terça-feira, 23 de abril de 2013

Nova cena musical de BH é comandada por músicos e bandas que propõem a música livre

Por Ailton Magioli - EM Cultura

Pesquisa da cultura popular e sensibilidade para as novidades são essencias para os artistas que dão a cara e voz da geração na capital mineira

Luiz Gabriel, Tales Silva, Luiza Brina, Irene Bertachini, Leandro César, José Luis Braga, Gustavito e Thiakov, na Praça do Copa, em Santa Tereza (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O cenário para o encontro com os protagonistas da nova cena musical belo-horizontina é pra lá de adequado. Afinal, ainda que não haja uma cartilha com ideias, princípios ou fundamentos, Santa Tereza, na Região Leste, volta a testemunhar o surgimento de movimento musical que tem tudo para fazer história, depois da rapaziada do Clube da Esquina, do heavy metal e do pop rock. Local escolhido pelos músicos para a entrevista: a Praça Coronel José Persilva, mais conhecida como Praça do Copa.
O que une a turma, que chega depois do Reciclo, que revelou, entre outros, Makely Ka, Kristoff Silva e Dudu Nicácio, é a velha (e sempre renovada) canção. “Assim como John Coltrane e Miles Davis, que tocaram juntos e com vários outros músicos, há um fluxo orgânico e uma complementaridade muito grande entre nós”, posiciona-se Luiz Gabriel Lopes, de 26 anos. Vocalista da banda Graveola e o Lixo Polifônico, que se destaca na nova cena, o compositor e instrumentista se nega a assumir a liderança do movimento, em que o intercâmbio de funções é evidente, desdobrando-se entre o trabalho coletivo e solo.

“Sou um cara que tem o comportamento da urgência, o que pode ser bom ou ruim”, explica. Ao lado de Jennifer Souza, da banda Transmissor, Luiz Gabriel produz a mostra Cantautores, que, além de um festival de fim de ano, promove eventos mensais na Casa Fiat. “Não esperava que a música tomasse esta relação com a vida”, confessa o cantor, que, vindo de Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes, já chegou à capital com o espírito do trabalho coletivo.
“Apesar dos festivais e eventos afins, sinto falta de espaços para mostrar meu trabalho autoral”, reclama Irene Bertachini, de 26 anos que, paralelamente ao grupo Urucum na Cara, prepara o lançamento do primeiro disco solo ('Irene preta, Irene boa') para 18 e 19 de maio, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna. Cantora, compositora e instrumentista, Irene não gosta de rótulos, mas costuma classificar o trabalho que faz de música popular contemporânea, “que explora timbres e arranjos um pouco mais inusitados”. Em síntese, “uma MPB de roupagem nova”. Militante da causa, Irene Bertachini também está envolvida com a mostra Palavra Som – Semana da Canção Contemporânea, que chegou à segunda edição com shows na Funarte MG.
'A toada vem é pelo vento', diz o sugestivo título do disco solo da cantora Luiza Brina, de 24 anos, que está de volta a Belo Horizonte depois de quatro anos no Rio, onde concluiu curso de composição na UniRio. “Aqui a galera está mais unida, mais disposta a correr atrás”, diz sobre a cena belo-horizontina, lembrando que o Rio, como vitrine nacional, tem de ter mercado. “Vejo Belo Horizonte mais disposta a criar e produzir”, acrescenta Luiza. Como admite, ela faz uma canção pós-tudo, “reflexo de um milhão de influências que ocorrem hoje dia, com muito da cultura popular que pesquiso”. Com o parceiro César Lacerda, ela gravou 'Ouça de fone', recém-lançado, antecedido de 'Luisa Brina e o liquidificador', do ano passado.

Coletivo

Gravados no coletivo Casa Azul, do Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste, a maioria dos discos da nova geração é feita em sistema colaborativo, viabilizados pelas leis de incentivo. “Na verdade, há mais oferta do que demanda”, constata o violonista Leandro César, de 28 anos. Na trilha do mago Marco Antônio Guimarães, o jovem constrói instrumentos para o grupo Uakti, paralelamente à carreira nos grupos Diapasão e Urucum na Cara, com os quais já assinou a direção musical de discos. Atualmente pelo menos seis discos estão em pré-produção na Casa Azul, que, além de estúdio de gravação e ensaios, serve de morada para alguns dos artistas envolvidos no processo, entre os quais o próprio Leandro.
Para o jovem músico, se sua geração conseguiu atingir alto nível profissional e de mercado, ainda enfrenta uma carência de amplitude. “Não há público para a nossa música”, lamenta Leandro César, que também ajuda a produzir a mostra Palavra Som. “Este ano tivemos problema de público na própria mostra”, diz. “Além de uma TV de maior alcance, precisamos de rádios, cuja programação na maioria das vezes está engessada”, garante Leandro, admitindo que a maior evolução registrada no mercado musical mineiro independente está nos estúdios caseiros. “Além do boca a boca, a internet tem sido o canal para divulgação do trabalho.”

Mais perto da cidade
Posição política? Lógico que a turma tem. Além de letras atentas à realidade política e sociocultural brasileira, alguns destes jovens artistas andam metidos em movimentos como Duelo de MCs e Praia da Estação, ambos em defesa do uso de espaços públicos pela comunidade em geral. O grande desafio, de acordo com Luiz Gabriel Lopes, é colocar o trabalho na roda. “Aproximar-se mais da cidade, a partir de iniciativas autônomas. Claro que não abdicando da estrutura”, afirma, cobrando a responsabilidade do poder público.
Na opinião do integrante da Graveola e o Lixo Polifônico, há uma característica muito feliz na atual cena musical belo-horizontina. “Trata-se da substância musical e poética que perpassa o trabalho de todos nós, de composições no âmbito da canção, em busca de vocabulário próprio”, reconhece. Para Luiz Gabriel, além de personalidades fortes há que se ressaltar o ambiente fértil de interlocução na cena, que traz consigo a já reconhecida herança musical mineira. “Somos uma geração que vai amadurecer. Estamos ainda no início de um processo”, avalia.
Desde novo aberto para estilos distintos, Gustavo Amaral, o Gustavito, de 26 anos, que acaba de lançar o CD solo 'Só o amor constrói', lembra que já passou por oito bandas, entre as quais Capim Seco e Urucum na Cara. Hoje, além da Diapasão, com Leandro César, ele participa da Tião, ao lado de Luiz Gabriel, e Terra das Laranjeiras, com Alexandre Andrés. Com fortes elementos da cultura popular em sua música, o cantor, compositor e instrumentista vai do samba reggae ao tambor de crioula, passando por afoxé e outros gêneros. “Busco fazer uma música acessível”, revela Gustavito.
Compositor-letrista da banda A Fase Rosa, Thales Ferreira da Silva, de 27 anos, admite que o grupo participa como observador para ajudar a elevar a cena musical belo-horizontina. Com show agendado na Ilha da Madeira, Portugal, A Fase Rosa se classifica como banda de MPB, com forte tendência a lidar com o rock abrasileirado. Mesmo que os companheiros priorizem A Fase Rosa, Thales lembra que todos também se envolvem em trabalhos paralelos, sob o argumento de que precisam tocar para sobreviver. “A cena cresce rápido e o mercado não acompanha”, constata o músico, cobrando a criação de portais, blogs e outros espaços para a nova música belo-horizontina.

Retirado do site do EM wm 23/04/13 do endereço:

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/04/21/noticia_musica,141795/nova-cena-musical-de-bh-e-comandada-por-musicos-e-bandas-que-propoem-a-musica-livre.shtml

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