segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não se preocupe em entender...

Publicado originalmente por Clau Monteiro no seu quem se importa? e retirado em 06/0602011 do endereço:

http://eiyouvoceseimporta.blogspot.com/2011/06/nao-se-preocupe-em-entender.html

Esse mês fui convidada para falar em dois eventos distintos. Recusei ambos, não porque eu sou a gostosa, um dos motivos foi por dificuldade de falar em

público mesmo. O primeiro será uma audiência pública no Senado, para comemorar o dia da poesia, que foi em março, não poderei também porque não estarei na cidade, mas na hora que meu amigo Roberto me disse, Tiago de Mello é um dos convidados, você quer fazer parte da mesa?fiquei surpresa! eu disse que não. E depois fiquei pensando; porque eu faria parte dessa mesa? O escritor deve falar menos e escrever mais, eu penso.

O segundo será um seminário do trabalho, é para falar sobre a assessoria de comunicação da bancada do PT. Não tem nada a ver com poesia, é sobre Internet, redes sociais, assuntos que eu domino, de certa forma. Domino a técnica a retórica...tsc tsc. Bem, eu prefiro ficar nos bastidores. Sabe aquela vontade de aparecer, estar na mídia, nos holofotes, nas entrevistas, nos flashes? eu não tenho. Talvez por isso minha retórica não aconteça.

Quem se propõe a isso, tem que despertar à atenção, tem que ter um discurso interessante, de forma que as pessoas não percam o interesse, é um "SENHOR" talento o dom da palavra. Eu fico também me policiando para não massagear muito o ego, tem um trecho do filme "o Pequeno Buda", que gosto muito,  em que Sidharta passa pelas mais variadas provações. Num determinado momento ele fica cara a cara com o ego, que diz a ele:

- você, que vai onde mais ninguém ousaria ir, quer ser meu Deus?

Sidharta responde: - Arquiteto, finalmente encontrei você. Não voltará a reconstruir a sua casa.

- Mas eu sou a sua casa e você vive em mim.

- Oh, senhor da minha própria imagem, você é pura ilusão.Você não existe. A terra é minha testemunha.

Consta que Buda atingiu a iluminação e se libertou das ilusões do samsara neste momento.

Pretensão minha achar que estou alcançando a iluminação e me libertando das ilusões do ego me negando a estar nos "holofotes", mas confesso que esse "estar" me incomoda. Eu realizei meu projeto de escrever um livro, faço com que ele chegue as pessoas de alguma forma e não pretendo impressionar ninguém. Da mesma forma realizo meu trabalho, busco conhecimento e tenho muitas coisas a aprender também. Mas engraçado que quando as pessoas fazem o convite, elas ficam com aquela cara de - é claro que você vai dizer sim, olha que oferta, você não vai negar.

Sinto muito decepcioná-las, mas taí, eu não faço o que não acho certo, nem o que não estou com vontade de fazer, nem o que não me deixa segura; somente para aparecer.

Clarice Lispector tinha essa personalidade, avessa às entrevistas, (acho que a única entrevista da vida dela) feita em 1977 para a TV Cultura, ela faz pausas eternas, dá respostas de forma monocórdica. Impressionante para uma escritora como ela.

Em um momento o entrevistador pergunta se ela se considera popular, ela diz que não, que as pessoas acham ela hermética, como popular?. A síntese perfeita da personalidade de Clarice é isto “Sou tão misteriosa que não me entendo.” Em outro momento, o jornalista pergunta: - a partir de qual momento, você decide assumir a carreira de escritora...

Clarice responde: - eu nunca assumi, eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou amadora, e faço questão de continuar a ser amadora, para manter a minha liberdade.

Resumindo: é isto, longe de mim me comparar a Clarice, imagina se cabe, Clarice é Genial, eu sou uma aprendiz do fazer, como fazer, para que e porque fazer.

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