sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ARTE E CULTURA EM FAVOR DAS VÍTIMAS DAS CHUVAS EM TEÓFILO OTONI

UTILIDADE PÚBLICA

BOA TARDE A TODOS.

ANDRÉ LUÍS DO GRUPO INCENA CONVIDA A TODOS OS ARTISTAS, INSTITUIÇÕES
CULTURAIS
E DEMAIS INTERESSADOS
PARA UM ENCONTRO COM O OBJETIVO DE PLANEJAR UMA AÇÃO EM AUXÍLIO ÁS VÍTIMAS DAS FORTES CHUVAS
DAS ÚLTIMAS SEMANAS EM TEÓFILO OTONI.


 

NESTE ENCONTRO SERÃO DISCUTIDAS AÇÕES, COMO A ELABORAÇÃO DE ESPETÁCULOS COM O FIM DE ARRECADAR DE FUNDOS E DONATIVOS DESTINADOS AOS VITIMADOS PELAS CHUVAS.


 

SERÁ NESTE SÁBADO, 29 DE NOVEMBRO ÀS 15H:00MIN NO AUDITÓRIO DO SESC-MG.

CONTAMOS COM SUA PRESENÇA E COLABORAÇÃO!

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A análise do espetáculo
 

Texto de autoria de  Manoel J. De Souza Neto, originalmente publicado no canal Tribuna do site Cultura e Mercado em 24/11/2008.

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Os olhares lançados sobre a política cultural neste artigo fazem mais sentido sendo abordados no contexto da redução apresentada anteriormente, onde a questão central no papel da política cultural esta no conceito: "A política cultural não é a cultura! Política é manutenção do poder! E cultura, neste contexto é apenas instrumento de poder!"

Para o poder a cultura é pano de fundo, entretenimento para as massas. Público na platéia, marionetes da história? No palco o governo e grande elenco na encenação do Homme de Paille* com seus bastidores, coxia, cortina, palco e alçapões. A ideologia na política cultural é instrumento de intelectuais, provedor de visões de mundo na formação do controle social. Pelo menos é assim que alguns pensadores a serviço do poder estatal insistem em tratar do assunto. A cultura é poder, nas bases, das cidades para o Brasil!

Misturando um pouco as teorias apresentadas por Gramsci, Debord, Bourdieu e Adorno entre outros. A cultura em relação ao poder nos estados totalitários, sejam ditaduras ou em outros modelos de estado, está intrinsecamente relacionada e utilizada invariavelmente como instrumento de dominação, hora no populismo e na valoração de ícones e modelos nacionais, ou, como retórica da transformação social que os condicionada aos valores do poder estabelecido. Em ambos os casos os exemplos como fascismo na Itália, nazismo na Alemanha e o comunismo na Rússia, China e Cuba. Em estado liberais como os EUA e Inglaterra, a mensagem e a intenção do estado são definidas em consonância com os interesses do mercado, sendo este também condicionamento, dominação e imposição igual aos exemplos anteriores. Os principais conceitos e programas governamentais para a cultura em geral são apenas linguagens pelas quais os estados se expressam, elaborado por um conjunto de notáveis e influentes pensadores, intelectuais ou não, construtores de visões de mundo. Constantemente, sendo utilizada como peça pelo estado. A cultura é um instrumento deste teatro.

No atual estágio da política pública para a cultura será que temos aqui mais uma construção espetacular? Que me desculpem nossos amigos das cênicas, mas a metáfora da política com o teatro não é uma invenção muito nova, por isso, me perdoem se o texto deixar revelar uma relação paradoxal entre atuação, ilusão e mentira como relações de seu universo e das relações internas da classe teatral. Se assim parecer é porque a intenção também é esta, se quiserem sintam-se ofendidos, mas poderemos continuar amigos.

