segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D-rummond

Retirado do Minc em 31/10/2011 do endereço:

http://www.cultura.gov.br/site/2011/10/28/dia-d-rummond/

Fundação Casa de Rui de Barbosa e Flip promovem encontro para debater vida e obra do poeta mineiro

Drummond está em evidência no ano que antecede o centenário de seu nascimento. O poeta mineiro, grande homenageado da próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), será tema do debate  “Arquivo e Memória em Drummond”, nesta segunda-feira, 31 de outubro, às 17h, na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB/MinC).

O evento, organizado pela FCRB e pela Flip, terá a participação dos críticos Marlene de Castro Correia, Júlio Castañon Guimarães e Luciano Rosa, e debaterá a atualizade do autor de Claro Enigma(1951). Para o curador da Flip, Miguel Conde, a interpretação das obras literárias não é estática, muda com o passar dos anos. “É próprio das grandes obras literárias que elas sejam objeto de interpretações renovadas a cada época, e não é diferente com Drummond. O tema da mesa faz referência tanto ao cuidado com que Drummond formou seu arquivo quanto à importância da memória em seus poemas, nos quais a recordação pessoal se liga à reflexão sobre as transformações da vida moderna e as origens da sociedade tradicional”, disse Miguel.

Dia D

O encontro também faz parte das ações do dia D, série de comemorações em homenagem à data de nascimento de Drummond, iniciativa do Instituto Moreira Salles (IMS) coordenada pelo poeta Eucanaã Ferraz e pelo jornalista Flávio Moura, co-curador da homenagem a Drummond na Flip 2012. O Dia D vai mobilizar críticos, escritores e artistas em encontros organizados por diversas instituições em Brasília, Belo Horizonte, Itabira, Lisboa, Paraty, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

O site www.diadrummond.com.br também terá conteúdo especial, como o filme Consideração do poema, produzido pelo IMS justamente para a data, no qual nomes importantes da cultura brasileira leem poemas de Carlos Drummond de Andrade. Entre eles, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Hatoum, Fernanda Torres, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Brito, Chacal e Marília Pêra.

Como a ideia primordial é envolver a maior quantidade de pessoas na comemoração, o IMS também contará com a participação de anônimos admiradores da obra do poeta, que poderão enviar por e-mail seus próprios vídeos com leituras de poemas

Memória da Literatura Brasileira

A Fundação Casa de Rui Barbosa possui boa parte do arquivo de Carlos Drummond de Andrade, doado pelo próprio poeta, que era um grande incentivador da criação de mecanismos para a preservação da memória. Foi ele quem semeou o modernismo na Semana de Arte de 1922 e, anos mais tarde, lutou pelo surgimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e também foi o principal mentor do Museu da Literatura Brasileira, pertencente à FCRB.

A pesquisadora do Arquivo-Museu da Literatura Brasileira, Eliane Vasconcelos, detalhou do material. “O acervo que está na Casa de Rui Barbosa é composto de correspondências, produção intelectual, originais e cadernos de desenhos.” Há também cartas que Drummond escreveu em acervos de outros escritores, como Clarice Lispector e Pedro Nava. A Casa de Rui Barbosa tem ainda uma coleção de recortes de jornais de todas as publicações de Drummond no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil”, disse Eliane.

Poeta e Escritor

Mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade foi poeta, cronista, contista e tradutor. Na poética de Carlos Drummond de Andrade, a expressão pessoal evolui numa linha em que a originalidade e a unidade do projeto se confirmam a cada passo. Ao mesmo tempo, também se assiste à construção de uma obra fiel à tradição literária brasileira, que reúne a realidade do país à poesia culta ibérica e européia.

Drummond fundou com outros escritores a publicação “A Revista” que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas Gerais. Publicou Alguma Poesia (1930), Brejo das almas (1934), Sentimento do mundo (1940), José (1942), A Rosa do povo (1945), entre outros. A surpreendente sucessão de obras-primas indica a plena maturidade do poeta, sempre mantida por ele.

