Publicado originalmente por Leonardo Brant no site Cultura e Mercado e retirado em 12/01/2011 do endereço:
A lógica do projeto impera no setor cultural brasileiro. Uma prática que, muitas vezes, resulta na inversão de hierarquia, colocando a questão da sustentabilidade financeira no plano tático e não no estratégico, fragilizando o negócio.
Ancorar um empreendimento em um único projeto, sempre sujeito à desncontinuidade e suscetível a fatores externos, como o balcão da política ou do patrocinador, é sempre algo muito arriscado. É preciso inverter essa lógica, colocando os fatores externos a serviço de um plano estratégico, elaborado para reconhecer e oportunizar os ventos da política e do mercado, sem uma relação de dependência e até subserviência, o que resultaria numa fragilização institucional muito grande.
Um negócio cultural (refiro-me a uma empresa, ONG, coletivo, grupo ou até mesmo uma carreira artística individual) revela-se para a sociedade (e também para o mercado) a partir de um conceito, algo que faça sentido e tenha foco, revelando uma linha de trabalho, uma intencionalidade e um modo de fazer próprio, diferenciado. Esse diferencial precisa ser estrategicamente comunicado à sociedade (sobretudo aos públicos de interesse), traduzindo esse conceito de maneira clara, positiva e proativa.
O financiamento é algo vital ao negócio, diz como ele se sustenta e se estrutura, define a relação com parceiros e o público consumidor. Um bom plano estratégico considera todas as fontes de recursos possíveis e busca o desenvolvimento das ações (e projetos) de acordo com essas possibilidades.
O projeto, portanto, tem uma função tática importantíssima, pois traduz conceito, intenção, linguagem e abordagem. Não é o projeto que dita e conduz o empreendimento, ele apenas sustenta e dá materialidade a um campo de significados do negócio.
E deve considerar todas as possibilidades e movimentos estratégicos de um amplo sistema de financiamento, que leve em conta o mercado, o poder público, os editais, as franquias e produtos, além da prestação de serviços, muitas vezes a principal fonte de recursos do artista.
Quando o projeto assume uma função estratégica o negócio se fragiliza, torna-se refém do humor do mercado e da sorte, quando poderia ser fruto de um conjunto de ações planejadas, ampliando a longevidade, a saúde financeira e presença na sociedade.
Não quero dizer com isso que o projeto não possa (e não deva) ser estratégico. Pelo contrário, ele apenas será estratégico se cumprir bem sua função tática. Não quero dizer também que não devemos desenvolver estratégias de negócios específicas para o projeto, alinhadas com o empreendimento, mas respeitando suas especificidades e sua capacidade de dialogar com financiadores e o público em geral.
Leonardo Brant http://www.brant.com.br
Pesquisador independente de políticas culturais, autor do livro "O Poder da Cultura", diretor do documentário "Ctrl-V | VideoControl, criou e edita este "Cultura e Mercado". É sócio-diretor da Brant Associados, consultoria de negócios culturais. Para mais artigos deste autor clique aqui
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