Não apenas no teatro, os atores se manifestam com atuações em que encarnam personagens, mas também na política. Logo imaginem no que resulta a fusão entre a política e a cultura onde existe aproximação imediata dos campos criativos, artísticos e políticos?! Esta idéia fica bem mais clara com a magnífica citação que ouvi a alguns anos de uma colega ex-secretária de estado da cultura do Paraná, da qual não preciso revelar o nome: "O problema, é que neste teatro a atuação é muito boa…", referindo-se a política cultural durante uma conversa informal.

O campo que tratamos aqui é o da cultura em seus níveis profundos, porém não é isto o que efetivamente está em cena. A reflexão correta seria através da perspectiva filosófica, porém, esta é menos visível em um universo pragmático. O mais próximo da realidade, pelo menos para a maioria das pessoas, é o visível, o imediato, longe porém daquela observação proposta, não, pelo menos da forma apresentada. Com mais aprofundamento poderíamos compreender o que é chamado de "essência". Mas o máximo que conseguiremos aqui em poucas linhas será observar o superficial, o que revela a "projeção", no espelho. Neste caso, efetivamente estamos observando uma interpretação. O visível é aquilo que interessa as massas, digno de comoção aplauso ou vaia, amor ou ódio. Logo, este é o local onde estão aqueles que detêm a palavra e posições de discurso. Por isso o banquinho sempre esta ocupado. É neste jogo de cena, que vamos focar a luz, no banquinho que esta ao centro do palco, onde as atuações são mais visíveis. Assim poderemos comparar à atuação feita no palco e seu reflexo, diferenciando-as das intenções e significados anteriores às projeções.

Este é o cenário promovido pela política, onde a visão de mundo é a essência, esta fica nos bastidores, a política aplicada e difundida através de programas e eventos revela apenas o espetáculo que ocupa o palco.

Quem determina as palavras ditas são aqueles que têm posição de mando em um jogo político, que é descrito como um jogo de soma zero, pois o lado que não tem o poder, não tem nada. É uma idéia que discordo particularmente em grande escala, pois não podemos ignorar os pequenos poderes atribuídos a cada um, na perspectiva apresentada por Foucault em micro-física do poder. Porem existem super-poderes atribuídos a quem manda aparentemente no estado, que é o partido majoritário, a frente da Presidência da República e responsável por acordos, que se bem feitos, garantem a maioria no congresso e o monopólio da chefia de diversos órgãos, empresas publicas e ministérios. Este é o modelo de governo que detêm o poder.

Tratando-se do estado o que não é dito, diz mais do que é dito, de onde é dito, em que lugar, ou  como é, revelando o que pretendem os discursos. Ás vezes, dizem mais as luzes e as flores do que o próprio discurso. Apesar disso, é apenas o evento que importa na maioria dos casos para os envolvidos, por isso o espetáculo é o que efetivamente sacia o espectador e não o conteúdo.

A estrutura do enredo, o roteiro não começa nunca no palco, ela tem inicio em reuniões, acordos, planejamento, logística, projeto, captação, para daí sim, passar para a seleção de elenco, vários ensaios, correções, formação de repertório, trilha sonora, departamento de marketing, assessoria de imprensa, até que possa ser encenada.

A política cultural vigente é fruto de poderes de grupos de interesses na economia e no estado, sendo disfarçados como interesse público graças a um refinamento do discurso sem paralelos em outros setores, comparada unicamente com o que ocorre na comunicação, portanto facilmente iludindo o espectador. Ou seja, uma peça muito bem produzida! Pelo menos no teatro o contexto, a cena e a interpretação demonstram a intenção de se dizer verdade, sem em nenhum momento deixar dúvidas de que se trata de uma grande ilusão. Na política cultural ao contrário do teatro, o posicionamento político salta, condicionando o espectador a observação apenas do palco e não da peça total, com tal crueza de interpretação apresentada em cena, que aproximam a platéia do suposto tema, sem ao menos estes perceberem que estão sendo englobados pela pirotecnia, responsável por esconder o enredo. Esta encenação que hipnotiza, destrói o significado, mitifica e distância o espectador da realidade. Subjetiva a mensagem, reduzindo ao que foi dito e não aquilo que significa, que antes de tudo, é uma encenação que se diz verdadeira, afirmando que não existe ilusão! Parece teatro, mas dizem que não é! Parece ilusão, mas dizem que é real! Parece mentira, mas juram que é a única verdade!

