terça-feira, 17 de maio de 2011

ARMELAU FICA PARA O ALMOÇO

Originalmente publicado no blog do Jefh Cardoso e retirado em 17/05/2011 do endereço:

http://jefhcardoso.blogspot.com/2011/05/armelau-fica-para-o-almoco.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+Jefhcardoso+%28jefhcardoso%29

Dona Afonsa surgiu no alpendre aos brados convidando o genro e Armelau para o almoço: _Almir, venha almoçar, e traga esse seu amigo! Andem logo que a comida está esfriando. Comida fria é uma bosta! E do mesmo jeito que a mulher surgiu desapareceu casa adentro.

Armelau esboçou uma discreta menção de recusa ao convite. E teria recusado, caso Almir não o tivesse envolvido pelo pescoço e exclamado em tom benevolente que era ele seu convidado de honra.

Armelau já estava ali sem sequer antes ter avisado - bem que ligou para o celular do amigo, mas sabia que era costume dele deixá-lo mais desligado que ligado; todas as suas tentativas tiveram como destino a caixa de mensagens. Decidiu tentar a sorte. E assim foi mesmo sem avisar. Mas agora, almoçar seria algo um tanto confiado demais.

Muito constrangido, Armelau atravessou a sala e um longo corredor até chegar à cozinha debaixo do braço de Almir.

Armelau perguntou onde poderia lavar suas mãos. Almir mostrou o corredor pelo qual o trouxe e disse para que o amigo retornasse e adentrasse à primeira porta à esquerda. Armelau retornou, adentrou, encostou a porta, e dirigiu-se ao lavabo. Em uma espécie de concha marinha de metal repousava um sabonete amarelo gema de ovo. Chamou-lhe a atenção um cabelo grosso, crespo e de coloração ruiva que estava sobre a superfície do sabonete. Armelau curvou-se para observar o cabelo mais de perto. Foi quando notou na outra extremidade da barra uma espécie de pequeno anel vegetal de cor verde. Parecia um aro de corte de cebolinha achatado, porém a cor era verde musgo e não clara conforme são as verduras frescas. Armelau olhou para o espelho acima do lavabo e viu uma face enojada e um par de olhos arregalados.

Olhou em redor e notou que ao lado do vaso havia uma grande pilha de revistas de celebridades e um cesto transbordante de papéis usados. Abriu a torneira e apenas molhou as mãos; - havia decidido não usar o sabonete - molhou-as e enxugou-as na toalha de rosto branca felpuda que estava em um suporte prata de argola ao lado do espelho. Sentiu que a toalha, além de recolher a água que lhe umedecia as mãos, lhe transferiu um pequeno fragmento pegajoso e gosmento. Era marrom esverdeado o fragmento. Devolveu lentamente a toalha ao suporte. Com as pontas dos dedos, explorou-a diante de seus olhos cada vez mais arregalados. Notou que aquela coisinha de cor caramelo não era a única coisa gosmenta na felpuda toalha. Havia mais de três pequenas áreas onde os fiapos da toalha estavam conjugados por uma espécie de glacê em parte vítreo, em parte amarelo.

Armelau, aflito, molhou novamente as mãos em água abundante e, em seguida, esfregou-as em sua calça jeans preta desbotada. Tenso, via no espelho seus grandes olhos quase saltarem das órbitas. Respirou fundo, contou até seis, e deixou o banheiro indo de volta à cozinha. Lá chegando, deparou-se com o amigo que, sentado à mesa, vendo a calça úmida de Armelau, perguntou à esposa se por acaso não havia toalha no banheiro. Lílian disse em tom ríspido que era claro que havia.

Dona Afonsa repousava uma grande travessa de quiabo cozido com músculo de vaca quando teve um acesso furioso de tosse.

Obs. Será que Armelau gostará da comida? Será que a comida ainda estará quente? Não perca a continuação desta onírica saga de Armelau.

ObsII. A foto que ilustra a postagem fora realizada, com permissão da secretária, dentro da Galeria Municipal de Arte de Itajaí S.C, em Janeiro deste ano. O quadro fotografado é de autoria do artista Venâncio Domingos Neto. E a canção que eu recomendo para acompanhar o todo é Bachianas, da obra de Heitor Villa Lobos.

No Twitter: @Jefhcardoso74

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Um comentário:

  1. Agradeço imensamente por mais esta oportunidade que muito me honro em desfrutar. É muito bom ter novamente um texto de minha autoria neste espaço que é todo da cultura. Um grande abraço, Bruno Bento! Obrigado!

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