sábado, 22 de dezembro de 2007

MINAS AO MAR

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Ligar o continente ao oceano. Fazer Minas ver o mar. Foi o objetivo e o início de um sonho. Começaram suas obras, desbravando matas, rios, cachoeiras, montanhas, pedras, lugares que jamais o homem branco havia pisado. Enfrentaram a fúria dos índios botocudos, a malária e animais selvagens. Muito sol, muita chuva e muito suor derramado, além de algumas mortes. Os pontilhões foram trazidos da Inglaterra. A construção dos túneis e das estações, feitos com muito capricho e paciência. Foram sessenta anos de luta, sofrimento e idealismo para a construção de uma ferrovia que faria a ponte entre a ousadia e a realidade.

Poxichá, primeira locomotiva vinda das Américas em 1880, nome do cacique poxichá de uma tribo indígena. Dezoito anos depois chegaram os trilhos. Foi realmente um acontecimento fabuloso. Foram os primeiros passos para ligar as cidades, os dois vales, os dois estados. O engenheiro Miguel Argolo foi o responsável pela obra. Partia do município de Caial - hoje Araçuaí -, passando por povoados e cidades como Alfredo Graça, Emílio Schnoor, Queixada, Novo Cruzeiro, Ladainha, Sucanga, Icari, Caporanga, Valão, até chegar a Teófilo Otoni, que naquela época chamava-se Filadélfia. Aqui era a estação central, onde ficava os Diretores e o comando. Em Ladainha ficava a oficina - cidade de tal importância que chegou a ter três cinemas. Partindo de Teófilo Otoni, tinham as estações das turmas 37, 38, Pedro Versiani, São João, Bias Fortes, Francisco Sá, Bangalô, Epaminondas Otoni, Carlos Chagas, Mayrink, Nanuque, Serra dos Aimorés e Ibiraem, divisa com o estado da Bahia. Em terras baianas, passava por Argolo, Posto da Mata, Helvécia, Juerana, Caravelas, chegando até Ponta de Areia. Também existiam as chamadas casas de turma a cada 10 quilômetros, locais onde se fazia a manutenção da estrada e das caixas de água.

Enfim, o mar. Eram 578 quilômetros de ferrovia, que transportava, até o porto de Caravelas, mercadorias e pessoas. Era o nosso acesso às praias. Viajava a 20 quilômetros por hora na subida e aproximadamente 50 quilômetros por hora em declive. Consumia muita lenha e muita água. Sua caldeira era um calor infernal. No porto, nossa carga era embarcada em navios rumo aos mais variados cantos do Brasil. Ali, também, recebíamos mercadorias vindas de outros portos para abastecimento do nosso comércio. Funcionava muito bem.

O caminho da esperança e do progresso durou 86 anos. No ano de 1966 foi realizado a última viajem. Como num passe de mágica as máquinas e trilhos foram retirados com radicalismo e crueldade. Algumas estações, como a nossa, foram demolidas. Em vez de suor, lágrimas foram derramadas.

Mas a ferrovia não morreu. Entre casas, montanhas e o mar está o sonho de unir continente ao oceano.
O trem de ferro é uma coisa mecânica, mas atravessa a noite, a madrugada, o dia. Atravessou minha vida e virou um só sentimento.

DETREZ, Éder (*). Minas ao Mar. In Revista Mucury। out/2007,ano 1, nº 2. Teófilo Otoni, MG.p.03.
(*) Médico e Presidente da Associação Cultural Ferroviária BAHIAMINAS.

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