sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Tecnobrega, o que é isso?

Retirado do Overblog em 08/07/2011 do endereço:

http://www.overmundo.com.br/overblog/o-tecnobrega-o-que-e-isso

patricktor4 · Recife, PE

Uma das Grandes novidades da cena musical brasileira do inicio dessa segunda década do século 21 é sem dúvida o ritmo eletrônico que vem de Belém do Pará, os vários estilos que formam este movimento: Melody, Tecnomelody, Cyber e Eletromelody são todas variações modernas e eletronicamente temperadas do Brega, tendência popular do norte e nordeste brasileiro, que tem em Belém um dos seus principais mercados.

Desde o final dos anos 70 e que hoje alimentam ao voraz mercado das Aparelhagens no estado amazônico, vamos aqui tentar fazer um suave, mas diversificado apanhando de informações que possam contribuir pra a compreensão do fenômeno, econômico, estético e social do Tecnobrega e tentar caracteriza-lo com o mais profundo respeito, sem preconceitos ou distorções explicando tanto pra paraenses quanto pra o resto da humanidade que não teve o prazer de nascer com esta benção.Belém, a Bolha

A Capital paraense é um polo cultural desde os idos do áureo período da borracha na Amazônia, por lá passaram grandes companhias de ópera, orquestras de câmara e grupos de teatro e balé vindos da Europa direta e exclusivamente para apresentações em Belém e Manaus.

Obviamente este ciclo de fortes influências artísticas e culturais contribuíram para construir uma metrópole amazônica rica em diversidade entre o que era consumido pela sua nobreza da Belle-Époque e o que era produzido por suas classes populares muito influenciadas pela cultura tradicional ou folclórica afro-indígena e principalmente pelas melodias e batidas da América Central que vinham a seus ouvidos através das emissoras de Ondas Tropicais das rádios caribenhas. Sendo assim merengues, zouks, cúmbias e boléros se juntaram a importantes expressões tipicamente paraenses como siriá, carimbó e lundú criando sonoridades incríveis de ritmos como a Lambada e a Guitarrada, esta ultima com forte relação com a jovem guarda, e é a jovem guarda o grande ingrediente pop desta incrível mistura bem brasileira.

O isolamento geográfico da imensa floresta, a riqueza cultural da região e o clima tropical que permite tudo, ou quase tudo, criou uma espécie de “Bolha”, um laboratório a céu aberto com características herméticas super especiais, o ambiente ideal pra a proliferação de nosso fenômeno, porém precisamos desenhar alguns dos ingredientes dessa nossa malha de influências da cultura popular, pop e urbana.

o Bolero

O maior fenômeno da música pop mundial do século XX foi sem dúvidas o quarteto de Liverpool, cidade portuária Inglesa que em quase nada sofreu com a segunda Guerra e ficou por algum tempo sendo o principal porto europeu, nesta cidade marinheiros de várias regiões do mundo se divertiam nos butecos à beira do cais, entonando suas músicas tradicionais que não obstante falavam de lamentos amorosos e de saudades de casa, entre estes ritmos estava o caribenho Bolero.

Esse ambiente cultural diverso e cheio de informações de todo o mundo foi o reduto boêmio onde beberam e se influenciaram os adolescentes que viriam a formar diversas bandas naquela cidade, mas é do Bolero que vem a principal influência do iê-iê-iê que popularizou os Beatles em todo mundo, basta ouvir Bienvenido Granda cantando “Perfume de Gardênia” clássico do Bolero e Beatles com “Do You want know a secret”ou “No reply” só pra citar dois não hits e perceber a célula rítmica.

No Brasil o iê-iê-iê beatlemaniaco virou jovem guarda, e como em quase todo o mundo, artistas em seus mais diversos países e culturas criaram os seus equivalentes iê-iê-iê's, tratando dos mesmos temas e sempre com uma pegada romântica, dolorosa e apaixonada.

No norte e nordeste do Brasil a jovem guarda virou o Brega, ali por meados dos anos 70 e foi reorganizada de acordo com as realidades locais, muito além do sotaque as temáticas apaixonadas e de “dor de cotovelo” tiveram as suas histórias mais realçadas em contos que em sua maioria concluíam o quanto era difícil de viver sem a pessoa amada.

O extremo preconceito social e econômico no país, e até intolerâncias regionais em um país de dimensões continentais fizeram com que o termo “Brega“ virasse sinônimo de algo ruim, de gente pobre e ignorante.

75/85

O grande apogeu da produção e consumo do Brega inicialmente foi em um período de cerca de 10 anos entre 75 e 85, quando o grande volume de artistas, compositores e bandas fortaleceram este cenário musical no norte e nordeste brasileiro, enchendo prateleiras de lojas com seus discos que vendiam muito bem entre as classes mais populares, as programações das rádios com seus sucessos, e as festas de gente.

Os eventos aconteciam em bares da periferia e nas regiões centrais de comercio e próximo a mercados públicos, não exatamente eram eventos ou shows agendados e anunciados, simplesmente o bar tinha a infra-estrutura de som (Aparelhagem) e servia a seus clientes com os sucessos executados em um alto volume, pra desespero da vizinhança, essas “Serestas” como eram conhecidas no Nordeste, tinham em sua seleção musical basicamente músicas românticas que embalavam os casais apaixonados que dançam agarrados nas vozes de seus grandes ídolos: Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, Alípio Martins entre outros.

