sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Artesanato Real Valor





É possível participar de uma discussão internacional sobre artesanato ao falar da produção existente na Região do Vale do Mucuri e Jequitinhonha sem correr riscos de passar despercebido.
Essa arte tem ganhado projeção mundial nos últimos anos por ser um trabalho único, que alia o uso de recursos naturais abundantes à prática rudimentar, à rusticidade presente em cada peça, e, acima de tudo, à fidelidade aos traços culturais característicos do ambiente em que é produzida.
Sabe-se, no entanto, que a prática desta atividade cultural enfrenta grandes dificuldades para se consolidar como uma atividade econômica, até mesmo no cenário nacional. Os fatores influenciadores desta problemática são tantos que não caberiam neste artigo, mas serviram de sustentação para várias teses.
Não obstante, vale aqui destacar a influência da imagem social dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha na construção da imagem específica do artesanato nela produzido e a incisiva participação dos meios de comunicação de massa para a sua consolidação.
Ao longo do tempo, criou-se a “cultura” de identificar os Vales do Mucuri e Jequitinhonha a partir das dificuldades sociais e ambientais que enfrentam.
Uma análise quantitativa e qualitativa da mídia de massa construída sob matérias publicadas no Jornal Estado de Minas, em período amostral pré-determinado, investigou a promoção da imagem dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri por este meio, bem como a opinião dos jornalistas.
Confirmou-se a hipótese de que essas matérias, quando não fazem referência direta aos problemas enfrentados pela região, são construídas de tal forma que não contribuem para a formação de uma imagem positiva.
Seca, fome, pobreza, miséria e o termo “vale da miséria” foram as principais referências identificadas. O fator mais alarmente é que estas relações não foram criadas apenas quando se tratava de um problema destas regiões, mas, principalmente, quando a intenção era qualificá-las positivamente.
Em complemento a esta análise, buscou-se entender as motivações que orientam a estrutura redacional destas matérias, através de uma entrevista semi-estruturada com jornalistas de diversos veículos de comunicação.
As opiniões, quase unânimes, apontaram uma tendência em se tratar estes Vales de forma pejorativa. Sem saber ao certo as principais motivações desse fator, relacionam uma “cultura” já arraigada entre diversos setores da sociedade que corroboram para a conservação da concepção de “vale da miséria”.
Esses jornalistas, importantes formadores de opinião, admitem que tal atitude, contribui incisivamente na formação de um sentimento assistencialista, tendo em vista tudo aquilo que se relaciona à região. O que acaba valendo não é o valor agregado destas produções, mas, sim, o interesse em ajudar “um povo tão debilitado”.
A questão é: os Vales do Mucuri e Jequitinhonha esbanjam artesanato de qualidade, integrado a uma cultura fascinante capaz de superar qualquer que seja o problema social. Mas quem se interessaria em investir em algo tão fortemente reforçado negativamente? Quem daria a devida credibilidade aos “vales da miséria”?
SILVA, Gabriela. A Associação Cultural Ferroviária BAHIA-MINAS. In Revista Mucury. set/2007,ano 1, nº 1. Teófilo Otoni, MG.p.04.








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A Associação Cultural Ferroviária BAHIA-MINAS

