quinta-feira, 14 de julho de 2011

Taxi Driver no Projeto Estação Cinema, neste sábado.

O filme escolhido foi Taxi Driver, verdadeiramente outro clássico.

Mais um filme de Martin Scorsese no Estação Cinema.

Taxi Driver é caracterizado pelo que podemos chamar de desencantamento do mundo. Ou como nos diz o amigo Eduardo Veloso, a “Estética da Tristeza”. É um filme sobre a ressaca do “American Dream”, das guerras que os EEUU patrocinavam e participavam, não à toa o protagonista é um veterano do Vietnã.

Pois bem, “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação”, paremos de conversa e vamos ao filme.

PRÓXIMA SESSÃO:

DIA: 16 DE JULHO
HORÁRIO: 20h:00min
LOCAL: Estação Doce Maria
ENDEREÇO: Rua Dr. João Antônio, 50 (em frente à UETO).
CONTATOS:
contato@mucurycultural.org​ 33-8886-4097 e 33-9917-6509.

 

Ficha Técnica (*)

título original:Taxi Driver

gênero:Drama

duração:1 hr 54 min

ano de lançamento: 1976

site oficial:

estúdio: Columbia Pictures Corporation / Italo/Judeo Productions / Bill/Phillips

distribuidora: Columbia Pictures

direção: Martin Scorsese

roteiro: Paul Schrader

produção: Julia Phillips e Michael Phillips

música: Bernard Herrmann

fotografia: Michael Chapman

direção de arte: Charles Rosen

figurino: Ruth Morley

edição: Marcia Lucas, Tom Rolf, Thelma Schoonmaker, Melvin Shapiro e Steven Spielberg

Sinopse (*)

Em Nova York, um homem de 26 anos (Robert De Niro), veterano da Guerra do Vietnã, é um solitário no meio da grande metrópole que ele vagueia noite adentro. Assim começa a trabalhar como motorista de taxi no turno da noite e nele vai crescendo um sentimento de revolta pela miséria, o vício, a violência e a prostituição que estão sempre à sua volta. Perde bastante noção das coisas quando leva uma bela mulher (Cybill Sheperd), que trabalha na campanha de um senador, para ver um filme pornô logo no primeiro encontro, mas tem momentos de altruísmo ao tentar persuadir uma prostituta de 12 anos (Jodie Foster) para ela largar seu cafetão, voltar para a casa de seus pais e ir para a escola. Porém, em contra-partida, compra quatro armas, sendo uma delas um Magnum 44, e articula um atentado contra o senador (que planeja ser presidente) e para quem sua amiga trabalha.

Premiações (*)

OSCAR
Indicações
Melhor Filme
Melhor Ator - Robert De Niro
Melhor Atriz Coadjuvante - Jodie Foster
Melhor Trilha Sonora
GLOBO DE OURO
Indicações
Melhor Ator - Drama - Robert De Niro
Melhor Roteiro
BAFTA
Ganhou
Melhor Atriz Coadjuvante - Jodie Foster
Melhor Revelação - Jodie Foster
Melhor Trilha Sonora
Indicações
Melhor Filme
Melhor Diretor - Martin Scorsese
Melhor Ator - Robert De Niro
Melhor Edição
FESTIVAL DE CANNES
Ganhou
Palma de Ouro

Trailer (*)

(*) As informações foram retiradas do Adoro Cinema.

Quer mais sobre o Taxi Driver?

Taxi Driver, 1976

Por Juliano Mion
Originado de um período sombrio e pesado de Hollywood, é um dos grandes filmes do século XX.

“Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite”
- Allen Ginsberg

O trecho citado acima consiste no início de um dos poemas mais aclamados do século passado, intitulado simplesmente de “Uivo” – que curiosamente tem a ver com Taxi Driver. É de autoria de Allen Gingberg, poeta da geração “beat”, ou seja, do grupo dos chamados “beatniks”, que, em linhas gerais, consistia em uma classe artística de escritores marginalizados que, por meio de uma arte libertária, distante dos pesados grilhões normativos, exprimia sua visão de mundo oposta aos valores de uma conservadora sociedade americana, de modo a estar alinhada com a realidade das ruas e com a juventude sedenta por liberdade. Enfim, como diz o ditado, “o resto é história”. O poema é de 1956, e esse movimento seria a gênese de toda a revolução cultural que aconteceu nos anos 60 e que, em meados da década de 70, já demonstraria grandes sinais de desgaste, ou melhor, toda a sua deformidade, toda a frustração, todo o amargo efeito colateral daquela festa sem fim – assim como bem disse Lennon com o seu veredicto: “O sonho acabou”. Aqueles anos dourados dariam lugar a uma nova era obscura nos anos 70, de temas pesados e violentos, e assim seria refletido no cinema americano.

É a partir daí que podemos adotar um ponto de vista sobre Taxi Driver, de Martin Scorsese. O filme inquestionavelmente faz parte desse período mais sombrio e pesado de Hollywood, que abandona a leveza de sua era de ouro para tratar seriamente de temas mais seminais – violência, drogas, sexo, caos urbano, solidão, política e novos valores. Já nos fins da década anterior pipocavam títulos como Perdidos na Noite e Sem Destino.  Na década seguinte a lista é quase infindável, indo de M.A.S.H. e Chinatown até o próprio Caminhos Perigosos de Scorsese. De qualquer forma, Taxi Driver é um filme que se inclui duplamente neste contexto. Não somente o filme é um caldeirão de toda a temática que vinha sendo abordada naquela década, como seu protagonista personificava toda a desilusão daquele sonho sessentista, de modo que sua personalidade continha características que simbolizavam todos os excessos da contracultura: era reacionário, obsessivo e anti-social. Não por acaso, o maior nome do movimento “beat”, Jack Kerouac, teve um fim que contava exatamente com esses ingredientes. E que bem foi profetizado por seu colega, como demonstra o trecho do poema acima.