Indo ao centro da cena, se de fato os governos fazem acordos puramente setoriais, que interessem apenas ao momento, alternando as relações em detrimento dos demais. É verdade também que isso ocorre porque aquilo que é chamado de estado é incapaz de atender a todos, naquilo que pretende, por isso programas, administração, leis, decretos e até mesmo a constituição acabam por ser apenas frágeis mentiras, incapazes de serem efetivadas. O estado é no fundo uma estrutura social que existe apenas na documentação oficial, mas é apenas um choque entre suas premissas e a realização ou não destas diante de dinâmicas sociais e interação de poderes. Desta tensão, entre os direitos fundamentais, governabilidade, manutenção do poder, cultura política, é que as intenções se desfazem no ar diante de interesses, apenas efêmeras, passageiras ilusões.

Lidar com esta inconstância esquizofrênica de papéis, exige dos atores sociais presença de palco e poder de mensagem, interagindo em vários níveis, assumindo diversos papéis na produção, sendo ainda diretores, atores, maquiadores, maquinistas, agentes e ao mesmo tempo atuando como platéia diante de quem esta nos camarotes, enquanto agem na surdina na bilheteria. Porém o espetáculo não basta, tem que ser bom e prender as massas, daí a idéia de que o partido, não pode ser apenas partido, para atuar bem, tem que ser também governo. O problema é que para manter a encenação, o governo atua tanto, que acredita que também deve ser estado. Porem ninguém acreditaria no espetáculo, logo este tem que ter o controle das massas, criando o estado a sua imagem como a própria nação. Logo o delírio de um partido, que tem que ser uma nação!

Um governo quando entra em cena, detêm este aparato para a pirotecnia. Fora deste contexto, não é detentor do espetáculo, sendo apenas coadjuvante. E poderia ser diferente? Mais participativo? Democrático? Menos centralizadora a ação de um governo na direção do espetáculo? Um partido pode querer ser o único ao centro, todo poderoso na direção dos atores. Porem nenhum poder consegue ser exercido sem a força, que no caso da política é a base, ou a militância para ser mais claro. Logo o poder não é exercido sozinho, não é o governo que determina a pratica e sim os costumes e a cultura política da base. Um partido antidemocrático manifesta ações equivalentes desde a base em seu teatro amador.

Mesmo amadores, nossos atores sabem interpretar a peça, por ensaiarem sua atuação a muito tempo. Mas afinal se a cultura é para todos, porque atuar para tão poucos uma peça de nível como esta? A peça acaba por se dividir entre aquilo que deve ser apresentado a cada publico, fragmentada para que todos tenham boas opções de entretenimento. Por isso os muitos canais, redes e equipamentos culturais ideológicos do estado, fracionados as suas conveniências. Cada público assiste a uma peça, para alguns o apresentado é um monólogo, para outros é drama, comédia, suspense, e ainda para alguns não será nem permitido entrar no teatro. Mas o povão como todos sabem, não vai ao teatro! Por isso não vê o espetáculo, só o da Tv!

Enquanto isso, todos com seus respectivos posicionamentos e interesses, seguem em mais reuniões, câmaras, colegiados e também seminários! O "silencio dos intelectuais" para o governo é melhor do que as palavras proferidas ao vento que revelem algo, ao contrário, preferem os discursos, aqueles que não levem a nada, a não ser a "babação" na gravata. Por exemplo, no centro do que é comumente chamado de "mundo da arte", onde o debate esta estagnado entre cânones estéticos da crítica que define o que é "arte" e "não arte". Ou em ambientes de acadêmicos, onde os trabalhos são no geral voltados apenas a outros acadêmicos, nunca se constituindo em alguma ação real. Estes discursos ideológicos sempre serviram apenas para auto-afirmação de grupos detentores de poder simbólico, que habitam estes campos. Por isso os eternos debates entre as classes, coordenadas pelo governo entre artistas, acadêmicos e poder econômico. Os debates nestes casos são excelentes distrações para ocupar os espectadores e a crítica. Nos bastidores esta a verdadeira atuação política.

