Publicado originalmente por Leonardo Brant no Cultura e Mercado em 08/05/2011 do endereço:
http://www.culturaemercado.com.br/conversacao/comecodeconversa/altos-e-baixos-de-ana-de-hollanda/
Entrevistei a ministra da Cultura ontem (quinta 5/5) à noite. Para os que dizem que sou próximo e muito ligado ao ministério, quero que saibam que estou tentando essa entrevista desde antes da sua posse. Fui praticamente o último veículo a receber as palavras oficiais da Ministra. É claro que não gostaria de entrevista-la numa situação como esta, em pleno processo de desgaste, com um bem sucedido plano de golpe de Estado, não por acaso liderado por pessoas ligadas e patrocinadas pelo ex-ministro Juca Ferreira.
Queria extrair as ideias da ministra, suas propostas e visões sobre o futuro do MinC. Mas é claro que a conversa foi dominada pela crise. Antes de publicar a entrevista, quero deixar algumas considerações sobre o meu comportamento em relação à gestão do #novoMinC.
Venho adotando uma postura de oposição ao #foraanadehollanda, não por acaso geneticamente ligado ao golpe maior, chamado #ficajuca. Há uma coerência nessa posição. Uma vontade de retomar o projeto de Estado desenhado por nós, da sociedade civil, e bem reverberada no primeiro mandato do governo Lula. Este projeto é da sociedade, dos trabalhadores de cultura, dos movimentos sociais. Não pertence a um mandato, partido, mercado. É de todos nós. E é por ele que me coloco, sem medo de enfrentar as feras e sob o risco de acertar pessoas inocentes e bem intencionadas, que caem na rede por convicção ou mera ingenuidade.
Não sou defensor da ministra. Tenho uma visão crítica sobre a sua gestão, sobretudo no que tange a comunicação com a sociedade. Considero a crítica algo natural da democracia, serve para auxiliar a construção das políticas culturais. Não imagino qualquer proposta que não leve em conta a pluralidade de opiniões. E não imagino qualquer outro ministro imune às críticas.
Mas é inaceitável o movimento que ganhou forma antes mesmo da posse da ministra para derruba-la, valendo-se de instrumentos eticamente questionáveis, como a dissimulação de factoides, trollagem e ofensas pessoais. Ana de Hollanda faz um paralelo entre os movimentos difamatórios contra Dilma na campanha eleitoral. Natural que isso aconteça, pois o clima deixado por seu antecessor é mesmo de disputa eleitoral.
Mobiliza Cultura constitui o ápice desse movimento golpista, pois não tem qualquer proposta efetiva, não se baseia em fatos ou em discursos oficiais, mas em especulações e teses conspiratórias infundadas, para criar um ambiente de instabilidade institucional, o que apenas amplia as dificuldades de um ministério estraçalhado pela voracidade e improbidade do ex-ministro em busca de mais e mais poder.
Durante a semana que vem publicarei o resumo da entrevista, mas quero adiantar alguns pontos, já publicados em meu twitter (@lbcem). A primeira parte da conversa, foi um balanço dos primeiros 4 meses de gestão. A ministra foi ágil ao reformular o ministério, reunindo programas similares numa nova Secretaria, da Cidadania e Diversidade Cultural. E principalmente ao gerar uma nova secretaria, da Economia Criativa, dando vazão a uma nova plataforma de desenvolvimento pela via da cultura.
A questão dos direitos culturais e da cidadania são prioridade, diz a ministra. Ela se queixa de não ter tido oportunidade maior de colocar publicamente o projeto das Praças do PAC, criadas por Lula e Dilma para dar vida e humanizar o projeto de desenvolvimento brasileiro. É o primeiro projeto de escala a atacar de frente o problema da infraestrutura cultural no país.
Cidadania cultural se faz com apoio ao consumo e à criação, diz a ministra. A valorização da criação e dos criadores é outro ponto fundamental de sua política. Ana de Hollanda se mostra preocupada com a dignidade e a sustentabilidade de quem cria, ao mesmo tempo que promete se empenhar em garantir espaço para todos que desejam criar e viver dos processos criativos. Há algo de novo no discurso do #novoMinC que não foi bem absorvido pela sociedade.
Falamos sobre a associação da ministra com o ECAD, que ela declara ser injusta. “O tipo de ligação que tenho é a mesma que Gilberto Gil tem”, diz. Ela diz que vai supervisionar o órgão arrecadador, mas ainda não definiu a forma. “Isso ainda está em debate e será construído em diálogo com o Congresso e a sociedade”. A ministra falou das lacunas deixadas pelo Projeto de Lei encaminhado pelo ex-ministro ao apagar das luzes e sua vontade de abrir a discussão com todos os agentes interessados e implicados no processo. Quem leu o PL sabe que há uma distância muito grande entre o discurso do ex-ministro e o texto do PL, a exemplo do que aconteceu com o Procultura.
Perguntei como está a relação dela com a presidenta Dilma. Ela afirmou que tem recebido solidariedade do gabinete e da própria presidenta, com quem esteve num almoço oferecido ao presidente da Alemanha e alguns ministros. E disse que o governo não enxerga o movimento como crise, mas sim como “um movimento orquestrado para desestabilizar o governo”.
Leonardo Brant http://www.brant.com.br
Pesquisador independente de políticas culturais, autor do livro "O Poder da Cultura". Diretor do documentário "Ctrl-V | VideoControl, criou e edita o site Cultura e Mercado. É sócio-diretor da Brant Associados, consultoria para desenvolvimento de negócios culturais. Para mais artigos deste autor clique aqui
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