Estação 3 de Teófilo Otoni
É com conhecimento de causa que me dirijo aos leitores para dizer-lhes sobre as nossas intenções e propostas. Somos ex-funcionários, filhos de funcionários e amigos da Estrada de Ferro Bahia e Minas que nos reunimos mensalmente para discutir a reforma de nossa sede, criação de um museu, encontros e festividades. Nas ocasiões, os ex-ferroviários e cidadãos teófilo-otonenses e da região têm acesso à cultura ferroviária, documentos, fotografias e imagens, artigos e outros trabalhos sobre a BAHIA-MINAS, além de vestígios da estrada de ferro, como peças, ferramentas e outros. Nossos encontros tiveram início na década de noventa. Sabemos de nossas limitações e desafios, na medida em que trabalhamos e tratamos com a história viva dos nossos, pais e amigos.
Há quarenta e dois anos não mais circulam as locomotivas nessas terras, não mais se transporta nossa produção, madeira, cereais, gado e tantas outras cargas, por conseqüência de muita corrupção e prejuízos conforme alguns relatos. Ainda faltava boa gestão e também qualificação da mão-de-obra em todos os níveis, apesar da Escola do Senai, que formava os carpinteiros, funileiros etc. Sabemos, entretanto, que não existe mais madeira para a extração vegetal, não contamos com extração mineral, qual necessite de transporte ferroviário, pouca é, atualmente, a produção de cereais. Mas se fechássemos todas as empresas que hoje trabalham no prejuízo, no vermelho, teríamos de acabar com metade delas no país, começando pelos hospitais.
A nossa BAHIA-MINAS foi extinta como diversas ferrovias pelo Brasil afora. Concomitantemente erguia-se o Regime Militar trazendo o aquecimento da indústria automobilística e ampliação da malha rodoviária. A retirada de suas máquinas e trilhos foi tão rápida e radical que não ficou nem um metro de estrada para se mostrar aos mais novos. Seus funcionários à época foram transferidos para Belo Horizonte, Divinópolis, Lavras e outras cidades, parte deles aposentados. Hoje da BAHIA-MINAS só restou saudade e lamentações.
Não fiquemos neste romantismo.
O Vale do Mucuri é grande e valioso demais para ficarmos neste saudosismo. Existe um novo sentimento nas pessoas, novas idéias e projetos têm surgido. Grupos como o nosso estão se organizando e discutindo o perfil e futuro do Mucuri. Conscientizando a população da importância de Teófilo Otoni como cidade pólo na saúde, educação, comércio de pedras preciosas e semipreciosas, de gado, como idealizou seu fundador.
Hoje temos diferentes valores, as riquezas da madeira de lei e dos grandes fazendeiros mudaram de mãos, passando para as gemas, o eucalipto e produtos industrializados. Temos velhos e novos políticos defendendo esta bandeira, comerciantes e estudantes, a sociedade civil descobrindo que estamos entrando em um período de transformação, de metamorfose, finalmente saindo do engessamento que durara mais de quarenta anos. Coincidência ou não com a extinção da Estrada de Ferro BAHIA e MINAS.
DETREZ, Éder. A Associação Cultural Ferroviária BAHIA-MINAS. In Revista Mucury. set/2007,ano 1, nº 1. Teófilo Otoni, MG.p.04.

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quinta-feira, 13 de setembro de 2007

MODERNOS E/OU OPRIMIDOS





A participação dos “oprimidos” tem sido constantemente suprimida da história oficial do mundo moderno. Construiu-se uma história oficial que reproduz uma ideologia, uma história do colonizador e desbravador europeu, onde índios e negros estavam relegados a coadjuvantes – oprimidos, mas coadjuvantes. A ausência do oprimido como construtor de história torna inviável qualquer análise da cultura brasileira, da colonização do mundo contemporâneo. Assim, tento chamar atenção no sentido de que, para além de ser mero espectador das peripécias do elemento europeu que aqui aterrisou, índios e negros também participaram da construção da colcha de retalhos que é a cultura brasileira. O que não quer dizer que a relação racial fosse harmônica. Pelo contrário, a construção do país se deu sempre pela assimetria de forças, uma modernidade que se construiu na ponta da baioneta.

Certa vez, Euclides da Cunha enxergou o tamanho da ignorância no Brasil: a Guerra de Canudos tornava ululante o quanto os homens do litoral – os poderosos – não conseguiam enxergar um palmo à frente de seu nariz, querendo a todo custo destruir um arraial no sertão da Bahia porque esse representava, teoricamente, um grande perigo à república que se instalara recentemente na capital. Ignorância essa que não os deixava perceber que tanto fazia, fosse república ou monarquia, o impacto do sistema político adotado era nulo na vida daquelas pessoas. O sertanejo nordestino é, desde então, e desde sempre, um outro marginalizado na construção da história oficial do Brasil. Só aparece como peso morto a ser carregado – e massacrado – pelo sudeste.

