, diz Alessandra D’Aloia, sócia-diretora da Galeria Fortes Vilaça, de São Paulo, que representa Adriana Varejão e Beatriz Milhazes, duas artistas brasileiras recordistas em leilões internacionais.

“Há exagero dos críticos em dizer que o decreto prevê o confisco de obras de arte, mas há pontos que precisam ser aprimorados. Tem obra de arte que precisa de restauro urgente, não pode depender de autorização do Ibram”, afirma o presidente do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Chateaubriand. “A lei é boa, o problema é o decreto. Não dá para anulá-lo, mas na instrução normativa é possível corrigir pontos nebulosos, como o tempo que o Estado tem para exercer o direito de compra de uma obra considerada de interesse público”, diz Eduardo Saron.

Apesar do barulho, o debate parece ter um ponto de consenso: o inventário das obras de arte. A França não teria o Louvre, nem a Espanha o Museu do Prado, pelo menos nos padrões que se conhece hoje, se não houvesse uma legislação que protegesse o patrimônio cultural. Na França, por exemplo, onde a política formal do inventário é de 1837, existem atualmente cerca de 40 mil monumentos no Inventário Complementar dos Monumentos Históricos.

“Mudar a Lei Rouanet é importante, até porque o mercado se tornou dependente químico dos incentivos culturais”, diz Claudio Botelho

O acervo de mais de 380 mil itens do Museu do Louvre, que foi visitado por 9,7 milhões de pessoas em 2012, foi construído com obras confiscadas da família real e dos aristocratas fugidos da Revolução Francesa, nas conquistas das guerras napoleônicas, por doações, mas também por intervenções do governo francês. Ainda assim, a cada ano desaparecem do país entre 6.000 a 7.000 obras e objetos de artes. Na Carta de Atenas, que reúne as conclusões da conferência da antiga Sociedade das Nações, realizada em 1931 para tratar da proteção dos monumentos culturais, já se preconizava a publicação de inventários dos monumentos históricos nacionais. Quase todos os países europeus são dotados de dispositivos que proíbem ou limitam as exportações de bens culturais.

“Há um lado polêmico porque as pessoas não entenderam direito, mas também porque há o temor de que o inventário implique a declaração de bens num mercado meio informal”, afirma Ângelo Oswaldo, do Ibram. Em 2011, o país registrou um recorde nas exportações de obras de arte, com uma movimentação de US$ 60 milhões, mas isso é quase tudo o que se sabe oficialmente sobre o setor. Colecionadores e galeristas gostariam de discutir antes a carga tributária que pagam para trazer ao país uma obra feita por um artista brasileiro que more no exterior. Hoje, esse imposto chega a 45%.

Para alguns entrevistados, o que é culturalmente relevante para o país, como obras do barroco, já foi tombado. “Os museus mantidos pelo poder público estão caindo aos pedaços. Não há dinheiro para a restauração de obras de arte, mas agora se pretende com uma legislação inconstitucional, que fere o direito à propriedade, desapropriar obras de arte como se isso fosse a mesma coisa que desapropriar casas para a passagem de um viaduto”, diz Bergamin. “O direito de preferência do Estado só pode ser exercido em leilões públicos e se o Estado tiver dinheiro para comprar. Não vou entrar numa galeria ou numa coleção e dizer que o Estado quer ficar com a obra de arte”, afirma Oswaldo.

Proposta de júri

O próximo grande debate na fila é a nova Lei Rouanet, o Procultura. O projeto de lei foi aprovado no fim do mês passado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, para o Senado. Se não tiver mudanças significativas, pode ser aprovada terminativamente, isto é, sem ir a plenário.

O projeto original propõe o fortalecimento do Fundo Nacional de Cultura, que poderá fazer empréstimos e repassar recursos para fundos municipais e estaduais, amplia as duas faixas de renúncia fiscal (de 30% e 100%) para mais quatro (60%, 70%, 80% e 90%) e aumenta a atratividade do Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart), fundo de capitalização na Bolsa de Valores para atrair investimentos.

