segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

“lula”, ainda – o eufemismo*

 

18/1/2010 - 13:30

No primeiro caderno do “Globo” de ontem (17/1/2010), há uma tentativa de explicar, segundo o título da matéria, “Por que ‘Lula’ não emplacou”. Não deixa de ser curioso o jornal dedicar uma página inteira para explicar, sem eufemismo, o fracasso do filme. Seria uma tentativa de justificar a ampla cobertura dada antes do lançamento?
Não uso a palavra fracasso com satisfação. Mas, ao contrário do que Paulo Sérgio Almeida afirma na matéria, considerando o custo de produção e de lançamento; levando em conta a expectativa e a cobertura da mídia, e o número de salas em que foi lançado; analisando a média de público por sala etc. não é o número absoluto de espectadores que vai definir o resultado comercial do filme.
Só vi, na televisão, trechos de “2 filhos de Francisco”, filme que teria servido de parâmetro para definir a expectativa de 5 milhões de espectadores para “Lula, o Filho do Brasil”. Mesmo assim, arriscaria dizer que se os dois filmes forem equivalentes em todos os aspectos, e suspeito que não sejam, há um abismo, em termos de empatia, entre uma dupla sertaneja de grande sucesso e um imigrante que se torna líder sindical.
Por outro lado, foi razoável supor que a recepção ao filme não fosse “politizada”, como Luiz Carlos Barreto diz na matéria ter sido a expectativa dos produtores. Tendo lido muito sobre o filme, em jornais e revistas, não diria que a maior parte do que se escreveu teve conotação política. As restrições levantadas em relação ao filme foram de outra natureza.
Não ter se tornado atração familiar, o que já comentei em post anterior, volta a ser usado como argumento para explicar o fracasso. Continuo a não entender o que haveria de tão atraente, para a família, na trajetória de vida do Lula. E continuo achando que um dos vários erros cometidos foi excluir o período entre a criação do PT e a eleição para presidente.
Só em inglês há uma expressão adequada para a idéia que o público pudesse preferir, em plenas férias escolares de verão, “Lula, o Filho do Brasil” a “Avatar”, “Sherlock Holmes” e “Alvin e os esquilos 2”. É “wishful thinking”. No caso, talvez devesse ser traduzida por amarga ilusão.
O distribuidor, Bruno Wainer, reclama que a “esquerda calou. O papelão foi dos aliados.” Mesmo sem ter procuração da “esquerda” ou dos “aliados”, pergunto se não há aí uma contradição insanável. Não queriam que o filme fosse um programa familiar? A impressão que dá é que nem o produtor, nem o distribuidor, souberam avaliar o filme que tinham nas mãos. Um exibidor, citado na matéria, é taxativo: “filmes sobre políticos não rendem”. Parece que ele tem razão.
Teria sido diferente se o lançamento tivesse sido adiado para abril ou maio, como sugere a produtora, Paula Barreto? Creio que não alteraria em nada o resultado comercial, ao contrário, com a proximidade da campanha presidencial, agravaria o estardalhaço em torno do filme.
Na longa matéria, fora a sugestão dos autores de que falta emoção, pouco se diz do filme em si. Não estará aí uma das raizes do problema? Em projetos de produtor, como “Lula, o Filho do Brasil”, o que menos importa é o filme, propriamente dito. Que tal pensar um pouco nele?

* Eduardo Escorel é cineasta e ensaísta, dirigiu “O Tempo e o Lugar”, escreve sobre cinema para a Revista Piauí. O texto foi retirado no dia 12/01/2010 do blog questões cinematográficas:http://www.revistapiaui.com.br/blog/questoes_cinematograficas/post_36/“Lula”_ainda_–_o_eufemismo.aspx

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