Se realmente tratamos de uma atuação, também resta uma dúvida, será que todos não estão atuando seus respectivos papéis esperando a apoteose final, glórias, lagrimas, êxtase e aplausos? Para após o espetáculo continuar a encenação levando o desfecho para a coxia? Será que alem do governo, outros também estão atuando? Mais um melodrama? Por isso pergunto, aplausos para quem? Para a esperança? Para o financiamento? Para a reforma da lei? Para o Plano Nacional? Para o Sistema? Para o Conselho? Para tudo o que é visível!? Ou ao elenco? Ao diretor? Ao Autor? Ou quem sabe apenas aos atores coadjuvantes? Será que os aplausos devem ir para o faxineiro? Quem sabe a performance ao varrer o cenário para o alçapão lhe renda de algum companheiro um Pronac na mão? Não tem palco pra ninguém! Só para quem é da trupe! O resto que vire artista mambembe! Retirante!

Todos já estão convencidos que a política cultural ao seu tempo, é algo, mais ou menos escancarado, que apenas instrumento de dominação partidária e manutenção do poder? Quem defende o estado do estado? Por isso a pergunta, quem representa o verdadeiro interesse público? Não me parece ser o público e muito menos o estado. É cada um por si! Infelizmente, cada qual com seus problemas e com suas solicitações setoriais.

Mas no roteiro, a última cena é uma história com final feliz! Acaba com os aplausos e  elogios. Na critica no dia seguinte os comentários dizem que cultura esta em primeiro plano, o povo foi atendido, a diversidade cultural esta sendo valorizada, o povo esta no comando das ações, ocupando o centro da cena! (?) Mas o espetáculo que se diz verdade é no fundo apenas um teatro, onde na verdade todos os atores estão atuando para si mesmos e para seus aliados, em um estado dentro do estado composto pela direção de um partido. Todos os atores são trabalhadores da mesma companhia de teatro! Assim opera a política cultural em um estado, na base do, "companheiro unido jamais será vencido!".

Vamos reduzir mais uma em conceito:

Quem determina a política cultural é o partido do governo vigente e suas lideranças. Logo um partido que pretende estar no poder, quer estar no centro do palco. A cultura política dos atores envolvidos determina a política cultural a ser aplicada. A visão de mundo dos mesmos é a visão de estado que será aplicada como a cultura para todos. Cultura Política reflete na Política Cultural.

+++++++++++++++++++
* Homme de Paille (Fantoche). Em Marx, 18 Brumário, nota rodapé pág 64. No teatro apresentado por Marx, os atores são impelidos aos próprios desejos, os representantes desta sociedade esqueceram de suas prerrogativas, compromissos, credos, ideologias, tudo, em nome dos próprios interesses, acreditando fazer o certo, porem não passam de fantoches nas mãos de Napoleão III. Mesmo assim existe uma clara distinção entre cena e bastidores, algo ignorado pela maioria dos atores envolvidos no contexto descrito por este artigo.

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escrever

 

escrever não é preciso
viajar talvez em mar agrário
sob sol indecente
sob  lua impotente barco
perpétuo calendário
escrevo à guisa de viver
o  trágico trajeto  necessário
com letras elegantes na estante
não se ganha o céu
nem o paraíso
não se garante o parto
do poema descomportado
no máximo
algumas páginas de jornal
não se conquista o inferno
algo mais feérico e triste
aqui mesmo habita
talvez alguns cargos públicos
a cátedra de terno  fúnebre
a inveja o ciúme
o beijo de Judas
o crime impune
o poema
grita na garganta da palavra
na anca da gramática sem alma
na carranca passadiça
da crítica burocrática
ou sob roupa mais bonita
o manequim exposto na vitrine
a si mesmo se aclama
aem si mesmo se acalma
escrever escrevo à guisa de  pirraça
contra tudo o que o sol encobre
o diamante claro em meio a jaça muda
escrevo assim como quem anda a toa pela praça
e nada espera da manhã de domingo
no parque gráfico
nem do tráfico de drogas
nem do tráfico de influências
sou a favor da violência
contra o verso de calças curtas
contra o aconchego da academia  inculta
da prepotência da poesia adulta
contra a dispersão do campo
literário
canto a vida em luta
contra- escrevo quando
escolho um trevo de quatro folhas
um pássaro no livro escuta
o poema insurge 
dança como deseja o tempo
seja de amor ou morte ou de esperança
escrever não é preciso
no entanto escrevo em nome dos astros
dos deuses  mortos e das crianças

