segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

" Almanarte" mostra cultura popular do Norte e Nordeste de Minas

Publicado originalmente no site do IDENE e retirado em 03/01/2011do endereço:

http://minassistemas.com.br/idene/ler.php?id=701

 A arte e a cultura enraizada nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e no Norte de Minas, foram traduzidas em uma obra lúdica, no formato dos antigos almanaques, que recebeu o nome de ALMANARTE - Saberes e Fazeres da Cultura Popular. A publicação, do sistema Sedvan/Idene, foi lançada em Belo Horizonte, pela Editora Crisálida, e é dirigido aos alfabetizadores e alfabetizandos do Programa Cidadão Nota Dez – Por um Brasil Alfabetizado.

O ALMANARTE foi escrito com o objetivo de ampliar o conceito de cultura no âmbito do Cidadão Nota Dez de modo a levar os participantes – alfabetizador e alfabetizando – a se reconhecerem como seres e sujeitos culturais, estimulando o (re)conhecimento de suas raízes e sua linguagem própria.  “Isto porque muitos saberes e fazeres da cultura popular estão se perdendo devido a inúmeros fatores como as migrações do campo para a cidade, a valorização do progresso técnico obtido à custa da identidade do cidadão e da coesão familiar, algumas práticas religiosas, que, por vezes, impõem restrições, dentre outros fatores” Explica Cid Wildhagen, organizador do livro.

Partindo desse pressuposto, o livro foi cuidadosamente elaborado com base nas colaborações dos moradores locais, e passeia por assuntos vários: estórias, receitas, parlendas, causos, músicas, figuras, charges, festas, fábulas, saberes e sabores, tudo muito peculiar, buscados nas raízes de uma cultura. 

De acordo com Oséias Ferraz, editor do trabalho, a ideia foi sair do viés acadêmico das edições anteriores realizada pelo sistema SEDVAN/IDENE e fazer um projeto mais lúdico e atraente. Segundo ele, um almanaque contém todas as informações relevantes, infográficas, pictográficas com um tom de humor, no agrado de qualquer leitor. “No ALMANARTE a informação tem um olhar de fora, das pessoas que participaram da execução do projeto, e um olhar de dentro, representado pelos textos enviados pelo povo simples da região: os artesãos, educadores, feirantes, donas de casa, benzedeiras”, informa o editor. “Há inclusive participação dos alunos alfabetizados pelo programa Cidadão Nota 10. Eles se tornaram, assim, atores e autores de suas próprias histórias”. 

Para Pablo Matos Camargo, responsável pelo registro sobre as comunidades Quilombolas, o resultado final superou todas as suas expectativas. “A obra tem uma linguagem acessível, inclusive para os próprios quilombolas. São estórias, curtas, ilustradas, fugindo do tradicional e resgatando os almanaques antigos”, comemora.  Pablo diz que “os Vales e o Norte de Minas são detentores de imensa riqueza cultural e representam uma ‘ilha’ que, reflete um pouco do Brasil: com a presença de europeus, índios e africanos”. O pesquisador lembra que o Vale do Gurutuba, no Norte de Minas e o médio Jequitinhonha têm a maior concentração de comunidades quilombolas do país. “É um caminho para divulgar uma cultura desconhecida pela maioria dos brasileiros”, conclui. 

Walter Adão, diretor-geral do IDENE, recomenda a leitura do ALMANARTE: “é um lindo livro! Faz bem aos olhos e à alma. Ações como essa reproduzem uma série de valores que a política pública em si não daria conta de realizar”. Para Ronaldo Cardoso, funcionário do IDENE, a grande importância de um lançamento como esse está “no recorte de interioridade da cultura”. Para ele, o sincretismo que sintetiza culturas, artes, saberes e costumes estão na subjetividade das pessoas, estabelecendo outro diálogo, valorizando o universo das relações. 

De acordo com a Secretária de Estado para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas, Elbe Brandão, “a cultura popular é tudo isso misturado e refletido nos muitos jeitos de ser das populações que vivem nessas regiões. Alunos e professores trazem suas bagagens e histórias. O desenvolvimento de atividades pedagógicas em torno do fazer artístico é uma importante contribuição na formação do espírito de cidadania, porque permite às pessoas se perceberem e se identificarem com sua linguagem, sua história pessoal, familiar e a de sua comunidade”. 

Enfim, uma obra organizada a partir de experiências vividas nos Vales e no Norte de Minas, reunindo humor, leveza e beleza! A publicação reúne tudo, o canto, a dança, os jogos, as práticas religiosas e tudo que se produz têm a função de exprimir a coesão do grupo, além de identificá-lo. Diante destas questões, será possível falar de educação sem integra-la à questão cultural? Certamente não, pois a cultura dá forma e conteúdo à educação.

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