segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pará restaura obra de Antonio Giuseppe Landi

Retirado do Luis Nassif Online em 09/01/2012 do endereço:

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/para-restaura-obra-de-antonio-giuseppe-landi

Do Cumunità Italiana

Amazônia à bolonhesa

Por Cintia Salomão Castro  

ImageReinauguração da Casa Rosada homenageia a obra do arquiteto de Bolonha que mudou para sempre a paisagem da capital do Grão-Pará e foi o primeiro a romper com o barroco em solo brasileiro

Quando veio para o Brasil contratado a mando do rei de Portugal, que acabara de assinar o Tratado de Madrid com a Espanha e queria estabelecer os limites de fronteira no território do império, provavelmente, o bolonhês Antonio Giuseppe Landi não imaginava o quão mudaria a paisagem da capital do Pará. O arquiteto da Academia Clementina, uma das mais prestigiadas escolas de arte do século XVIII, era aluno do famoso mestre Fernando de Bibiena (1659–1739). Sua obra reunia elementos que o aproximavam de um estilo que começava a ser esboçado e surgiria com força nas décadas seguintes nas cidades europeias — o neoclassicismo. Por isso, Landi é o autor das primeiras manifestações de rompimento, no Brasil, com o então onipresente estilo barroco.

p>Para homenagear o artista italiano e sua obra, acaba de ser inaugurada a Sala Bolonha, situada na Casa Rosada, uma construção do século XVIII cuja decoração erudita é atribuída a Landi. A restauração conta com pinturas e decoração do professor Pietro Lenzini, da Academia de Belas Artes de Bolonha, auxiliado por Giorgio Drioli.

A abertura do espaço fez parte do Momento Itália-Brasil e contou com a presença do embaixador Gherardo La Francesca, no dia 8 de dezembro. O arquiteto Pietro Lenzinni chama atenção para o fato de Landi, aluno de Bibiena, ter aprendido a padronizar muito bem a pintura ligada ao teatro, criando um espaço virtual por meio da dilatação do espaço real, o que é tipicamente bolonhês. “Na decoração na Casa Rosada procuramos misturar itens prospectivos com elementos vegetais da floresta amazônica. O espaço será decorado completamente, do teto às paredes, para criar essa virtualidade total e um espaço muito sugestivo”, explicou Lenzini em um vídeo publicado no YouTube, gravado durante a execução dos trabalhos no local, em setembro.

Erudição fez a diferença

O autor do projeto de decoração da Sala Bolonha e pró-reitor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará, Flávio Sidrim Nassar, explica que a grande diferença entre Landi e os artistas do mesmo período que atuavam nas cidades brasileiras era sua formação erudita. — Landi fez uma arte única na história do Brasil, por conta de sua formação erudita, ao contrário daqueles que trabalhavam naquela época, como Aleijadinho. Em Belém, Landi projeta o quartel, o Hospital (Real), o Palácio dos Governadores, a Catedral, as casas senhoriais, as igrejas de conventos, os engenhos. Ele era o “Niemeyer” da nova capital do estado do Grão-Pará — explica, ao lembrar que o italiano chegou ao Brasil logo após a capital da região ter sido transferida da cidade de São Luís para Belém, em 1753.

Ecos de Bolonha em LisboaAntes de chegar ao Norte brasileiro, o bolonhês passou dois anos em Lisboa, onde já havia italianos em atividade, como Filippo Terzi, construtor da igreja de São Vicente de Fora, e até mesmo o filho do mestre de Landi, Francesco Bibiena. Giovanni Carlo Galli Bibiena projetou a Ópera do Tejo, mas o faustoso teatro da corte foi destruído sete meses após a inauguração durante o devastador terremoto que atingiu a capital portuguesa em 1755. O chefe da missão que trouxe Landi ao Brasil como cartógrafo e naturalista era Francisco Xavier de Mendonça, irmão do Conde de Oeiras, o futuro Marquês de Pombal, que desenvolveu uma ampla reforma nos domínios lusitanos. 

Os portugueses pediram ao italiano que voltasse à Europa, mas o italiano, sempre adiando o retorno, acaba ficando no Brasil, onde casa-se por três vezes, tem duas filhas e falece em 1791.Por conta dessa ponte entre a coroa portuguesa, Bolonha e Belém, podemos identificar os mesmos traços artísticos da Academia Clementina em Lisboa e em monumentos da capital do Pará, como a igreja de São João Batista.— A primeira Academia de arte papal é a de São Lucas, em Roma, na qual vem a nascer o Barroco, com todos os seus “excessos”.

A Clementina parte em busca de um estilo próprio, começa a “limpar” aqueles excessos e adota um perfil neoclassizante, o estilo precursor do neoclassicismo — explica o arquiteto Nassar, coordenador do Fórum Landi, criado durante o Seminário Internacional Landi e o século XVIII na Amazônia, que reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros em Belém, em 2003. O grupo é formado por pesquisadores, professores e alunos interessados na História da Amazônia no século XVIII, e conta com a parceria da Universidade de Florença e Bolonha, além da Fundação Ricardo Espírito Santo em Lisboa. A realização de estudos que visam a recuperação, revitalização e conservação integrada do legado arquitetônico e artístico de Landi está entre os objetivos do Fórum. 

O acadêmico Landi traçou inovação nos mais de 10 monumentos de sua autoria em Belém, a exemplo da Catedral Metropolitana, da Capela de São João Batista, da Igreja de Santana (sua última obra) e da igreja de Nossa Senhora do Carmo.  O que fazia era completamente novo em comparação ao barroco que predominava no Brasil. Apesar disso, seu trabalho não chegou a influenciar a arquitetura nas outras regiões brasileiras por conta do isolamento que sofriam na época da colônia, explica o Flavio Nassar.— Essa manifestação ficou restrita ao Pará. Naquela época, não havia um sistema de comunicação entre as cidades. A Amazônia sequer fazia parte do Brasil, mas estava inserida no estado do Grão-Pará, com uma administração independente do estado do Brasil, cuja capital era Salvador e, posteriormente, Rio de Janeiro. Belém era uma ilha. Somente no interior do estado se faz notar sua influência.

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