sábado, 22 de dezembro de 2007

Música e Identidade

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Quando buscamos recuperar elementos culturais capazes de nos identificar como membros pertencentes a uma coletividade comum, muitos são os objetos, as práticas, os predicados acionados que cumprem o papel de desvelar o “lugar social” do qual se está falando. Ao nos reportarmos à nação brasileira logo se arrola um bocado desses traços tidos como peculiares, que nos dá a distinção frente outras comunidades nacionais. Alguns preferirão dizer sobre um certo ethos brasileiro, que constrói um tipo sestroso, lascivo, indolente. Outros apontarão para signos cujo valo semântico re (a) presenta a nação, tal como sua bandeira, a seleção canarinho, ou o seu panteão de heróis nacionais. No entanto, ao longo de nossa experiência republicana, podemos evidenciar um processo de fundação da nação que conta com a ajuda preciosa, luxuosa, da canção popular brasileira. Ou alguém nunca escutou a narrativa mito-fundacional escancarada em Aquarela do Brasil? Ali a nação se cria sob os auspícios da intelectualidade coeva, de um samba cívico que guarda uma capacidade de contar e recontar infinitas vezes a nossa tradição inventada. Digo isso para “abrir as cortinas” e trazer à ribalta, ao proscênio, a importância do signo sonoro para a construção de uma identidade coletiva.
A música é capaz não só de inventar tradições, que consigam fomentar um senso de pertencimento homogêneo em pessoas separadas por distâncias continentais, como no Brasil, mas também pode, mesmo, estruturar toda a rítmica social de dada comunidade. Ela “abre a cortina do passado” para enlaçar presente e futuro num encontro mítico que oferece significado histórico. Uma canção transborda o significado meramente estético e carrega consigo a possibilidade de ser tomada como símbolo, indo além do fenômeno físico-sonoro e sendo incorporada, como imagem, ao conjunto de representações que abastecem determinado imaginário social e consagra a história e a identidade de uma nação.
É muito comum, ao menos nas regiões que compõem o nosso gigante-país, que as manifestações musicais ofereçam os mais evidentes e persuasivos argumentos, os mais nítidos vestígios daquela tradição. Em cada manifestação musical, os elementos constitutivos daquela comunidade são revigorados, os laços sociais são cerzidos numa comunhão que parece transcender as enormes diferenças localizadas no momento fundacional da sociedade brasileira. A canção, com toda a sua força dinamogênica, que passa e enlaça um certo estado psíquico e nos leva à ação, talvez seja nosso mais privilegiado local de construção e debate de nossa esfera pública. Num país onde a persistência do analfabetismo e uma certa prática de leitura reflexiva fazem parte da realidade ordinária, a canção se estabelece como nosso maior cronista do cotidiano, capaz de interpretar e debater nossas querências, mazelas, mas também responsável por doar significado a nossa existência compartilhada, ao todo reunido sob a chancela da pátria.
No esforço concentrado dessa publicação, que, entre outros objetivos, parte para a ação de reconstruir ou (re)inventar a tradição do vale do Mucuri, faz-se necessário voltar as atenções ao que canta o vale. O resgate e estabelecimento da importância sócio-cultural do Mucuri, passa necessariamente pelo reencontro de seus significantes musicais. Vai aqui uma aposta: lendo as canções seremos capazes de construir uma imagem acústica indelével, robusta, expostas em acordes e construções melódicas, uma sinfonia popular, apresentada em vários atos, nomeada Mucuri.
Quando buscamos recuperar elementos culturais capazes de nos identificar como membros pertencentes a uma coletividade comum, muitos são os objetos, as práticas, os predicados acionados que cumprem o papel de desvelar o “lugar social” do qual se está falando. Ao nos reportarmos à nação brasileira logo se arrola um bocado desses traços tidos como peculiares, que nos dá a distinção frente outras comunidades nacionais. Alguns preferirão dizer sobre um certo ethos brasileiro, que constrói um tipo sestroso, lascivo, indolente. Outros apontarão para signos cujo valo semântico re (a) presenta a nação, tal como sua bandeira, a seleção canarinho, ou o seu panteão de heróis nacionais. No entanto, ao longo de nossa experiência republicana, podemos evidenciar um processo de fundação da nação que conta com a ajuda preciosa, luxuosa, da canção popular brasileira. Ou alguém nunca escutou a narrativa mito-fundacional escancarada em Aquarela do Brasil? Ali a nação se cria sob os auspícios da intelectualidade coeva, de um samba cívico que guarda uma capacidade de contar e recontar infinitas vezes a nossa tradição inventada. Digo isso para “abrir as cortinas” e trazer à ribalta, ao proscênio, a importância do signo sonoro para a construção de uma identidade coletiva.
A música é capaz não só de inventar tradições, que consigam fomentar um senso de pertencimento homogêneo em pessoas separadas por distâncias continentais, como no Brasil, mas também pode, mesmo, estruturar toda a rítmica social de dada comunidade. Ela “abre a cortina do passado” para enlaçar presente e futuro num encontro mítico que oferece significado histórico. Uma canção transborda o significado meramente estético e carrega consigo a possibilidade de ser tomada como símbolo, indo além do fenômeno físico-sonoro e sendo incorporada, como imagem, ao conjunto de representações que abastecem determinado imaginário social e consagra a história e a identidade de uma nação.
