Olá Mucuryanos,
Já passaram-se duas semanas desde nossa última sessão. Este tempo, depois do último tsunami tá passando muito rápido…
É o seguinte, o filme desta vez, como viram, é O Bebê de Rosemary, do inquestionável diretor Roman Polanski. Trazemos sempre um texto sobre os filmes que veremos, hoje são dos, pequenos.
Verão inclusive que em alguns pontos discordam entre si, e ainda bem que todos nós discordamos, não é mesmo? E é por isso que, após a votação, não há reclamação… pois tiramos o nosso da reta.
Fiquem com os textos e até amanhã, às 19h:30min.
Grande abraço,
Bruno Bento.
O BEBÊ DE ROSEMARY
Texto retirado da página Cinema do portal Terra em 03/06/2011 do endereço:
http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/bebe.htm
de Roman Polanski
"O bebê de Rosemary" é normalmente classificado como um filme de terror. Nada mais equivocado. Os fãs de terror tendem a ficar decepcionados, pois não há qualquer imagem particularmente aterrorizante no filme. E, bem pior, o rótulo serve para espantar quem desgosta do gênero. Polanski é um mestre da ambiguidade, e não da clareza; da ironia, e não do riso; da intertextualidade, e não das fórmulas clássicas. Polanski é um homem atormentado, com uma vida difícil, cheia de lances dramáticos, mas que, ao transpor suas angústias para o cinema, consegue a façanha de torná-las universais, atemporais e (quase sempre) bem-humoradas.
A vinda do anti-Cristo é, à primeira vista, o tema principal de "O bebê de Rosemary". Alguns chegam a dizer que o filme abriu caminho para os sucessos populares de "O Exorcista" e "A profecia" na década de 70. Mais equívocos. Polanski não está interessado, nem em discutir seriamente o satanismo, nem em espantar o público com exibições circenses de vômitos e levitações. Polanski está interessado em usar o medo do desconhecido como mola propulsora de uma análise devastadora da família norte-americana, de seus sonhos pequeno-burgueses, de suas aspirações tão conhecidas, domesticadas e inofensivas. Em "A dança dos vampiros" o vampiros são tratados com total descrédito – um é gay, outro não acredita em Deus, nem tem medo da cruz. Em "O bebê de Rosemary" o diabo vai nascer da barriga de Mia Farrow! Querem coisa mais inverossímil?
O que torna "O bebê de Rosemary" um clássico? Um poderoso conjunto de fatores, em que é possível destacar:
1) o roteiro de Polanski, que mantém o suspense sempre crescendo, e o espectador cada vez com mais raiva da sonsa da Rosemary;
2) atuações muito boas de Mia Farrow (provavelmente a melhor da sua carreira), John Cassavetes e Ruth Gordon;
3) direção primorosa, que coloca a câmara sempre no lugar certo e consegue um ritmo fantástico para um filme que se passa quase todo dentro de um apartamento;
4) o humor permanente, que não causa risadas, e sim a sensação agradável de acompanhar uma história totalmente realista, mas que não leva a sério seu próprio argumento.
Polanski ainda nos oferece um dos melhores finais de filmes da história. Quando Rosemary finalmente vê seu bebê no berço negro e confirma todas as suas suspeitas, tem a chance de escolher entre dois caminhos: ou renega seu filho, partindo para o confronto com os feiticeiros, numa atitude católica e moralmente defensável; ou deixa seu instinto maternal falar mais alto, seguindo um caminho de sombras e pecados. Mia Farrow sorri, terna, para o bebê, a câmara abandona o apartamento e Polanski mostra como se termina um filme mantendo a espinha ereta e o coração tranquilo. Alguns críticos dizem que ele cansou. Eu ainda tenho esperança. Longa vida para Roman Polanski.
Ficha técnica:
Roteiro: Roman Polanski, com base no romance de Ira Levin; Fotografia: William Fraker; Música: Krysztof Komeda; Produção: William Castle (Paramount); Duração: 137 minutos; Elenco: Mia Farrow (Rosemary), John Cassavetes (Guy, seu marido), Ruth Gordon (Minnie Castevert), Sidney Blackmer (Roman, seu marido), Maurice Evans (Hutch), Ralph Bellamy (dr. Sapirstein), Charles Grodin (dr. Hill).
Onde ver:
- alugando a fita nas boas locadoras de vídeo.
