sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"robin hood" - a última batalha

 

Eduardo Escorel*

17/5/2010 - 12:50**

Há várias batalhas no filme dirigido por Ridley Scott. A última começou na semana passada, quando “Robin Hood” teve lançamento mundial em cerca de 10 mil cinemas, depois de ser exibido na abertura do Festival de Cannes. No Brasil, desde sexta-feira está em mais de 400 salas; nos Estados Unidos, em 3,5 mil.
Pretendendo repetir o sucesso de “Gladiador”, também dirigido por Ridley Scott, com o mesmo Russell Crowe no papel principal, “Robin Hood” foi produzido por 237 milhões de dólares, mais de duas vezes o custo do filme anterior. Russell Crowe foi contratado por 20 milhões de dólares, e 20% da renda a partir desse mínimo garantido.
“Gladiador” venceu sua última batalha, rendendo mais de 457 milhões de dólares, sendo 269 milhões só nos Estados Unidos. Para ter sucesso comercial equivalente, “Robin Hood” precisará render mais de 900 milhões, conseguindo cobrir assim também os gastos de lançamento. Nos três primeiros dias de exibição, nos Estados Unidos, rendeu 37 milhões de dólares.
Trata-se, portanto, de investimento de alto risco, aliado a operação logística complexa. Fartura de recursos e know-how especializado, para contar a origem de uma lenda situada no século XII, tornando possível encenar batalhas, emboscadas, escaramuças e massacres – do ataque a um castelo na França, na volta da Palestina, em que o rei Ricardo Coração de Leão morre, à ocupação das telas do planeta, na semana passada.
Na escala de produções como “Robin Hood”, é nisso que o cinema dominante se transformou – demonstração de estratégia e tática, tanto militar, quanto mercadológica e cinematográfica.
A partir de março de 2009, o veterano comandante conduziu suas tropas com a eficiência costumeira, adquirida na realização de mais de 20 filmes, alguns memoráveis. Ridley Scott “sabe de quantos cavalos dispõem, quantas cabeças tem a mão, quantas câmeras precisa para fazer um plano. Ele é o patrão, e por ter esse comando da infraestrutura, é capaz de criar outros mundos”, declarou Russell Crowe a David Carr, no New York Times. Testemunhos dão conta do grau de empenho de Ridley Scott para assegurar o enquadramento perfeito. Quando uma barcaça de 15 toneladas insistia em aparecer onde não devia, não hesitou em entrar na água e tentar empurrá-la para fora de quadro. Dirigir filmes da dimensão de “Robin Hood”, além de capacidade intelectual e controle emocional, exige esforço físico. O preço pode ser uma prótese no joelho, à qual Ridley Scott está se adaptando.
O personagem do arqueiro real, futuro Robin Hood, é um herói libertário que assume a liderança da luta de Nottingham, submetida à tirania do rei João, irmão mais moço e sucessor de Ricardo Coração de Leão. Em um reino endividado pela gastança nas Cruzadas, cobrar impostos à força é a opção escolhida. Herança maldita, endividamento e massacres são referências explícitas às crises e horrores do nosso tempo, que servem para tentar estabelecer conexões com a sensibilidade contemporânea.
O roteiro de Brian Helgeland, autor entre outros de “Combate pela verdade” e “Sobre meninos e lobos”, a partir da primeira versão de Ethan Reiff and Cyrus Voris, pela qual receberam, em dólares, cifra de sete dígitos, não tem pudor em recorrer a frases feitas do naipe de “reis precisam de súditos, e súditos precisam de reis”; “nunca desisitir” para que “cordeiros se tornem leões”; “desunião traz destruição” e outras que tais. Beijos apaixonados em close coroam as peripécias. No fim do espetáculo de violência no qual “Robin Hood” se compraz, o que predomina é sensação de vazio.

* Eduardo Escorel é cineasta e ensaísta, dirigiu “O Tempo e o Lugar”, escreve sobre cinema para a Revista Piauí. O texto foi retirado no dia 17/05/2010** do blog questões cinematográficas: http://www.revistapiaui.com.br/blog/questoes_cinematograficas/post_115/%E2%80%9CRobin_Hood%E2%80%9D_%E2%80%93_a_ultima_batalha.aspx

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