joão evangelista rodrigues
belo horizonte, 25 de novembro de 2008

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

olhem a nova acamja



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terça-feira, 18 de novembro de 2008

PLURAL > jornal hoje em dia

A hora da viola

César Macedo


ESPECIAL PARA O HOJE EM DIA

De descendência portuguesa e aclimatada nos mais longínquos rincões do Brasil há vários séculos, a viola é o instrumento-símbolo da cultura rural e sertaneja. Seu nome pode variar de região para região (caipira, cabocla, de arame, de pinho...), assim como suas formas de afinação: cebolão, rio-abaixo, boiadeira, meia-guitarra, cebolinha, cana-verde, do sossego...

Seis representantes das Gerais agora unem seus esforços para dar mais visibilidade ao instrumento e às suas inúmeras possibilidades melódicas e sonoras: Pereira da Viola, Chico Lobo, Joaci Ornelas, Gustavo Guimarães, Bilora e Wilson Dias. No final de outubro, eles formataram o espetáculo «Viva Viola - 60 Cordas em Movimento», mutirão que lotou o Teatro Alterosa durante três dias. A idéia é que o projeto seja desmembrado em shows, a partir de 2009, e tenha caráter itinerante, podendo reunir outros violeiros.

A essência permanece inalterada _ o instrumento é feito de madeira, principalmente o pinho, e ostenta dez cordas unidas aos pares. O mais importante: está intimamente ligado às tradições mais enraizadas da cultura brasileira desde a época colonial. Assim como São Paulo, Goiás e o Nordeste, Minas é prenhe de violeiros e manifestações que utilizam a viola como protagonista de festejos como a folia de reis.
O multimídia João Evangelista Rodrigues e seu parceiro musical Pereira da Viola são mentores do movimento. «A viola é agregadora, festiva, propícia a encontros», defende Pereira, mineiro de São Julião, zona rural do Vale do Mucuri, Norte de Minas. Ele é um criadores da Associação Nacional dos Violeiros, fundada em 2004 e que promoveu, no primeiro semestre de 2008, em Belo Horizonte, seu primeiro seminário. «Os shows, o entretenimento, os discos são importantes, mas é necessário que haja desdobramentos em ações mais concretas que ajudem a preservar a memória da nossa cultura popular em suas mais variadas manifestações, incluindo aí a presença fundante do instrumento».

Sobre a Associação, Pereira da Viola define sua linha de atuação: «Sempre achei que nós, violeiros, precisávamos de uma instituição que nos representasse de forma mais organizada e que fosse capaz de amplificar o que cada um fazia. A cultura da viola estava relegada ao esquecimento algumas décadas atrás. Não posso negar que minha geração conseguiu tirá-la do ostracismo e que hoje há um espaço relativamente digno para sua difusão, mas ainda não chegou aos patamares que a gente deseja para colocar o instrumento».

Pesquisador da cultura popular, João Evangelista Rodrigues comunga das mesmas propostas. «Nesse mundo globalizado em que a velocidade e os modismos imperam, é fundamental que um país preserve sua cultura de raiz. Os brasileiros têm que ter uma visão ampla do que seja a viola caipira e da sua relevância na preservação de uma música autêntica dentro do nosso contexto histórico e sócio-cultural. É necessário um esforço coletivo de pesquisas e registros para que a memória seja preservada. Muitos mestres violeiros estão morrendo e essas referências estão sendo perdidas», lamenta Evangelista, que além de Pereira da Viola, tem parcerias com Gilvan de Oliveira, Paulinho Pedra Azul, Rubinho do Vale e outros.