- Na Net (TV a cabo), canal Telecine 2, o filme está programado para o dia 25/11 às 4h50 da tarde e à 1h20 da madrugada; e dia 26/11 às 9h30 da manhã.
LEIA MAIS: Roman Polanski
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968)
Texto retirado do Meia Palavra em 03/06/2011 do endereço:
http://blog.meiapalavra.com.br/2010/10/03/o-bebe-de-rosemary-roman-polanski-1968/
Roman Polanski é um dos melhores diretores de cinema de todos os tempos. Dizer isso é se unir a um coro de muitíssimas pessoas, do público e da crítica, que sabem que o produto de seu trabalho é algo magnífico, filmes que figuram em listas e mais listas de melhores filmes, melhores diretores etc.
Assisti ontem a O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby), um filme dirigido por Polanski que estreou em 1968, mesmo ano de um dos meus prediletos, 2001 – Uma Odisseia no Espaço; e conta uma história cheia de elementos típicos dos livros de Stephen King (mesmo que há quem vá dizer que essa comparação é uma heresia).
Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) muda-se com seu marido Guy (John Cassavetes) para um novo apartamento que conta com um histórico nada convidativo de eventos sinistros. Nesse novo apartamento, o casal conhece os vizinhos abelhudos Roman e Minnie Castevet (Sidney Blackmer e Ruth Gordon), que passam a fazer parte do dia-a-dia e da vida social do casal, fazendo visitas sem aviso e a todo o momento. A união de Guy e Roman se torna tamanha que problemas vão surgindo no âmbito conjugal.
A toda essa situação com os peculiares vizinhos se junta a gravidez de Rosemary, celebrada tanto pelo casal como pelos enxeridos vizinhos, que, com muita insistência, fazem com que Rosemary se consulte com o Dr. Sapirstein, um médico amigo do casal Castevet. As visitas de Minnie Castevet se intensificam e Rosemary se vê pressionada pela falta de privacidade e até de certas liberdades na sua vida, sendo obrigada a cumprir estranhos tratamentos recomendados pelo Dr. Sapirstein e endossados pela velha Minnie.
Polanski nos traz aqui um filme sinistro, cheio de mistério, que dificulta até mesmo a produção dessa resenha, já que a cada linha o risco de um spoiler aumenta. Grande parte da história se passa no ambiente do apartamento, que passa de um imóvel idílico a uma quase-prisão. O contraste que Polanski faz entre a vida de Rosemary, com uma gravidez estranhamente dolorosa; e o apartamento aconchegante, deixam o filme mais intrigante ainda.
Os eventos misteriosos continuam ocorrendo, parece que tudo o que se encontra fora das quatro paredes está, inexplicavelmente, se fechando para Rosemary, como se o destino quisesse que ela permanecesse dentro do limite das quatro paredes do apartamento. Não pude deixar de me lembrar de Disque M para Matar, do Hitchcock, já que ali, o apartamento, mesmo espaçoso e aconchegante, vai se tornando claustrofóbico e opressor.
Além de ilhada, constantemente aporrinhada pelas visitas de Minnie, pelas recomendações incomuns do Dr. Sapirstein e pelo comportamento incomum de seu marido, Rosemary vai definhando, ficando com olheiras, empalidecendo, e o clímax vai aos poucos se aproximando. Paro aqui para não estragar a diversão de quem ainda não assistiu o filme.
O que mais aprecio nos filmes de Polanski é a capacidade extraordinária que ele tem de narrar uma história. Ele sabe realmente o que deve estar e não estar no desenrolar da trama, nenhum elemento é inserido de forma brusca, eles já foram introduzidos ao longo da história e são amarrados perfeitamente no final dela. Seus filmes “amarram as pontas”, como se diz. O tom de mistério, que aparece também em Chinatown (1974), por exemplo; instiga o espectador ao mesmo tempo em que dá as peças do quebra-cabeça, elas estão ali, colocadas em algum ponto do filme, prontas para serem unidas e fazerem sentido.
Com essa direção precisa e pontual é que Polanski nos brinda com obras primas como essa. O desfecho da história é simplesmente aterrador, vale a pena conferir. Aquele tom sinistro do filme, que começa discreto é elevado a uma sinfonia macabra, que choca mas que força a admitir que Polanski é uma grande diretor.
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