Publicado originalmente por Leonardo Brant no Cultura e Mercado e retirado em 14/01/2011 do endereço:
http://www.culturaemercado.com.br/headline/mais-vida-para-o-cultura-viva/
Um Ponto de Cultura caracteriza-se por ser uma atividade cultural continuada, que age local e pensa global. Faz-se presente nas questões que envolvem a comunidade onde está inserido, articula-se em rede com outros pontos ao redor do país. Mas, no paradigma atual, é, acima de qualquer outra coisa, uma organização conveniada ao Estado. O que deveria ser a resolução de muitos dos seus problemas, acaba se transformando num pesadelo.
Se um Ponto de Cultura é uma atitude, uma modo de ser, pensar e agir a ação cultural local, porque não considerar todos os que fazem a mesma coisa, com a mesma garra e compromisso, Brasil afora. Cultura Viva é um projeto-piloto que deu certo. Seus inúmeros problemas de gestão e falta de institucionalidade são menores diante da sua grandeza de propósitos, mas que ainda fragilizam o programa a ponto de colocá-lo em risco permanente.
O receio de ver o Cultura Viva descontinuado foi tanto que surgiram movimentos e apelos por todo o Brasil. Ana de Hollanda foi taxativa ao dizer que vai continuá-lo, mas não foi condescendente com os erros que o colocaram na delicada condição em que se encontra. Continuar não é repetir, é melhorar!
Por isso, venho propor, no melhor espírito provocador desta coluna, a criação de uma Rede Nacional de Pontos de Cultura (que já existe mas precisa ser reinventada). Para se cadastrar, basta estar organizado como um empreendimento cultural local sintonizado com a comunidade e com o mundo. Precisa ter atividades organizadas e concordar com o manifesto de criação do Cultura Viva. Quem acessa são as pessoas físicas, organizados em grupos, ou Pontos de Cultura.
Imagino que existam cerca de 20 mil Pontos de Cultura pelo Brasil (este número pode ser muito maior). Em cada município há de haver pelo menos um. O Cadastro não é para enquadrar, é para conhecer, dar vazão às necessidades e questões de interesse dos Pontos. Sai o Estado que pune e dificulta e entra o que quer dialogar, colaborar e buscar soluções coletivas para questões que afligem os cidadãos e os movimentos organizados de cultura, sem uma relação clientelista, de balcão e por demanda. E passa a olhar o programa de forma mais ampla, com escala e abrangência nacional.
Há os que precisam de capacitação, outros de biblioteca, infraestrutura, acesso à rede. Os que tem vocação para a prestação de serviços, outros para a memória, ou mesmo para a criação artística. As necessidades são infinitas, mas as prioridades só serão conhecidas a partir de uma ampla investigação junto aos próprios Pontos. Isso ajudaria a moldar ações programáticas para atender as prioridades.
O ambiente de rede já não é mais o que era há 6 anos, quando o Cultura Viva foi lançado. O Twitter, o NING, o Facebook e tantas outras ferramentas existentes e à nossa disposição estão aí para demonstrar a grande potencialidade da atuação em rede. A experiência do Cultura Digital já é suficiente para compreendermos esse pontecial.
O setor cultural, que inclui os agentes organizados por Pontos de Cultura, mas também os artistas e agentes culturais presentes em outras plataformas e nós de criação, precisa ampliar o seu potencial criador a partir das redes, além de fazer política, negócios, diálogos e pensamentos compartilhados. Para isso, é preciso participar intensamente do plano de Banda Larga, oferecendo conteúdo, articulação e soluções além das planejadas e construídas pela mídia tradicional e pelas organizações que distribuem sinal e conteúdos culturais formatados e estabelecidos (e terrivelmente concentrados).
Assim, o Estado retira os Pontos da lógica da competição (editais) e da representação (fóruns e aparelhamentos de partidos e grupos de interesse), promovendo atendimento universalizado, com ações continuadas e estruturantes, sobretudo de capacitação, que permitiria um salto qualitativa na própria relação com o Estado, e também com um novo mercado quer precisa ser moldado pelas novas práticas culturais das classes sociais emergentes.
Os Pontos de Cultura podem se transformar em grandes catalisadores da função econômica da cultura, mas não necessariamente por uma economia tradicional, concentradora e baseada no consumismo e no mercado de bens industrializados.
É claro que isso não exclui a sua função educativa e cidadã, pois um Ponto de Cultura é, antes de qualquer coisa, baseado no empoderamento dos agentes culturais e suas comunidades.
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