Nascido em Santana, no Oeste mineiro, Rodrigues avalia que a viola caipira tem muita força no interior, mas carece de identidade e expressão nacional. Por isso ele aposta nas ações da Associação Nacional dos Violeiros. «Penso nisso de forma mais conceitual. Muitas vezes, a mídia dá exposição apenas ao aspecto da espetacularização, que é uma visão restrita e que tem a ver meramente com o apelo comercial. Muitas vezes, os critérios artísticos e culturais ficam relegados a segundo plano, submetidos a questões relacionadas ao mercado e à competitividade. A viola ainda tem muito espaço para ocupar. Minha tendência é a de focar os fenômenos culturais de forma mais lenta, porém, com mais profundidade».


Quando o signo das cordas encontra o coração das pedras

João Evangelista Rodrigues (*)


ESPECIAL PARA O HOJE EM DIA

O que pode nos ensinar uma pedra. E a viola, nos ensinaria alguma coisa?

Não seria totalmente correto afirmar que a viola caipira (dez cordas), à maneira do avião, foi inventada por algum gênio brasileiro. O que a maioria ignora ou finge ignorar, por conveniência ou preconceito inerente a certo tipo de saber estabelecido e hegemônico, é que este instrumento foi e continua sendo o que mais fielmente traduz o sentimento, a alma e o saber do povo brasileiro, sobretudo do homem rural.
Desde que chegou ao Brasil, por volta de 1500, trazida pelos jesuítas e utilizada na catequese dos índios, a viola permanece viva. Não é exagero afirmar que, aqui, desempenha uma nova função: a de seduzir, conquistar e educar pessoas através de sua sonoridade particular e singela. Pode-se falar, então, parodiando o Poeta Pernambucano, de uma educação pela viola. Seja por sua capacidade de reunir pessoas, de sensibilizar mentes e corações, seja pela força de seu sotaque ao mesmo tempo mágico e realista.

O violeiro e compositor Wilson Dias explica: «Assim que semeada em solo brasileiro, a viola foi passando por diversas transformações. Com a miscigenação de raças, veio a ser a fiel companheira do homem do campo. Tornou-se, portanto, um instrumento de extrema importância cultural. Por toda sua história e pelo seu potencial inventivo e mobilizador de sentidos e sentimentos, a viola não passa despercebida».
Nem mesmo o ambiente pós-modernizante e o alarido violento e ensurdecedor do neoliberalismo conseguem calar sua voz. A linguagem da viola, em sua diversidade, sobrevive e se faz ouvir atualmente não só pelo conteúdo das mensagens veiculadas, mas devido a sua natureza afetiva e solidária.

É pela viola que o cantador e compositor Pereira da Viola se define. «Sou daqueles violeiros que, através de um suporte histórico e sonoro da viola, grita por justiça, mete o dedo nas feridas de forma clara e sem medo. Por isso, acho que a viola, pela sua história, pode ser também entendida como aliada no processo de transformação social».

A educação pela viola, à maneira da pedra, se dá «de dentro para fora e pré-didática». Isso acontece no mais longe. Na intimidade mesma das casas, das coisas afastadas. Lá onde residem os mestres, os menestréis de antonce. Os cantadores de fibra. Afiados de palavra. Afinados dos instrumentos, todos da vida natural, feito igual ao que na pedra a faca se afia. Feito o que no tear se fia. Os que sem aprendizagem prévia, sabem. Por intuição. Por descoberta.

Assim, ouvir uma boa música de viola, no melhor estilo de nossa tradição, é ver. Olhar de perto as coisas. Observar e degustar o mundo em constante movimento. São cenas e cenários de muitas Minas, de vários mundos, de um país interior e anterior. Por isso, à frente de toda crise e pessimismos, é preciso cantar, encantar, decantar sobre nuvens. Desvelar o sono mineral das coisas insignificantes. Dar-lhes luz e cor, conforme seja o tom e a densidade da voz, da letra musicalizada.