É óbvio que essa é uma caracterização ampla para desenhar de forma geral como era a época, obviamente em cada cidade os eventos poderiam mudar de perfil ou onde aconteciam, mas os pontos citados se repetiam.

Com o passar dos anos a evolução tecnológica e o acesso a outras sonoridades e produções estrangeiras possibilitou modificações nas composições e na sonoridade do Brega, a forte presença dos teclados e a possibilidade de eliminar a bateria acústica ampliam as facilidades de produção e levam o Brega a ficar cada vez mais pop e sintético, um grande exemplo disso é que “Das Model” e “Showroom Dummies” do grupo alemão Kraftwerk são grandes sucessos até hoje nos Bailes da Saudade na capital paraense.

“Das model” ganhou versão em português “Bole e Rebole” da banda Los Bregas e basta ouvir “Showroom Dummies” na gravação original de 1977 do álbum Trans Europe Express pra sacar a batida e os tecladinhos usados até hoje no tecnobrega, sem esquecer que são 2 boleros.

Os Bailes da Saudade em Belém são eventos onde se toca sucessos do passado que são conhecidos como “brega saudade” ou simplesmente “saudade” e não raramente remontam este melhor momento da fase inicial do brega.

Do Brega ao Tecnobrega

O Brega embala as festas paraenses há muitos anos, mas na fase pós 85 foi quando tudo começou a se modificar, as possibilidades técnicas sobre tudo as baterias eletrônicas nos teclados, como em toda a música pop mundial da época, deram uma maior facilidade técnica de se gravar e produzir as músicas, ampliando significativamente o universo das composições e a quantidade de músicas e artistas, durante os anos 90 com a introdução dos computadores nos estúdios de gravação conseguiu se tirar não apenas o baterista, como também outros músicos, é quando o Brega começa a ficar realmente tecnológico, pois apenas com o teclado e o computador era possível se produzir um disco inteiro em estúdio, bastando apenas ter os cantores, facilitando o processo e tornando os estúdios pequenas fabricas locais de sucessos.

Da mesma maneira que estas facilidades popularizaram a produção fizeram cair vertiginosamente a qualidade técnica das produções qualquer estúdio de fundo de quintal produzia sucessos, que conquistavam público e bombavam nas festas e no rádio, mas estavam longe de ser considerado ao menos um trabalho profissional, outro reflexo dessa facilidade de se fazer sucessos foi a vida útil de um hit que normalmente duraria um ano ou um semestre passou a durar meses até mesmo semanas, sendo esquecido e substituído por outro quase que automaticamente.

Contudo o grande impacto na produção do Tecnobrega acontece com os computadores caseiros que fizeram com que realmente qualquer um pudesse comprar o PC, instalar o programa Fruity loops e começar a produzir suas músicas, essa facilidade trouxe muita coisa ruim, mas também diversos sucessos catapultam até hoje desconhecidos ao status de pop stars do Tecnobrega, um ótimo exemplo é a banda Puro Desejo, que só surgiu depois que as produções dos Djs Léo e Deivid de Santa Izabel do Pará fizeram sucesso nas Aparelhagens, depois eles montaram o grupo.

Os produtores e djs disponibilizam suas músicas na internet, na maior parte das vezes no site 4Shared, é de lá que o público e os camelôs que produzem os Cd's. coletâneas vendidos nas ruas de Belém pegam as músicas, estes vendedores produzem coletâneas com os novos lançamentos, sucessos do passado, outras misturas, em qualquer esquina da capital paraense é possível encontrar as coletâneas.

As Aparelhagens

As aparelhagens de Belém, tal qual como no Rio e em São Paulo dos anos 70 e 80 as equipes de som badalavam as noites dos finais de semana dos jovens, mas ao invés do disco e funk americana, as aparelhagens paraenses tocavam Brega.

Grandes festas com milhares de pessoas, ao som pulsante do zouk, brega, lambada e outros ritmos construíram este tipo de sound system amazônico como o mais importante palco da cultura pop paraense.

Na década de 2000 as aparelhagens paraenses se posicionaram como as empresas com os equipamentos mais profissionais de luz e som do país, sendo Belém do Pará a capital brasileira com mais metros quadrados de telões de LED.

A grande movimentação de dinheiro nestes eventos criou uma competição entre as equipes de som pelo equipamento mais moderno, que chamasse mais atenção e que lhe desse o statos de “arrasta povo”. Outra importante característica da aparelhagem é o palco onde fica o dj, sempre fazendo alusão a naves espaciais modernas, com lasers, brilhos e cores fortes a cabine dos Djs é uma atração à parte na Aparelhagem.

Hoje nas festas do SuperPop, Tupinambá, Príncipe Negro, Vetron e etc se toca muito “melody” principal tendência do tecnobrega com músicas românticas, na sua maioria com vocal feminino, e reefs de tecladinhos que grudam na cabeça de qualquer um, e também o “eletro melody” sub-estilos mais moderno desenvolvido pelos djs Waldo Squash, Joe Benassi, David Sampler e Marlon Branco com forte influencia da Euro dance e os teclados ácidos da eletrohouse, mas também tem outros estilos como os sucessos do Funk carioca, do Pagode, do sertanejo e da música pop comercial em geral.

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