terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Teló, BBB e a "patrulha do bom gosto"

Retirado do Overblog em 24/01/2012 do endereço:

http://www.overmundo.com.br/overblog/telo-bbb-e-a-patrulha-do-bom-gosto#-overblog-15178

Por Marcelo Cabral · Maceió, AL

G. Kapustjanskiy / CC-BY-SA 3.0. Fonte: Wikimedia Commons

“Tenho enorme receio quanto a essa patrulha do ‘bom gosto’ envolvendo música”. Com estas palavras, em seu twitter, o talentoso músico e produtor paulistano Daniel Ganjaman, do núcleo de produção musical INSTITUTO, disse exatamente o que eu estava pensando naquele momento. Nem sei sobre o que exatamente Ganjaman estava falando, mas mandei retweet na hora, dado a alvoroço sobre a “polêmica” manchete de capa da revista Época, que vendia Michel Teló como queridinho da classe média brasileira, o que parece ter ofendido a parcela que se considera mais “pensante” deste mesmo segmento.

Cara, você não gosta da música do Michel Teló? Grande coisa, também não gosto, então, desliga o rádio, muda a estação ou coloca aquele mp3 do Chico Buarque pra tocar no teu som! Não gosta de BBB? Então, Caramba! Muda de canal, e não enche!

Ao bem da verdade, como muita gente que não acompanha este gênero de música, eu também soube de Michel Teló quando vi o garoto estampado na capa da Época, enquanto procurava minha edição mensal da revista Vertigo. Só fui escutar, de verdade, a tal música, muito depois de escutar as indignadas reclamações sobre a canção do rapaz. Coisas incríveis como “isto devia ser proibido”, ou “onde este país vai parar?” e um sem número de posturas deste tipo. A meu ver: Elitistas e preconceituosas, por mais eu que defenda o direito das pessoas manifestarem suas opiniões democraticamente e tal. Afinal, estou fazendo isto agora.

Quanto à música em si, pensei que encontraria uma verdadeira ode ofensiva contra a moral, os bons costumes, e a civilização ocidental como um todo... já estava quase gostando do sujeito. Imagine minha decepção ao encontrar uma dessas canções facinhas e inofensivas, projetadas pra dar certo e colar como chiclete na cabeça e nos quadris do belo povo brasileiro. Super pop. Sucesso total. Qual a surpresa nisso?

Fico pensando que muita gente desta suposta “elite intelectual” poderia colocar suas brilhantes cacholas para pensar coisas mais importantes, em construir soluções para problemas mais relevantes, se é que Teló é problema, eu não acho. Só o setor cultural mesmo, por exemplo, tem várias questões práticas para serem pensadas hoje no país e regionalmente. Muitas das pessoas da “patrulha do bom gosto” reclamam de pagar 20 ou 30 reais para assistir espetáculos de artistas e autores locais, que eles consideram “de qualidade”, em suas cidades, mas estão preocupadas com o que o pessoal escuta no rádio ou assiste na TV.

O mal televisivo do século

Sobre o Big Brother Brasil, mal começou a edição deste ano, já começa a chover emails na minha caixa de entrada. De “intelectuais” indignados com a pobreza de conteúdo, da baixaria, da banalização disso e daquilo, blá, blá, blá.

Pessoal. O BBB esta em sua DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO (12ª) no Brasil. De novo a pergunta: Qual é a surpresa?

É um formato que vingou totalmente na televisão mundial do reality show. A idéia de colocar alguns humanos como ratos de laboratório em um daqueles pequenos labirintos de vidro funcionou. Os outros formatos televisivos passavam por certo desgaste, etc e tal. Alguém surgiu com este formato. Deu certo. Pimba! Enquanto o povo gostar, o pessoal da TV ganha sua grana, os anunciantes vendem seus produtos, quem gosta de assistir tem sua diversão, e todo mundo fica feliz. Fim da história. A mesma coisa com o Michel Teló, o menino tem uma super produção, esquemão profissional, deve estar empregando um monte de gente, de roadie a técnico de som, ao ambulante que vende um rango de rua na saída do show dele. Enfim, deixem o menino ganhar seu dinheiro em paz!

Resumindo então. Meu recado pra “patrulha do bom gosto” é viva e deixe viver meu caro. Escute e assista o que quiser, o controle remoto é sua maior arma, mas não seja o ditador do gosto dos outros. Ou como dizia o poeta, “cada um no seu quadrado”. Se quiser chorar as pitangas do mau gosto nacional, faça isso entre os seus, durante o chá das 17:00h, mas não fica entupindo as redes sociais e indefesas caixas de emails da gente humilde e trabalhadora como eu, de “menas leitxura”, que, certamente, não precisa de sua ação vigilante para nos defender dos males da cultura de massa contemporânea.

O caso Veríssimo

Este, pra mim, foi o cúmulo do patrulhamento. Vejam só. Os patrulheiros chegaram ao ponto de criar textos e perfis fake de personalidades para dar credibilidade a sua propaganda anti-mau-gosto e anti-BBB. O Luís Fernando Veríssimo, conta, via Blog do Noblat, sobre o tal texto atribuído a ele, que não é de sua autoria, mas assinado como sendo dele e que circula na rede, criticando o BBB. No blog, ele diz que as pessoas não se conformam quando ele esclarece que não escreveu aquilo. Muito engraçado. Vale à pena conferir aqui.

Quando digitei o nome do escritor Veríssimo e do popular programa televisivo na busca do Google, o resultado mostrou o texto falso atribuído a Veríssimo, que desce a marreta no BBB, postado e re-postado com orgulho paladino em diversos sites, na sua maioria, religiosos. Parece que finalmente, “intelectuais” e religiosos encontraram uma luta em comum para partilhar. Que Deus tenha piedade de nós.

(publicado originalmente, em versão mais desbocada e sem cortes, no Blog Da Vida e do Mundo).

(Crédito da imagem: G. Kapustjanskiy / CC-BY-SA 3.0. Fonte: Wikimedia Commons - "Soviet soldiers in Great Patriotic War").

2 comentários:

  1. eh isto mesmo,Teloh mais bbb e outras programacoes faceis de ser decoradas andam a mil em nossas salas,quartos ou escritorios, se dispomos de tempo para consumir o que ela a televisao nos quer imbutir no nosso dia dia.Eu em horario destes programas ou estou na calcada conversando com amigos ou dormindo.Eu ja desconfiava muito da beleza da televisao,quando um poeta disse que a televisao nos tinha deixado burro,burro,demais.Desconfiado e agora avisado nao eh para mim questao de o controle remoto ser uma arma para selecionar programacao ,e sim uma questao de livre arbitrio.Se eu ligar terei o que eles propoe,se nao ligar vou para a calcada ou um cafe.

    ResponderExcluir
  2. JJ, é isso aí!
    Não podemos é ficar a todo momento promovendo inquisições e caça às bruxas.
    principalmente porque somos todos as bruxas e sempre poderemos fazer o fogo e terminarmos por lá mesmo, torriscados...
    e vamos fazer outra coisa, quem quiser, quem não quiser, não faça!
    grande abraço.

    ResponderExcluir

Comente