Travis Bickle, o motorista em questão interpretado brilhantemente por Robert De Niro, é mais uma dessas almas perdidas e solitárias sem rumo nos EUA. Ex-combatente da guerra do Vietnã, mal adaptado socialmente, sofredor de insônia, vai procurar emprego como taxista noturno para ocupar seu tempo e fazer algum dinheiro. Consegue o trabalho, tem-se início a sua jornada pelas ruas “sujas” pela madrugada de Nova York.  Sua repulsa por negros, prostitutas, drogados é crescente, ao passo que apaixona-se pela jovem secretária de comitê de campanha de um senador à Presidência interpretada por Cybill Shepherd – sobretudo detentora de uma beleza um tanto ariana.  Desajeitado, ou melhor, desajustado, leva a garota para um cinema pornô. Obviamente o romance parou por ali, o que faz agravar ainda mais o lado doentio de Bickle. Sua “consciência cindida” dá lugar a um perfil de assassino, uma mente obsessiva que quer fazer justiça por meio de um atentado ao senador/candidato. No entanto, no desenrolar deste processo (que inclui um árduo treinamento físico e uma progressiva paranóia), desta busca louca e atípica por redenção, Travis depara-se com a jovem prostituta de 13 anos Iris, interpretada por Jodie Foster.

É no meio desse redemoinho emocional parcialmente baseado na obra “Memórias de Subsolo” de Dostoievski que o personagem pronuncia, sozinho diante do espelho, a que é possivelmente uma das falas mais famosas do cinema: “Are you talkin’ to me? [Você está falando comigo?]. A frase, segundo reza a lenda, foi totalmente improvisada por De Niro. Aliás, diga-se de passagem: que atuação! Simplesmente espetacular a maneira como o ator conseguiu gerar tanta verossimilhança com um personagem tão denso dramaticamente, como ele deixa sutilmente transparecer suas motivações mais genuínas. Ele já vinha com um Oscar por O Poderoso Chefão: Parte II, mas este foi o filme definitivo ao catapultar sua carreira e a do diretor ao mais alto escalão de Hollywood. Para este que vos escreve, De Niro é um dos atores mais geniais do cinema americano, não só por sua capacidade de interpretação e pela maneira como prepara-se intensamente para cada papel, mas sobretudo por sua versatilidade – o que talvez seja mais difícil.

Mas, apesar de toda a paranóia do personagem e do ápice nas cenas de violência, o que fica é a sensação de que Taxi Driver é, essencialmente, um filme sobre a solidão.  Como bem afirma o protagonista em um momento do filme, definindo-se como “um homem solitário de Deus”. Uma solidão acompanhada por um sentimento de deslocamento diante de um mundo de contornos tão perversos e que não propõe grandes expectativas para um cidadão comum.  Não por mera coincidência, o detetive J.J. Gittes (Jack Nicholson) do já citado Chinatown, igualmente só e perdido no lodo do submundo urbano, responde quando perguntado se está sozinho: “Esta não é a situação de todos?”.  Assim como no filme de Polanski, Scorsese aponta o cinema Noir como de grande influência em Taxi Driver. Também como indica a linguagem dos filmes de Godard daquela época como outra influência que converge neste filme. Quanto a sua estética, há ainda a notável e soturna trilha sonora composta por Bernard Herrman, usual parceiro de Hitchcock, que morreu pouco tempo após a conclusão do filme.

Existe um documentário de Scorsese chamado “Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano” (que rendeu um livro também). Nele, o diretor pessoalmente divide os cineastas em três tipos distintos: os “Ilusionistas”, os “Contrabandistas” e os “Iconoclastas”.  Não cabe aqui explicar exatamente a pouco clara e por vezes equivocada classificação, mas certamente Taxi Driver contém elementos do que seria uma obra de cada tipo de cineasta. Ao passo que é um filme de temática pesada e sombria, abocanhou notável bilheteria. Mesmo remetendo artisticamente a um trabalho de cinema de autor, é inegavelmente um produto pop. Da mesma forma, o chocante paria interpretado por De Niro surpreendentemente desfruta de grande popularidade ainda hoje. Há ainda o fama de o filme transmitir um suposto “realismo” cru das ruas (embora talvez em uma conotação equivocada do termo), sendo que, em contrapartida, há um polimento bem “hollywoodiano” no filme. Foi finalista em várias categorias do Oscar, mas foi coroado com premiação na Europa – especialmente no Festival de Cannes, onde ganhou a Palma de Ouro. De qualquer forma, apesar de toda essa dualidade, sem dúvida é um dos grandes filmes americanos de toda a história do cinema, como bem afirma o crítico Roger Ebert.

No entanto, não darei 10 ao filme, por um simples motivo: pessoalmente achei desnecessária a última cena na conclusão do filme, após a seqüência violenta e apoteótica do fim. Sem querer fazer um “spoiler”, creio que não faz sentido o arrependimento de um personagem como o de Besty, nem de caracterizar Travis como herói. De qualquer forma, isto é uma observação idiossincrática – que de forma nenhuma altera a opinião de que estamos diante de uma inesquecível obra-prima do cinema americano.

Por Juliano Mion, em 22/08/2008

Retirado em 14/07/2011 do Cineplayres do endereço:

http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1403

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