(*) João Evangelista Rodrigues é poeta, compositor, jornalista, fotógrafo e professor universitário. Os destaques em texto são fragmentos de poema de João Cabral de Melo Neto.


ESPECIAL PARA O HOJE EM DIA

Instrumento tipicamente rural, a viola foi «urbanizada» aos poucos. Historiadores apontam o folclorista paulista Cornélio Pires como o iniciador do processo. Em 1910, ele organizou um programa só com violeiros na cidade de Tietê e, em seguida, um festival na capital paulista. Desde então, a viola é naturalmente vinculada à cultura do campo, e não apenas a música caipira pode ser entoada pelas dez cordas do instrumento, que passeiam, inclusive, por searas eruditas. A variação sonora e melódica é infinita e, como afirma Pereira da Viola, «não pode ser submetida apenas a um gueto».

Muitos artistas preferem chamar, genericamente, de «música de viola» tudo o que é produzido com o instrumento. «A música sertaneja tomou outro rumo, a música caipira também acabou representando um tipo específico de interpretação feito por duplas», explica Valmir Ribeiro de Carvalho, mais conhecido pelo nome artístico de Bilora. «Então, o que cada um faz individualmente e que não cabe em nenhum rótulo, dizemos que é música de viola, na falta de uma definição mais precisa», observa.

Natural de Santa Helena de Minas, no Vale do Mucuri, Bilora, outro participante do encontro «Viva Viola», também elogia a iniciativa e espera desdobramentos: «O mutirão reuniu amigos que militam em prol do mesmo objetivo: chamar a atenção para a viola. Juntando forças, é possível engrandecer o trabalho individual pela troca de experiências».

Para ele, em muitos aspectos falta romper a barreira do preconceito. «Eu viajo muito para participar de festivais e sinto isso na pele. Quando submeto uma música minha a um suposto especialista, ele olha até com certa condescendência, demonstra carinho, mas vê a música de viola como algo exótico. É difícil que alguém a encare como instrumento de sonoridade nova. Há sempre uma associação com algo ultrapassado».
Um dos fundadores da Associação Nacional dos Violeiros, Joaci Ornelas, natural de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, diz que os principais objetivos da entidade são o de colaborar para o desenvolvimento da linguagem musical da viola e preservar e difundir a cultura popular ligada ao instrumento. Responsável pela realização do seminário ocorrido em BH no primeiro semestre, a Associação pretende lançar, ano que vem, farto material em DVD, CD e livro registrando os debates travados, envolvendo mais de 600 pessoas.

«Sabemos por relatos históricos que os jesuítas utilizavam a viola como forma de amenizar e tornar lúdico o contato com os índios. Não entro no mérito de como esse processo civilizatório se deu, mas o fato serve para ilustrar como a viola está muito enraizada na história do Brasil», comenta Joaci Ornelas, esperando que, para 2009, a segunda edição do seminário movimente Belo Horizonte e traga propostas mais concretas para ações de valorização do patrimônio imaterial representado pela viola e suas sonoridades. 


 

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domingo, 16 de novembro de 2008

I FÓRUM DE POLÍTICA CULTURAL PARA O TERCEIRO SETOR DE TEÓFILO OTONI

BOA TARDE A TODOS.

CARTAZ F4.ACONTECEU ONTEM O I FÓRUM DE POLÍTICA CULTURAL PARA O TERCEIRO SETOR DE TEÓFILO OTONI, E MESMO COM NÃO SENDO UM SUCESSO DE PÚBLICO, QUESTÕES INTERESSANTÍSSIMAS JÁ FORAM LEVANTADAS E O RELATÓRIO EM BRE VE ESTARÁ PRONTO!

JÁ MARCAMOS A REUNIÃO PARA O GRUPO DE TRABALHO QUE TERÁ POR META A ELABORAÇÃO DE UMA METODOLOGIA PARA A ELABORAÇÃO DE UMA POLÍTICA CULTURAL PARA NOSSA CIDADE.