A ideia era dar maior transparência e ampliar os benefícios da Lei Rouanet, mas nem isso livrou o projeto da acusação de tentativa de dirigismo do Ministério da Cultura, na época (2008-2010) comandado por Juca Ferreira, atual secretário municipal de Cultura de São Paulo.

O projeto chega agora à CCJ com mais dois dispositivos. Um transfere parte dos recursos da renúncia fiscal para o Fundo Nacional de Cultura. Outro cria o conceito de território certificado, que permite, por exemplo, que o bairro do Bixiga, em São Paulo, ou o auto do Cavalo Marinho, em Recife, sejam considerados de relevância cultural e recebam até 100% de incentivos fiscais em projetos de preservação.

“Algumas críticas podem estar deslocadas no tempo. Não se está tirando nada de ninguém”, diz o deputado federal Pedro Eugênio (PT-PE), que relatou o projeto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. A necessidade de mudança se tornou evidente a partir da constatação de que, embora tenha ajudado no crescimento do setor (que hoje responde por 16% do PIB brasileiro), a Lei Rouanet (criada há 17 anos) não impediu que 19 segmentos de interesse histórico e cultural (como bibliotecas e acervos) sobrevivam com apenas 14% dos recursos movimentados pela renúncia fiscal.

“Mudar a Lei Rouanet é importante, até porque o mercado se tornou dependente químico dos incentivos culturais. Mas é preciso cuidado para que a mudança não se torne uma pedra num caminho que custou muito para ser pavimentado”, afirma Claudio Botelho, um dos renovadores do teatro musical no país ao lado de Charles Möeller.

Uma pesquisa encomendada ao Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) revelou que nos dez primeiros anos de existência da lei apenas 10% do valor global investido em patrocínios foi constituído por recursos próprios das empresas. O restante era dinheiro público, facilitado aos produtores culturais pela renúncia fiscal permitida ao mecenato.

Em outras palavras, empresas se beneficiam da lei, patrocinando projetos que “agregam valor” às suas marcas –, mas quem pagava a conta era o governo. Além disso, apenas 3% dos proponentes, estabelecidos no eixo Rio-São Paulo, captaram mais de metade dos recursos. As empresas patrocinadoras, por sua vez, se acostumaram com os incentivos fiscais de 100% do valor do projeto permitidos para certos segmentos culturais (como artes cênicas e música erudita ou instrumental) e deixaram de injetar recursos próprios em outras áreas culturais.

Foi com base na Lei Rouanet que o Rock in Rio deste ano obteve do Ministério da Cultura autorização para captar R$ 12 milhões, apesar de ser um dos eventos mais bem-sucedidos de público e marketing do país, com faturamento de R$ 87,9 milhões só com a venda de ingressos. Procurada pelo Valor, a assessoria de imprensa da empresa Rock in Rio não retornou o pedido de entrevista com os diretores até o fechamento desta edição.

Um dos casos mais polêmicos envolveu a autorização para que o estilista Pedro Lourenço captasse até R$ 2,8 milhões, via Lei Rouanet, para a semana de moda em Paris, em outubro. O projeto havia sido rejeitado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), grupo que escolhe quem pode captar por meio da lei. Uma intervenção de Marta Suplicy reverteu a decisão e gerou um debate sobre a inclusão da moda entre os setores que podem recorrer às leis de incentivos – o estilista não conseguiu captar o montante. No Procultura há a proposta de criação de uma espécie de júri do Ministério da Cultura encarregado de definir que projetos prescindem de recursos incentivados e devem buscar dinheiro no Ficart. Em 2014, os bastidores da cultura prometem ser a atração principal.

* Paulo Vasconcellos, para o Valor Econômico

Retirado em 06/01/13, daqui.

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