retirado do questões cinematográficas em 27/09/2010 do endereço:
eduardo escorel*
Será verdade que Jean-Claude Bernardet pediu a palavra no início da reunião, antes dos outros 8 integrantes do júri terem se manifestado, e defendeu com veemência a indicação do filme que acabou sendo escolhido por unanimidade para ser submetido à comissão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que é quem escolhe, em Los Angeles, os concorrentes ao Oscar de melhor filme não falado em inglês?
O simples fato de Jean-Claude Bernardet ter aceito participar da comissão já é supreendente. Se, além disso, exerceu de fato seu notório poder intelectual, influindo de maneira decisiva na escolha do filme, seria interessante conhecer quais foram seus argumentos. Espírito independente, sem vínculos com grupos ou interesses corporativos, é difícil imaginar que Jean-Claude tenha se limitado a fazer figuração e seguir a orientação da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Quem sabe ele se anima a vir a público esclarecer o que o levou a ser cúmplice do Ministério da Cultura, da Agência Nacional de Cinema, da imprensa e dos demais participantes nessa patética encenação anual, verdadeiro faz de conta que dá importância exagerada a uma pré-seleção, gastando no processo tempo e dinheiro que poderia ser mais bem empregado.
Na enquete pública promovida pelo Ministério da Cultura “para a sugestão do filme brasileiro a ser indicado”, “Lula, o Filho do Brasil” teve 1% dos votos. O mais votado foi “Nosso Lar” com 70% das indicações. Ao ignorar a “sugestão” fica patente o caráter demagógico da iniciativa.
Trata-se, afinal, de uma questão irrelevante em um país cujo cinema tem presença inexpressiva no mercado internacional. O Brasil deve ser o único país do mundo em que um não-evento como esse é noticiado com tamanho destaque pela imprensa. Episódio sintomático, mais que tudo, da degradação que ronda o cinema brasileiro.
* Cineasta e montador que começou a trabalhar no meio cinematográfico aos 20 anos como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade em O padre e a moça (1965). No ano seguinte, dirigiu com
Júlio Bressane o documentário Bethânia bem de perto.
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