CULTURA É FEITA COM PARTICIPAÇÃO!

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008


 


CONVITE

O Circuito Turístico das Pedras Preciosas, a Associação Histórico Cultural Mucury e a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri  convidam V.S.a para o ENCONTRO GUIMARAES ROSA, conforme programação anexa.
Presença confirmada do Deputado Federal Virgílio Guimarães


Horário:   17H: 00min


Local:      Auditório da UFVJM - Av. Luiz Boali, s/n - Ipiranga T. Otoni-MG   


Dia:         14/11/2008

 
 

Programação:

1 - Palestra
 

TEMA: GUIMARÃES ROSA E AS MUITAS MINAS

TÍTULO: GUIMARÃES, OS VÁRIOS SERTÕES E O MUCURI

PALESTRANTE: Bruno Dias Bento

Resumo: A importância da Literatura produzida por João Guimarães Rosa na construção do conceito de Sertão e na formação do imaginário e identidade regionais, sendo na perspectiva antropológica é obra etnográfica.

"Minas são muitas"

            O itinerário do Sertão no Brasil, em Minas Gerais e o conceito roseano.

            O sertão é o Mucuri? O Mucuri é o Sertão?

2 - Debate com o  Deputado Federal Virgílio Guimarães


 

3 - Apresentação do selo em Homenagem a Guimarães Rosa

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

A PROGRAMAÇÃO DO FÓRUM

 É SÓ CLICAR PARA AMPLIAR!
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ERRATA

BOA NOITE DE NOVO.

É O SEGUINTE:
ONDE LÊ-SE REPRESENTANTE DE PEREIRA DA VIOLA E TEMA EXPERIÊNCIA DE SÃO JULIÃO, LEIA-SE:
DEBATEDOR: JOÃO EVANGELISTA RODRIGUES - JORNALISTA, POETA E ESCRITOR
TEMA: MOVIMENTOS CULTURAIS NOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

NOVAMENTE, OBRIGADO.
CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!
CULTURA SE FAZ COM PARTICIPAÇÃO!
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Boa noite a todos!
Eis o cartaz e a programação do FÓRUM.

MAS ATENÇÃO:
O LOCAL É O AUDITÓRIO DA UFVJM, LÁ NO CAIC!




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sábado, 8 de novembro de 2008

Mais novas

Boa tarde, caros leitores.

Eis mais um blog, de um de nossos mais novos amigos e colaboradores da Mucury, o João Evangelista Rodrigues.

Compositor, poeta, filósofo, fotógrafo, e só para começar…

visite logo: vialaxia

 

texto “...são elas mesmo, talvez, a causa de todos os meus sofrimentos.” Thomas Man in Desilusão Ar


não cultive grandes palavras
nem para o bem
nem para o mal
a retórica gloriosa
guarde-a para a metáfora dos mortos
para o frio memorial dos imortais


prefira a desordem do discurso fluvial
à ordem absoluta do que não canta
o triste
o trivial
não tenha medo do silêncio
paisagem serena e reflorida


na solidão dos lugares mais distantes
cresce o signo original
sem montanhas
sem horizonte
sem nenhum ritual além de seu sentido básico


seja consigo mesmo
o que sem letras se mostra
não tentes
não provoques
não resista ao fluxo do tempo inexorável


quanto ao resto
deixe o resto pra o restante
das criaturas sem alma
jamais escreva por divertimento ou lazer
senão pelo prazer dos olhos
pela vibração dos nervos
por pura necessidade do espírito


elimine a lacuna que insiste
entre vocabulário e coração
esta será a escrita de seus sentidos


não busque nas letras a felicidade
nem a verdade em sua herança literária
nada espere delas


é nas palavras ásperas e belas
onde a mais pungente desilusão habita


não grite
não lamente
não se deixe levar pelas aparências
nem do mundo nem dos homens


continue em silêncio
seu ofício sem glorias
em nome dos que iniciaram
essa maldita e primitiva
a infinita solidão da escrita


não cultive grandes palavras

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