A assimetria de relações é então mascarada na forma de termos considerados politicamente corretos. Imagens e palavras sobre o multiculturalismo e diversidade cultural inundam nossas curtas vistas. Esses dois termos-chave, apregoados como próprios do Brasil moderno, todavia, não têm sentido senão enquanto pura retórica, a qual não alcança o âmbito das coisas políticas. O discurso da beleza da diversidade e do multicultural inviabiliza o questionamento político do lugar das culturas negra, indígena, amazônica e nordestina – entre outras possíveis – na construção do Brasil, e, assim, a diferença é reduzida pelo multi, pelo pluri. Diferença cultural é diferença política, e está não se traduz em termos politicamente corretos e conservadores.
Modernos e Oprimidos

As implicações desse tipo de questionamento são amplas, mas me concentrarei num só ponto: necessidade de revisão, sobre outros parâmetros, da forma como o Brasil tem sido percebido por ele mesmo. A predominância de um ponto-de-vista do sudeste, por sua preponderância econômica dentro do país, ofusca todas as possibilidades de outras histórias do Brasil construídas por nordestinos, caboclos, negros e indígenas. E a ciência, que se postulava neutra, tem, no entanto, reproduzido esse ponto-de-vista e adotado a mesma perspectiva unilateral. O questionamento que aqui proponho, se por um lado não oferece bases para nenhuma revolução política, por outro deixa no ar que, aquela mesma ignorância de que já nos tinha advertido Euclides da Cunha, continua por aí e não permite que brasileiros tenham contato com outras histórias que podem também ser contadas.


NETO, Arnaldo Lôpo MontÁlvão. MModernos e/ou Oprimidos. In Revista Mucury. set/2007,ano 1, nº 1. Teófilo Otoni, MG.p.05.
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Mas por quê?

Sempre passamos pela fase do por quê. Uns na infância. Outros se arrastam nela o resto da vida. Desta vez, façamos um pequeno exercício. Pensemos por um instante mais um por quê. Por que nossa cidade, Teófilo Otoni, não é uma cidade histórica? Por que não somos uma referência quando pensamos em cultura?
Pois bem. Diz-se por aí de coisas enterradas, atrasos e tantas outras falácias ou inverdades... Creio que a resposta seja mais simples do que o enorme problema que tal questão se nos apresenta. Mas o que?
queria mesmo
Nada de otimismos falhos ou meramente estúpidos. A resposta sugerida é que não o é por nossa causa! No século XIX, quando surgimos como civilização ocidental, uníamos o mais moderno desta e estávamos povoados dos homens primeiros de nossas terras. Nossos morros já testemunharam grandes feitos do homem moderno, dos aguerridos indígenas - ambos nossos “pais” e “mães”. Nada de eufemismos. Defendo nosso resgate.
Não somos cidade histórica, pois não sabemos de onde viemos, como surgimos, não conhecemos nossa história, em suma. Nada de aforismos nem devaneios tolos. Temos uma riqueza de vestígios arqueológicos impressionante e invejável. Ainda, certa arquitetura requintada de alguns casarões e prédios públicos, além das personagens anônimas as quais carregam nos ombros e em suas mentes parte da história vivida, que temos ainda de ouvi-las.
Não temos referência cultural. Será? Temos por essas terras do Mucuri grandes artesãos, cesteiros (as), ceramistas, paneleiros (as), lapidários (as), entre outros tantos. Grandes cantores, alguns premiadíssimos nacionalmente. Tantos outros de tantos mais ofícios. Entretanto, se temos tantos valores históricos e culturais por que não somos valorizados por isso? Simples. Não, nós mesmos não os valorizamos, pois a maioria dos que lêem estas linhas desconhecem boa parte do que foi apresentado até agora. Mas calma. Ainda há tempo. Pois surgem novas perspectivas pra nosso cenário histórico cultural, que talvez há muito não se via. Tratamos de existências quando nos remetemos aos temas históricos e culturais, que um dia passam.
Somente quando nos conhecermos nos tornaremos interessantes aos nossos próprios olhos. Só assim poderemos ser notados, conhecidos e tomados como referência, com nossa identidade histórico-cultural resgatada. E é por meio de ações singelas, como ouvirmos os mais velhos e respeitarmos suas lembranças e experiências, seus modos de fazer as coisas.
Apenas quando soubermos o que comemos, como nos vestimos, falamos, construímos, pensamos, é que conseguiremos nos reconhecer detentores de um grande cabedal, ou seja, conjunto de coisas de valor.Portanto, neste pequeno artigo, procuro alertar para a urgência na valorização e resgate de nossa cultura e história. E, sem grandes feitos, sem grandes e caríssimos empreendimentos, precisamos aprender a observar e respeitar tantos saberes atualmente dispersos aos nossos desatentos sentidos de sociedade moderna ou pós-moderna. E que bom será quando pudermos nos orgulhar de sermos uma CIDADE HISTÓRICA e de REFERÊNCIA CULTURAL não só de Minas Gerais, todavia, de todo o Brasil, oxalá do Mundo.