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como intelectual, Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de suaúnica filha, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Saiba mais sobre o evento na FCRB

(Texto: Marcos Agostinho  – Ascom/MinC)

(Fonte: FCRB/MinC)

(Fotos: acervo FCRB)

Um comentário:

  1. Olá, merecida homenagem para o nosso sempre amado Drummond. Mas quando pensamos em João Cabral, Manuel Bandeira, Mario Quintana, Mário Faustino e tantos outros grandes poetas pensamos que seriam necessários o dia A. o Dia B, o Dia C,o Dia D ....Bonita escolha e quem sai ganhando é a poesia, que assim certamente será mais conhecida , lida e respeitada como ma das formas de criação mais original e profunda do espírito humano.

    O Namorado da Poesia

    Na Avenida Carlos Drummond
    em Itabira
    a poesia é pouca
    bem menos que a mentira

    algumas casas de branco
    onde alguém se desconfia
    da sacada da janela
    só a janela se espia
    mas vê de tudo lá fora
    atrás da porta do dia

    na Avenida Carlos Drummond
    em Itabira
    a poesia é pouca
    bem menos que a catira

    alguém se troca na esquina
    por dois mil réis e um relho
    lá se foi o tempo do onça
    agora a moda é mais fina
    quem não trabalha descansa
    e a vida não termina

    na Avenida Carlos Drummond
    em Itabira
    a poesia é pouca
    bem menos quem admira

    a vida vale dinheiro
    vale aço-ferro-tudo
    vale assim no mundo inteiro
    vale feijão e veludo
    mais depois da Vale a vida
    é só um vale morto-mudo

    na Avenida Carlos Drummond
    em Itabira
    a poesia é pouca
    bem menos que nossa ira

    algumas vendas venais
    algumas dores venéreas
    algumas donas de preto
    alguns anéis de cristais
    alguns doutores obesos
    todos mineiros-iguais

    algumas rezas noturnas
    algumas pedras a mais
    algum baralho escondido
    sob a luz dos castiçais
    algum olhar de bandido
    todos mineiros-rivais

    alguma virgem fingida
    subindo a rua Santana
    alguma dama remida
    seguindo a mesma avenida
    onde a vida Itabirana
    segue seus passos normais

    na Avenida Carlos Drummond
    em Itabira
    a poesia é pouca
    bem menos que sua lira

    a noite desce de névoa
    cobrindo casas e sonhos
    os anjos ruflando as asas
    desenham formas no ar
    parece até que o menino
    está querendo voltar
    a noite tece de sombras
    a memória da cidade
    o menino persegue a banda
    segue a rua de seu Pai
    onde Drummond se escondeu
    no corpo da liberdade

    onde Drummond o poeta
    que fugiu - que desertou
    e era ainda tão moço
    quando inhá moça o chamou
    onde Drummond - ninguém viu
    onde Drummond - quem levou

    será que foi nego véio
    ou foi quebranto de amor
    será que moço fugiu
    será que moço voou
    no dorso de um foguete
    que ele mesmo inventou

    onde Drummond - ningém viu
    onde Drummond - quem levou
    o certo é que o poeta
    suverteu-se evaporou
    caiu nas águas do rio
    e a corrente o levou


    vive trancado com ela
    a sete chaves de ouro
    e come e bebe com ela
    e dorme na mesma cama
    e só a ela responde
    mesmo se o mundo o chama

    por causa dela o poeta
    comete qualquer loucura
    dança no meio da praça
    se despe da roupa escura
    e gira e ginga e pirraça
    se inventa e se procura

    por causa dela o poeta
    enfrenta um touro espanhol
    enfrenta dura viagem
    planta paisagem no sol
    e dança e canta e revolta
    cavalgando um caracol

    só não volta a Itabira
    na Avenida Carlos Drummond
    pois a vida não responde
    é só minério e memória
    nesse mistério de bronze
    fechando a porta e agora?

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