quinta-feira, 5 de julho de 2012

Economia Criativa – e agora, José?

Retirado do Cultura e Mercado em 05/07/12 do endereço:

http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/economia-criativa-e-agora-jose/

Por Ana Carla Fonseca Reis

Acaba de ser formalizada a Secretaria da Economia Criativa, voltada a um tema que conquista o mundo desde sua emergência na Austrália, em 1994 e sua adoção como política de Estado no Reino Unido, em 1997.

No Brasil, a proposta desembarcou em 2004, pelas mãos do Embaixador Rubens Ricupero, quando Secretário-Geral da UNCTAD. Desde então, grupos empresariais, pesquisadores, economistas e governantes estaduais e municipais vêm ladrilhando a trilha da economia criativa, demonstrando seu potencial como estratégia de desenvolvimento, sensibilizando a sociedade civil e produzindo estudos e ações.

A institucionalização de uma secretaria no governo federal é um marco importante para que a base construída seja alavancada por políticas públicas. Como especialista no assunto, venho deixar minha contribuição para o debate e a construção dessas políticas, sugerindo alguns caminhos complementares aos mencionados no Plano da Secretaria da Economia Criativa, publicado há nove meses.

Em primeiro lugar, economia criativa abrange não apenas cultura, mas também tecnologia (o que levou o Ministério da Cultura, por anos, a privilegiar o termo “economia da cultura”). Cultura e tecnologia são as duas fontes de direitos de propriedade intelectual, que costumam definir os setores criativos de uma economia. Desenvolver a economia criativa requer, portanto, uma política articulada entre ministérios, a começar por Cultura; Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Educação; e Ciência e Tecnologia. Mas articular políticas não significa que sairão do papel, em especial quando à dianteira do processo está um ministério com baixo capital político. Uma saída seria organizar uma força-tarefa no governo federal, tendo à sua frente uma liderança com capacidade de influência sobre os vários ministérios e operacionalizada pelo MinC.

Em segundo lugar, economia criativa é economia. O financiamento a empreendimentos criativos segue uma lógica de mercado, distinta da que se vale de leis de incentivo ou de editais de premiação. Economia criativa pressupõe que os empreendedores criativos de vários portes tenham acesso a crédito a taxas de juros aceitáveis, apesar de não disporem de garantias reais. Como o Estado não deve tomar o papel da iniciativa privada, mas sim orientar sua atuação, caberia criar um instituto de aval público-privado para empréstimos a empresas criativas, como ocorre há décadas em alguns países.

Em terceiro lugar, a capacitação requer um deslocamento do olhar para os talentos criativos. Estudos recentes demonstram a alta mobilidade desses profissionais, entre os setores tradicionais e os criativos, de modo que a valorização da criatividade não deve ser restrita a alguns cursos. Criativo não é só o artista ou o cientista. Somando-se a isso que muitos talentos se dedicarão a profissões que hoje inexistem, a criatividade deve ser reincorporada desde a educação fundamental. Essa constatação levou países como Cingapura e Hong Kong a reformularem completamente seu sistema educacional, na construção de uma estratégia voltada à economia criativa.

Por fim, para concretizar objetivos tão complexos, é fundamental que a Secretaria da Economia Criativa reconheça, polinize e credite as boas práticas já existentes no Brasil e tenha a sabedoria de focar sua atuação sobre os gargalos que vêm retardando uma trajetória brasileira construída a várias mãos.

Ana Carla Fonseca Reis http://www.garimpodesolucoes.com.br

Economista, Doutora em Urbanismo, autora de diversos livros e estudos internacionais sobre economia criativa e cidades criativas. Para mais artigos deste autor clique aqui

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