quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um ano de pletora musical

Retirado do  Jornal OTEMPO em 29/12/2011 do endereço:

http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=191699%2COTE&IdCanal=4

Por DANIEL BARBOSA

Trata-se de um processo em andamento já há alguns anos, mas foi em 2011 que o Brasil se consolidou como rota de festivais mastodônticos e atrações paquidérmicas. Concentrados entre setembro e novembro, SWU, Rock in Rio e Planeta Terra promoveram um verdadeiro desfile de estrelas internacionais - gente do calibre de Stevie Wonder, Metallica, Red Hot Chili Peppers e Katy Perry. O público (paulista e carioca, principalmente) ainda pôde conferir, dispersas ao longo do ano, atrações de diferentes gêneros, épocas e latitudes, de Justin Bieber a Slayer.

No primeiro semestre, dois pesos-pesados centralizaram as atenções: Paul McCartney, em maio, e Amy Winehouse, em janeiro. A morte da diva soul, aliás, é outro fato incontornável na retrospectiva musical de 2011. Belo Horizonte entrou, ainda que timidamente, nessa intensa agenda de shows internacionais. Passaram por aqui nomes como Ozzy Osbourne, Judas Priest e Ben Harper, entre outros.

Se por um lado os grandes eventos atraíram as atenções dos quatro cantos do país, por outro, os festivais de menor porte, com foco prioritário na cena independente, se alastraram como epidemia. Há dois ou três anos, não passavam de 20 os que tinham repercussão. Atualmente, são mais de 150, segundos dados da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin). Ela própria, aliás, entrou no foco dos acontecimentos do ano na cena musical quando, há menos de um mês, encarou a debandada de 13 dos principais festivais que a integravam.

As razões dessa dissidência resvalam no Fora do Eixo - a associação de coletivos espalhados pelo Brasil e alguns pontos da América Latina que, ao longo deste ano, engordou, fez e aconteceu, viu seus contornos políticos serem reforçados e - consequência disso - tornou-se alvo de críticas, o que não implica ter perdido o seu potencial de aglutinação e realização.

Seguindo seu curso, a indústria fonográfica manteve o compasso de anos anteriores: aumento de vendas digitais, retração do comércio de mídias físicas, o velho vinil reconquistando e consolidando um espaço próprio e a chegada de serviços como o Grooveshark e Rdio, pelos quais o assinante paga uma mensalidade e tem acesso, via streaming, a vastos acervos musicais.

E por falar em indústria musical, algumas estrelas do primeiro escalão da MPB lançaram novos discos. Entre elas, Chico Buarque, Marisa Monte e Gal Costa, que, nos estertores do ano, há cerca de um mês, apresentou o revolucionário (dentro de sua própria discografia) "Recanto", de forte verniz eletrônico, que caiu nas graças da crítica especializada. Também mereceram efusivos e quase unânimes aplausos por parte de quem está atento ao que acontece no cenário musical brasileiro os paulistanos Rômulo Fróes e Criolo - o primeiro, pelo álbum "Um Labirinto em Cada Pé", o segundo, por "Nó na Orelha".

Em fase de muito trabalho, a despeito da idade, Cauby Peixoto sintetiza outro fenômeno marcante da indústria do disco em 2011: a reposição em cena de artistas representantes de priscas eras da MPB - processo este capitaneado por produtores como Thiago Marques Luiz e Rodrigo Faour e por selos como o Joia Moderna. E, na outra ponta, confirmando a fama de país das cantores, o Brasil viu a estreia em disco de vários novos nomes, como Ana Cristina, Roberta Nistral, Luzia e Maíra Freitas, entre outras.

Cena mineira em ebulição

Juliana Perdigão lançou álbum próprio e com o Graveola

 

Cabe dizer que, na retrospectiva musical de 2011, Minas Gerais é um caso à parte. Possivelmente não houve outro Estado do país com um cenário tão movimentado e profícuo quanto o que vicejou por essas plagas. Para se ter uma ideia, o espaço aqui seria insuficiente para listar todos os grupos e artistas e os respectivos álbuns que lançaram este ano. E a ebulição criativa se dá em todos os gêneros.

Lô Borges, com seu "Horizonte Vertical", evoca o Clube da Esquina, Aline Calixto, com "Flor Morena", representa o samba, Renegado, com "Minha Tribo É o Mundo", e Julgamento, com "Muito Além", falam pelo hip hop. Para além dos rótulos, Garbo, Ram, o baterista Neném, Gustavo Maguá, 4Instrumental, Transmissor, Graveola e o Lixo Polifônico, Juliana Perdigão, The Hell’s Kitchen Project, Patrícia Ahmaral, Capim Seco, O Melda e muito mais gente trouxe à luz novos discos - em alguns casos, o de estreia.

São vários os possíveis fatores para toda essa movimentação. O bom andamento do programa Música Minas e as ações em bloco do Fórum da Música de Minas Gerais certamente são um deles. A articulação de coletivos em Belo Horizonte e cidades do interior, ligados ao Fora do Eixo, e o consequente incremento do circuito de festivais é outro.

Com espaço para tocar e a possibilidade de formar um público cativo, é natural que os artistas queiram mostrar seus trunfos. E as maneiras são as mais variadas possíveis. O Graveola, por exemplo, elegeu a comunidade Dandara para fazer o show de lançamento de "Preciso de um Liquidificador", agregando conteúdo político à sua arte.

Além da ebulição criativa e da consolidação de novos nomes na cena (alguns nem tão novos assim), como Zimun, Fusile, Dibigode, Iconili e Fred Heliodoro, entre muitos outros, o que se firmou também foi o calendário de shows e festivais. Foram vários, de todos os tipos e para todos os gostos, ao longo do ano: Conexão Vivo, Music Station, Flaming Night, Eletronika, Compositores.BR, Série Instrumental são apenas alguns deles.

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