quinta-feira, 24 de maio de 2012

Agentes culturais destacam suas impressões sobre o Procultura

Retirado do Cultura e Mercado em 24/05/12 do endereço:

http://www.culturaemercado.com.br/procultura/agentes-culturais-destacam-suas-impressoes-sobre-o-procultura/

Por Raul Perez

O Seminário #Procultura, iniciativa do Cemec e Cultura e Mercado, promoveu um debate interativo com a participação de atores importantes do setor cultural e do público presente no último sábado (19/5), na Associação dos Advogados de São Paulo.

O “aquário” que abriu os trabalhos na parte da tarde contou com a presença de Eduardo Saron, Fábio de Sá Cesnik, José Luiz Herencia, Marta Porto e Odilon Wagner, além do anfitrião Leonardo Brant. Um telão no palco apresentava os tuítes postados com a hashtag #procultura.

Brant abriu a sessão abordando o desenvolvimento da classe C. “A nova classe C é consumidora e produtora de cultura”, afirmou. Segundo ele, o setor precisa entender como trazer a potência econômica dos grandes eventos que ocorrerão no Brasil ao mercado cultural doméstico. Ele também destacou o surgimento de um novo mecenas no mercado: o público, através do crowdfunding. “É o financiamento da cultura pelo próprio público da cultura”, declarou.

A ensaísta e consultora Marta Porto fez algumas críticas ao modo de pensar a cultura. Ela afirmou que o mecenato não deve ser o único instrumento de fomento à cultura e atribui isso a uma certa preguiça histórica brasileira em pensar diferentes formas de fomento. “Cria-se uma lógica de que não existe financiamento à cultura fora da isenção fiscal, da doação”, afirmou.”Devemos aproveitar nossa capacidade e competência técnica para pensar novas formas de financiar a cultura no país.”

Ela declarou também que falta uma maneira de pensar a cultura fora da lógica do projeto. “A sociedade paga caro por essa máquina de aprovação de projetos que não é 100% eficaz”, afirmou, em alusão ao dado apresentado no seminário de que apenas 44% dos projetos aprovados na Lei Roaunet são executados.

Para José Luiz Herencia, o debate no setor cultural deve quebrar com a continuidade de preceitos. “A lógica do projeto instaurou-se e não é contestada. O sistema de análise tem um custo alto, que se reflete na produção cultural do país”, concordou com Marta Porto. Contudo, ele fez elogios a pontos do projeto apresentados pelo Deputado Pedro Eugênio e comentou que o PL deve procurar ampliar a base de empresas que utilizam a isenção fiscal, que é pequena atualmente.

Fábio Cesnik ressaltou a importância de, a partir do histórico do instrumento de financiamento, organizar o sistema de incentivo fiscal na direção correta. Ele também fez críticas à atual dependência do sistema de uma única fonte. “No mundo todo, o incentivo é um sistema de premiação, não de obrigação”, afirmou.

O ator, produtor e presidente da Associação dos Produtores Teatrais Independentes (APTI), Odilon Wagner, atentou para a necessidade do setor cultural se fortalecer para mostrar ao Estado sua importância como fomentador da economia. “Não existimos para o Estado em termos de importância. Se não formos por esse caminho, se não demonstrarmos em números a importância econômica do setor, não vamos sair do lugar”, declarou.

Para ele, não faz sentido a economia criativa representar cerca de 5% do PIB e mesmo assim a cultura não ter espaço siginificativo no orçamento da União. “Enquanto não for aumentado o investimento real na cultura por parte do Estado, viveremos a mesma situação”, afirmou. Segundo Wagner, também é preciso que o setor cultural se articule. “Muitas vezes não sabemos argumentar a nosso favor”, disse.

Eduardo Saron, superintendente do Itaú Cultural, disse que o debate sobre o Procultura vem amadurecendo ao longo do tempo. Ele afirmou que um dos méritos do projeto é pulverizar as fontes de recursos. “O PL diversifica o financiamento, o que é preferível ao invés de depender do orçamento da União”, afirmou.

Depoimentos - Na segunda parte do “aquário”, representantes de diversos setores da cultura expuseram suas impressões sobre o Procultura e sobre o financiamento à cultura no Brasil de maneira geral.

Daniela Pfeiffer, coordenadora de projetos da ABPI-TV, reforçou o coro sobre a necessidade de articulação da classe cultural em prol da construção de um novo sistema. Ela também afirmou que a área de audiovisual, por exemplo, movimenta outros setores da economia e que, por vezes, isso não é visto.

Liliana Magalhães, vice-presidente da Associação Brasileira de Gestão Cultural (ABGC), voltou a tocar no tema “gestão de processos versus gestão de projeto”. “Como formar gestores culturais? Onde está o olhar para o processo?” indagou. Para ela, é necessário ampliar o debate e aproximá-lo da sociedade. “Sem isso o próprio setor não se reconhece”, afirmou.

O presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, João Baptista Pimentel Neto, fez críticas ao Plano Nacional da Cultura. “Em que outro setor se faz planejamento sem orçamento? Só no nosso”, afirmou.

Eneida Soller, do Conselho Brasileiro de Entidades Culturais, confirmou o apoio das 40 entidades representadas pela CBEC ao Procultura. Ela informou que as representadas irão se articular para incentivar a aprovação do projeto no Congresso.

Ana Helena Curti, gestora cultural da Setor 3, pediu a regulamentação da profissão de produtor cultural, num dos depoimentos mais aplaudidos do evento. E Marco Aurélio Ribeiro, da Associação Brasileira de Documentários (ABD), ressaltou a importância da discussão sobre um novo mecanismo de incentivo à cultura.

Alex Merino, da Cooperativa Paulista de Dança (CPD), contestou o caráter excessivamente capitalista da Lei Rouanet e reafirmou a posição da CPD contra a continuação deste modelo onde, segundo o texto assinado pelos cooperados e lido por ele, só se beneficiam os grandes produtores.

Por fim, Marcelo Carneiro, produtor cultural de Goiás, afirmou que o debate é necessário, mas é preciso ação. Segundo ele, o projeto de lei tem defeitos, mas representa um avanço do modelo atual.

A participação do público através da hashtag #procultura foi maciça. Durante a manhã do sábado, o tema ficou entre os três primeiros Trending Topics São Paulo, ranking dos assuntos mais comentados do Twitter no estado.

Raul Perez

Raul Perez é estudante de jornalismo e estagiário do Cultura e Mercado. Para mais artigos deste autor clique aqui

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