quarta-feira, 26 de novembro de 2008

escrever

 

escrever não é preciso
viajar talvez em mar agrário
sob sol indecente
sob  lua impotente barco
perpétuo calendário
escrevo à guisa de viver
o  trágico trajeto  necessário
com letras elegantes na estante
não se ganha o céu
nem o paraíso
não se garante o parto
do poema descomportado
no máximo
algumas páginas de jornal
não se conquista o inferno
algo mais feérico e triste
aqui mesmo habita
talvez alguns cargos públicos
a cátedra de terno  fúnebre
a inveja o ciúme
o beijo de Judas
o crime impune
o poema
grita na garganta da palavra
na anca da gramática sem alma
na carranca passadiça
da crítica burocrática
ou sob roupa mais bonita
o manequim exposto na vitrine
a si mesmo se aclama
aem si mesmo se acalma
escrever escrevo à guisa de  pirraça
contra tudo o que o sol encobre
o diamante claro em meio a jaça muda
escrevo assim como quem anda a toa pela praça
e nada espera da manhã de domingo
no parque gráfico
nem do tráfico de drogas
nem do tráfico de influências
sou a favor da violência
contra o verso de calças curtas
contra o aconchego da academia  inculta
da prepotência da poesia adulta
contra a dispersão do campo
literário
canto a vida em luta
contra- escrevo quando
escolho um trevo de quatro folhas
um pássaro no livro escuta
o poema insurge 
dança como deseja o tempo
seja de amor ou morte ou de esperança
escrever não é preciso
no entanto escrevo em nome dos astros
dos deuses  mortos e das crianças

joão evangelista rodrigues
belo horizonte, 25 de novembro de 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente