quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Nova edição da Revista de Poesia 7faces on-line

Enviado por Pedro Fernandes

A nova edição do caderno-revista 7faces já está on-line hoje. É a 6ª edição entre os sete números já editados (a outra edição foi acadêmica com incursões de renomados ensaístas de Brasil, Argentina e Portugal em torno da poesia de José Saramago).

Com rico conteúdo reunindo trabalhos de 22 poetas de Brasil, Portugal e Moçambique - a citar, Ricardo Dantas, Davi Araújo, Tiago Duarte Dias, Adriano Winter, Guerá Fernandes, Joice Berth, Marco Polo Guimarães, Ianê Mello, Pedro Belo Clara, Rosane Carneiro, Carina Carvalho, Paulo Lima, Natália Turini, Luís Garcia, Paula Cajaty, Nuno Júdice, Amosse Muscavele, Carlos Margarido, Amélia Luz, Paulo Vitor Grossi e Renata Bomfim.

Em artes plásticas ensaio e estudos de Jordny. A edição em questão presta homenagem mais que especial à Dora Ferreira da Silva. Da poeta a revista traz inéditos, imagens, depoimentos e dois ensaios sobre sua obra: um de Alexandre Bonafim e outro, inédito no Brasil, de Euryalo Cannabrava (in memoriam) que fora publicado inicialmente pela Revista Colóquio/Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian e cedido para a 7faces. Ainda na edição, um apêndice com uma conversa franca com Inês Ferreira da Silva Bianchi, filha de Dora,  que relembra a relação com a mãe e a dedicação dela à poesia.

Aproveitamos para anunciar que estamos ampliando nossas fronteiras. A partir da 7ª edição a sair em julho próximo, mas que já anda a ser pensada, estamos em parceria com o recente amigo, o Professor Cesar Kiraly, da Universidade Federal Fluminense que pela sua experiência acadêmica e no trato com a poesia deverá enriquecer e muito os trabalhos daqui para adiante. A partir de amanhã, 1º de fevereiro, já está aberta a chamada para recepção de materiais para o número de julho.

A POESIA, UMA VIA DE VER AS COISAS (*)

No começo de tudo, quando a palavra e o mundo estavam fundidos e as linhas entre um e outro, portanto, não se difundiam, a poesia estava na matéria do gesto, no pulso do corpo em êxtase, no lugar do divino, numa dimensão, por isso, dada a poucos. Todo poeta, é por essa razão primordial, um geômetra do universo, e o seu exercício escritural nunca poderá está reduzido ao movimento da letra desdobrada uma após outra no espaço amplo do branco da página. Se assim ocorre o universo será estrutura opaca, um defeito, uma mancha dispersa presa no papel. Aliás, a poesia não pode está reduzida ao desenho da forma informe ou do sentido invertebrado do texto. Ela deve conspirar e ter pulso para saltar da superfície lisa da folha e ser matéria pulsante, suspensa, atmosfera capaz de atuar no desempenho do corpo humano, pela lágrima, pelo riso, pelo gozo. É nesse instante que ganha, a palavra, seu real lugar no complexo sistema a que pertence e se ilumina a ponto de refundar o sujeito e o ser.

O poeta enquanto feitor do poema, instante em que primeiro se prime em suas fronteiras as possibilidades da poesia, é somente aquele capaz de conviver no limiar de uma epifania constante que lhe permita está cercado do tempo primordial; epifania que é um fenômeno do espírito e diz uma maneira de estar locado e simultaneamente deslocado. Um pulso de iluminação. Não há, para isso, leis próprias, fórmulas prontas de se ensinar. Há para isso a necessidade do poeta ser feito pela vivência da palavra e seu denso universo fulgurativo. 

Não é poeta aquele que se derrama pelos cantos, que faz histórias de histórias pintando o papel de ponta leste a oeste de berros de amor, de factoides vazios, porque o amor e as vivências são coisas moventes, sentidas mas impossíveis de sua partilha como cópia fiel pelo dorso da palavra. Nunca o poema será mímesis se o poema é sempre criação.

Também não é poeta o que quer ser qualquer coisa que o valha, inclusive poeta; poeta não é profissão, é modo de estar no mundo. A busca cega pela forma, fruto de um encantamento pela palavra e uso inadequado das maneiras do tecnicismo que suprime o próprio pulso da letra, da voz que lhe antecede, é vã; terá e tem levado muitos por descaminhos que nada tem do poeta e da gesta do poema. A busca do poeta que deve se dá pelo dorso da palavra é a de se reaproximar do estágio genesíaco do universo e os únicos guias nessa empreitada são ele próprio e sua vontade de experimentar-se pela boca dos seus antepassados, aqueles que fundaram e ultrapassaram a esfera do tempo comum e se fizeram eles mesmos tempo.

Por motivos como estes, ninguém melhor que Dora Ferreira da Silva para ser homenageada neste caderno-revista. Não é que a poeta tenha uma obra alheia a si e ao mundo empírico, mas ela é o constante estágio de epifania entre este e o lugar genesíaco. Sua poesia parte das dissonâncias existenciais, e só este instante já é de natureza poética, para ultrapassá-las e alcançar um instante único na extensa rede de vozes dos seus antepassados. Alimenta-se de um teor estético e renova o diálogo esquecido pelos estetas da forma, o que não quer dizer que esse trabalho de elaboração esteja ausente na sua obra; do contrário, talvez até esteja mais que em outros, porque a poesia de Dora se guia pela experimentação e refiguração do simbólico que ora se manifesta no poema através da composição linguística, ora através do corpo estrutural do texto. Sente-se, que sua poesia é muito estudada e talvez por isso consiga cumprir o seu papel no universo da linguagem e fora dele: que é o de promover o reencontro do sujeito com outros lugares e a partir daí seja encorajado pela descoberta do universo primordial reencontrado por Dora.

Pedro Fernandes

edito-chefe

Para ler e-ou baixar a edição clique aqui

(*) retirado do site da Revista 7faces.

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