BENTO, Bruno Dias. Mas por quê?. In Revista Mucury. set/2007,ano 1, nº 1. Teófilo Otoni, MG.p.01
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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A ASSOCIAÇÃO HISTÓRICO CULTURAL MUCURY

MUCURY LOGOMARCA 



Editorial:

Com muita satisfação apresentamos a Associação Histórico Cultural Mucury. Somos uma entidade sem fins lucrativos, fundada por um grupo de profissionais dispostos a trabalhar de forma incansável em favor do desenvolvimento social, econômico e cultural do Vale do Mucuri e região.
A Associação Histórico Cultural Mucury busca suprir as necessidades de resgate da identidade e da cultura do Vale do Mucuri, região Nordeste do Estado de Minas Gerais. Tais como a deficiência de espaços destinados à produção cultural e a relativamente pequena grade de programação artística regional disponibilizadas às distintas classes sociais. Entendemos como artistas os músicos, contadores de histórias, atores, artistas plásticos, além dos profissionais envolvidos no beneficiamento de gemas e artesãos, dentre eles, ceramistas, cesteiros, carpinteiros, lapidários, ourives, talhadores e outros.
Abrigar e promover as expressões culturais da nossa região e, assim, valorizar os patrimônios material e imaterial da região formada às margens do rio Mucuri: eis as nossas bandeiras. Lembrando que o patrimônio material consiste na produção artesanal e das artes plásticas em geral. Já o imaterial é toda a produção musical, expressão de religiosidade popular, casos da cultura regional, entre outros.
Ofereceremos ainda serviços à comunidade: Web Designer; Agência de Publicidade; Designer Gráfico; Elaboração, Incubação, Consultoria e Gestão de Projetos; Consultoria e assessoria a instituições do terceiro setor (Associações, Cooperativas, Ong's, OSCIP's); Elaboração e aplicação de Pesquisas Eleitorais e de Mercado, Perfis sócio-econômicos, culturais, entre outros. Além de disponibilizar alternativas culturais para o lazer e entretenimento da cidade e região, oferecer-se-á ao público em geral espaço para formação humana e artística. A valorização de nossa culinária regional é tida por nós como algo fundamental e, por isso, pretendemos criar uma praça de alimentação que dará a justa exclusividade aos gêneros produzidos na região, recorrendo, inclusive, à produtos da Rede de Economia Popular Solidária. Ainda, completa o leque de ações a exposição e comercialização permanentemente de produtos e peças artísticas e artesanais fabricados no Vale do Mucuri, realizando paralelamente estudos de viabilização que direcionem o escoamento de tais peças visando os mercados nacional e internacional. Enfim, os trabalhos estão direcionados no sentido de contribuir para a maior integração das comunidades que constituem a região.
Para tanto, precisamos de sua colaboração. E quais são as contrapartidas que oferecemos aos nossos colaboradores? São três: Institucionais - formas de aplicação das logomarcas dos parceiros nos materiais de divulgação; compromisso de mencionar as parcerias nos materiais de divulgação para imprensa e entrevistas concedidas. Estruturais - iniciativas de impacto social, de formação de público e reflexão. Exemplo: capacitação de jovens para a produção cultural, geração de oportunidade de trabalho para comunidades de baixa renda etc. E, finalmente, compensatórias - iniciativas que promovam a democratização do acesso aos bens culturais resultantes de um projeto. Exemplo: permitir acesso gratuito, ou a preços populares, para o público, portadores de necessidades especiais, portadores de doenças crônicas graves, idosos e estudantes de escolas públicas.
Enfim, a população do Vale do Mucuri contará com um amplo espaço dedicado ao desenvolvimento sócio-cultural, o MUCURY CENTRO DE PROMOÇÃO CULTURAL. Contando com várias ações e estratégias, sendo a REVISTA MUCURY um de nossos instrumentos de divulgação de projetos, idéias e parcerias. Desde já agradecemos e contamos com sua colaboração. Seja nosso parceiro.


BENTO, Bruno Dias. Editorial. In Revista Mucury. set/2007,ano 1, nº 1. Teófilo Otoni, MG.
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