É muito comum, ao menos nas regiões que compõem o nosso gigante-país, que as manifestações musicais ofereçam os mais evidentes e persuasivos argumentos, os mais nítidos vestígios daquela tradição. Em cada manifestação musical, os elementos constitutivos daquela comunidade são revigorados, os laços sociais são cerzidos numa comunhão que parece transcender as enormes diferenças localizadas no momento fundacional da sociedade brasileira. A canção, com toda a sua força dinamogênica, que passa e enlaça um certo estado psíquico e nos leva à ação, talvez seja nosso mais privilegiado local de construção e debate de nossa esfera pública. Num país onde a persistência do analfabetismo e uma certa prática de leitura reflexiva fazem parte da realidade ordinária, a canção se estabelece como nosso maior cronista do cotidiano, capaz de interpretar e debater nossas querências, mazelas, mas também responsável por doar significado a nossa existência compartilhada, ao todo reunido sob a chancela da pátria.
No esforço concentrado dessa publicação, que, entre outros objetivos, parte para a ação de reconstruir ou (re)inventar a tradição do vale do Mucuri, faz-se necessário voltar as atenções ao que canta o vale. O resgate e estabelecimento da importância sócio-cultural do Mucuri, passa necessariamente pelo reencontro de seus significantes musicais. Vai aqui uma aposta: lendo as canções seremos capazes de construir uma imagem acústica indelével, robusta, expostas em acordes e construções melódicas, uma sinfonia popular, apresentada em vários atos, nomeada Mucuri.
Quando buscamos recuperar elementos culturais capazes de nos identificar como membros pertencentes a uma coletividade comum, muitos são os objetos, as práticas, os predicados acionados que cumprem o papel de desvelar o “lugar social” do qual se está falando. Ao nos reportarmos à nação brasileira logo se arrola um bocado desses traços tidos como peculiares, que nos dá a distinção frente outras comunidades nacionais. Alguns preferirão dizer sobre um certo ethos brasileiro, que constrói um tipo sestroso, lascivo, indolente. Outros apontarão para signos cujo valo semântico re (a) presenta a nação, tal como sua bandeira, a seleção canarinho, ou o seu panteão de heróis nacionais. No entanto, ao longo de nossa experiência republicana, podemos evidenciar um processo de fundação da nação que conta com a ajuda preciosa, luxuosa, da canção popular brasileira. Ou alguém nunca escutou a narrativa mito-fundacional escancarada em Aquarela do Brasil? Ali a nação se cria sob os auspícios da intelectualidade coeva, de um samba cívico que guarda uma capacidade de contar e recontar infinitas vezes a nossa tradição inventada. Digo isso para “abrir as cortinas” e trazer à ribalta, ao proscênio, a importância do signo sonoro para a construção de uma identidade coletiva.
A música é capaz não só de inventar tradições, que consigam fomentar um senso de pertencimento homogêneo em pessoas separadas por distâncias continentais, como no Brasil, mas também pode, mesmo, estruturar toda a rítmica social de dada comunidade. Ela “abre a cortina do passado” para enlaçar presente e futuro num encontro mítico que oferece significado histórico. Uma canção transborda o significado meramente estético e carrega consigo a possibilidade de ser tomada como símbolo, indo além do fenômeno físico-sonoro e sendo incorporada, como imagem, ao conjunto de representações que abastecem determinado imaginário social e consagra a história e a identidade de uma nação.
É muito comum, ao menos nas regiões que compõem o nosso gigante-país, que as manifestações musicais ofereçam os mais evidentes e persuasivos argumentos, os mais nítidos vestígios daquela tradição. Em cada manifestação musical, os elementos constitutivos daquela comunidade são revigorados, os laços sociais são cerzidos numa comunhão que parece transcender as enormes diferenças localizadas no momento fundacional da sociedade brasileira. A canção, com toda a sua força dinamogênica, que passa e enlaça um certo estado psíquico e nos leva à ação, talvez seja nosso mais privilegiado local de construção e debate de nossa esfera pública. Num país onde a persistência do analfabetismo e uma certa prática de leitura reflexiva fazem parte da realidade ordinária, a canção se estabelece como nosso maior cronista do cotidiano, capaz de interpretar e debater nossas querências, mazelas, mas também responsável por doar significado a nossa existência compartilhada, ao todo reunido sob a chancela da pátria.
No esforço concentrado dessa publicação, que, entre outros objetivos, parte para a ação de reconstruir ou (re)inventar a tradição do vale do Mucuri, faz-se necessário voltar as atenções ao que canta o vale. O resgate e estabelecimento da importância sócio-cultural do Mucuri, passa necessariamente pelo reencontro de seus significantes musicais. Vai aqui uma aposta: lendo as canções seremos capazes de construir uma imagem acústica indelével, robusta, expostas em acordes e construções melódicas, uma sinfonia popular, apresentada em vários atos, nomeada Mucuri.

LIMA, Ricardo (*). Música e identidade. In Revista Mucury. out/2007,ano 1, nº 2. Teófilo Otoni, MG.p.04.
(*)Ricardo Lima é Historiador, Cantor e Copositor. Também é o Editor da Revista Mucury

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